Natal 2025: Importações crescem 21% impulsionadas por eletrônicos de alto valor

A temporada de Natal de 2025 apresenta um aquecimento robusto nas importações de itens presenteáveis (smartphones, jogos eletrônicos, brinquedos, vestuário), […]

A temporada de Natal de 2025 apresenta um aquecimento robusto nas importações de itens presenteáveis (smartphones, jogos eletrônicos, brinquedos, vestuário), totalizando US$618 milhões (FOB) – de julho a outubro de 2025 – um crescimento de 21% sobre o mesmo período do ano anterior.

Em termos de volumetria, o aumento foi discreto de apenas 1%, o que quer dizer que vários itens dessa cesta natalina sofreram com o aumento dos seus preços, Segundo a Logcomex.

No entanto, este crescimento não é uniforme; ele reflete uma mudança estrutural profunda no perfil de consumo. Estamos observando um “Natal Digital”, onde o orçamento familiar foi massivamente realocado de brinquedos tradicionais para eletrônicos de alto valor agregado.

Esta mudança de mix impactou diretamente a logística: a predominância de itens de alto ticket (smartphones e consoles) impulsionou o uso do modal aéreo, com o Aeroporto de Viracopos concentrando 40% do valor desembaraçado, superando os portos marítimos tradicionais.

O fenômeno de substituição tecnológica em presentes de Natal

Os dados indicam uma consolidação do entretenimento digital como o principal item de desejo, em detrimento do brinquedo físico clássico.

  • Eletrônicos em alta: A importação de consoles de vídeo games (NCM 9504.50) disparou 60%, atingindo US$144 milhões, enquanto smartphones (NCM 8517.13) cresceram 23%, somando US$261,2 milhões. Somados, estes dois NCMs representam mais de 65% do total analisado.

O crescimento desproporcional dos consoles sugere o lançamento de uma nova geração de hardware ou redução de preços globais que estimularam a demanda reprimida.

O consumidor está priorizando bens duráveis de entretenimento coletivo/digital em vez de itens de consumo rápido. Este cenário é corroborado pelo aumento de 23% no volume importado.

  • Brinquedos: O setor de brinquedos físicos enfrenta uma retração generalizada, indicando uma mudança geracional nas preferências ou uma saturação destes itens nos anos anteriores.

 A categoria de jogos e brinquedos caiu 12% no geral. Itens clássicos como bonecos (NCM 9503.0022) recuaram 19%, e triciclos/patinetes (NCM 9503.0010) caíram 9%. O único subsegmento de brinquedos que cresceu foi o de “brinquedos com motor elétrico” (+20%).

A queda nas importações de brinquedos tradicionais não é apenas econômica, mas cultural. A criança “sai” da fase do brinquedo físico mais cedo, migrando para telas. O crescimento dos brinquedos motorizados corrobora a tese de que, para vender o brinquedo físico, é necessário agregar complexidade tecnológica.

  • Vestuário e Fast Fashion

O setor de vestuário mostra vigor, mas com uma mudança interessante na composição dos materiais.

  • Sintéticos vs. Algodão: Enquanto as camisetas de algodão cresceram 14%, as camisetas de “outras matérias têxteis” (geralmente sintéticos ou blends) saltaram 61%.

Este dado sugere uma forte influência do modelo de Fast Fashion, onde o custo e a variedade (permitidos por tecidos sintéticos) superam a durabilidade do algodão.

Também pode indicar uma tendência de moda athleisure (roupas esportivas para uso casual), que utiliza majoritariamente tecidos técnicos sintéticos.

Análise importações – Julho a outubro de 2025

A estrutura logística de 2025 foi desenhada para atender a urgência e a segurança de cargas de alto valor.

A dominância aérea e o custo desembarcado

O Aeroporto Internacional de Viracopos foi responsável por 40% (US$247 mi) de todo o volume financeiro, superando o Porto de São Francisco do Sul (22%) e Santos (14%).

O modal aéreo é atípico para grandes volumes sazonais devido ao custo, exceto para eletrônicos (Smartphones/Consoles). A alta densidade de valor desses produtos justifica o frete aéreo para reduzir o tempo de estoque e aumentar a segurança contra avarias e roubos, otimizando o fluxo de caixa.

Concentração de origem e dependência operacional

A dependência da China é acentuada, representando 83% (US$509 mi) das origens. Vietnã e Peru somam apenas 6%.

Uma concentração tão elevada em uma única origem cria gargalos operacionais. A empresa fica totalmente sujeita ao calendário produtivo chinês (feriados como Golden Week) e à disponibilidade de contêineres nas rotas Ásia-Brasil, reduzindo o poder de negociação de frete e flexibilidade em momentos de pico de demanda global.

Logística

O estado de Santa Catarina (SC) concentrou 36% das importações, desproporcional ao seu mercado consumidor, enquanto SP tem 44%. 

O volume de SC via Porto de São Francisco do Sul indica o uso intensivo de benefícios fiscais de ICMS na importação para reduzir o custo final.

Já o volume de SP está estritamente ligado à entrada aérea (Viracopos) para abastecer o maior centro de consumo com velocidade, onde a agilidade de reposição compensa o custo tributário potencialmente maior.

Insights estratégicos

  1. Gestão de portfólio e compras
AçãoFoco EstratégicoItens/CategoriasJustificativa
PararOtimização de capitalBonecos (NCM 9503.0022) e Triciclos/Patinetes (NCM 9503.0010)Reduzir o estoque. Queda estrutural de dois dígitos (Bonecos -19%), indicando baixo giro e capital parado.

Começar

Oportunidade de margem

Vestuário em Tecidos Sintéticos/Técnicos

Investigar fornecedores. Crescimento de 61% indica demanda aquecida, alinhada ao Fast Fashion e/ou Athleisure.

Continuar

Aposta principal
Consoles de Videogames (NCM 9504.50) e Smartphones (NCM 8517.13)Manter a estratégia agressiva. A demanda é elástica (Consoles +60%) e é o principal driver de faturamento (representa mais de 65% do total).
Fonte: Logcomex

2. Logística e redução de custos

    Tipo de açãoFoco estratégicoAção e recomendaçãoJustificativa

    Imediata

    Logística
    Avaliar o impacto do Frete Aéreo no Custo Desembarcado (Landed Cost) dos eletrônicos. Recomenda-se planejar o ciclo de compras de 2026 com 45 dias de antecedência para migrar cerca de 30% do volume de eletrônicos do modal aéreo para o marítimo (SFS ou Santos).Redução drástica do custo de frete por unidade, o que aumenta a margem na ponta final.
    TáticaSegurançaRevisar os contratos de Last Mile, dado o alto volume de eletrônicos concentrado em Viracopos. O transporte rodoviário interno deve priorizar rotas seguras e escolta.A sinistralidade (perdas/roubos) impacta diretamente a disponibilidade do produto na prateleira, além de gerar custos.

    Conclusão

    A temporada de Natal de 2025 não deve ser lida apenas como um período de crescimento de volume (+21%), mas como um ponto de inflexão no comportamento de consumo.

    Os dados confirmam que o mercado de presentes atravessou a fronteira da “digitalização irreversível”: o orçamento das famílias migrou massivamente do brinquedo físico para a experiência digital (consoles e smartphones).

    Para a nossa operação, este cenário trouxe um desafio duplo:

    1. Comercial: A necessidade de aceitar o declínio estrutural dos brinquedos clássicos e evitar o overstock de itens obsoletos.
    2. Operacional: A dependência excessiva do modal aéreo (Viracopos) garantiu a disponibilidade do produto na prateleira, mas a um custo que pressionou as margens.

    O Imperativo para 2026: A vantagem competitiva no próximo ciclo não virá apenas de acertar o mix de produtos — o mercado já sinalizou claramente o que deseja. O diferencial virá da eficiência da cadeia de suprimentos. 

    A organização que conseguir antecipar o calendário de compras de eletrônicos para utilizar o modal marítimo, e diversificar a origem do vestuário para reduzir o lead time, capturará a margem de lucro que, em 2025, foi consumida pela urgência logística.

    A estratégia vencedora será transformar a agilidade reativa deste ano em planejamento proativo para o próximo.



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