Importação de máquinas equipamentos: Análise do comércio global

A importação de máquinas e equipamentos no Brasil atingiu a marca de US$ 22,2 bilhões nos primeiros nove meses de […]

A importação de máquinas e equipamentos no Brasil atingiu a marca de US$ 22,2 bilhões nos primeiros nove meses de 2025 (janeiro a setembro). Este volume representa um crescimento sólido de 10% em comparação ao mesmo período de 2024 (US$ 20,1 bilhões), segundo dados da Logcomex.

No entanto, este avanço apresenta um comportamento assimétrico que merece atenção estratégica de quem atua no setor:

  • Máquinas de Uso Geral: Crescimento robusto de 12% (vs. 2024), impulsionado por investimentos em capacidade produtiva e modernização.

  • Máquinas para Fins Especiais: Avanço mais modesto de 7% (totalizando US$ 8 bilhões – vs. 2024).

A análise conjuntural aponta para dois movimentos simultâneos no cenário de importação de máquinas e equiapamentos:

  1. Um forte ciclo de investimento focado em infraestrutura e construção, evidenciado pelo crescimento de +36% em unidades de ar condicionado e +18,7% em peças para terraplanagem.

  2. Uma demanda aquecida por manutenção e retrofit, indicada pela alta de +24% em eixos de transmissão, superando o crescimento de máquinas novas.

Estrategicamente, esses dados exigem ações imediatas para:

1. Capitalizar sobre o ciclo de construção;
2. Explorar o mercado de aftermarket
3. Mitigar os severos riscos de concentração logística e de fornecimento, com 39% das importações originárias da China e 44% desembaraçadas pelo Porto de Santos.

Como o preço na importação de máquinas e equipamentos variou em 2025?

Entender a variação de custos é essencial para o planejamento. A tabela abaixo detalha o comportamento das principais NCMs na importação de máquinas e equipamentos entre janeiro e setembro de 2025, comparando valores com o ano anterior, segundo a Logcomex:

NCMDescriçãoFOB (US$)Variação % vs. 2024Preço médio (unitário)Qtde comercializada

84159090
Outras unidades de ar condicionadoUS$769 milhões       (+36%)USD 105 – 126298 milhões


84798999 
Outras  máquinas e aparelhos mecânicos com função própriaUS$635milhões      (+5%)USD 13.400– 16 mil3 bilhões


84314929 
Outras partes de máquinas e aparelhos de terraplanagem, etcUS$509 milhões+19%USD 536 – 64213,9 milhões




84834010 
Redutores, multiplicadores, caixas de transmissão e variadores de velocidade, incluindo os conversores de torqueUS$433 milhões (+10%)USD 2.800 – 3.3306 bilhões
84831090Outras árvores (veios) de transmissãoUS$421 milhões (+24%)USD 7.000 – 8.40036,5 milhões
Fonte: Logcomex

Leia também: Proteção siderúrgica, tarifas de 210% do México e mais

O que os dados revelam sobre as tendências do setor?

A análise aprofundada dos dados levanta hipóteses estratégicas cruciais sobre o momento atual da indústria e como a importação de máquinas e equipamentos está respondendo a esses estímulos.

1. Investimento assimétrico (Geral vs. Específico)

O fato de o crescimento de máquinas de uso geral (+12%) superar o de fins especiais (+7%) sugere uma conjuntura focada na modernização da capacidade instalada.

O mercado prioriza otimizar operações existentes em vez de projetos greenfield que exigiriam a importação de máquinas e equipamentos de altíssima especialização.

2. Ciclo de construção e infraestrutura em alta

O crescimento expressivo em categorias específicas aponta para um aquecimento na construção civil e logística:

  • NCM 84159090 (Unidades de ar condicionado): +36%
  • NCM 84314929 (Peças de terraplanagem): +18,7%

A alta simultânea nestes dois segmentos mostra um ciclo de investimento coordenado em infraestrutura e construção comercial/logística

Os investimentos não são isolados; o mercado está demandando equipamentos para preparar o terreno (terraplanagem) e para finalizar grandes estruturas (climatização), sugerindo um pipeline de projetos em execução.

3. Demanda por manutenção (MRO) superando CAPEX

O crescimento na importação de componentes e peças de reposição supera o de equipamentos finalizados.

  • NCM 84831090 (Eixos de transmissão): +24%
  • NCM 84798999 (Máquinas com função própria): +5%

A alta de 24% em eixos de transmissão (reposição) contrasta com o crescimento modesto de 5% em máquinas novas. Empresas focam em retrofit, estendendo a vida útil dos ativos.

4. Risco estrutural (geografia e logística)

A concentração de origem e destino é o principal gargalo na importação de máquinas e equipamentos hoje::

  • Origem: A China responde por US$8 bilhões (39%) do fornecimento.
  • Logística: O Porto de Santos processa US$9,6 bilhões (44%) das entradas.

A cadeia de suprimentos do setor opera com vulnerabilidade estrutural crítica. Qualquer evento negativo na Ásia, ou uma disrupção logística em Santos (greve, clima), tem o potencial de paralisar desproporcionalmente o fornecimento de bens de capital ao país, impactando custos e cronogramas de investimento.

Quais as estratégias recomendadas para a importação de máquinas e equipamentos?

Insight 1: O ciclo de investimento em construção/infraestrutura é um vetor de crescimento confirmado. A demanda por NCMs de climatização e terraplanagem não é pontual, mas sim um indicador de um ciclo de investimento estrutural.

  • Iniciar a alocação de equipes de vendas prioritárias para prospecção ativa de grandes contas nos setores de construção civil, logística (novos centros de distribuição) e infraestrutura.
  • Mudar os modelos de forecast de inventário para as NCMs 84159090 e 84314929. Modelar uma demanda sustentada 20-30% acima da linha de base histórica para os próximos 12-18 meses para evitar rupturas de estoque

Insight 2: O mercado de aftermarket (MRO) está superaquecido e apresenta maior oportunidade de curto prazo do que a venda de máquinas novas. O crescimento de 24% em peças de transmissão indica que os clientes estão investindo em manutenção e retrofit em ritmo acelerado.

  • Lançar campanhas de marketing e vendas focadas no mercado de aftermarket, destacando a disponibilidade imediata de peças de reposição (NCM 84831090) e oferecendo pacotes de serviços de modernização (retrofit) para máquinas existentes.
  • Continuar o monitoramento da proporção entre importação de peças e máquinas novas. Se essa diferença aumentar, sinaliza uma oportunidade de focar ainda mais em serviços e manutenção como principal linha de receita.

Insight 3: A dependência da China e de Santos representa um risco operacional e de custo inaceitável no médio prazo. A concentração de 39% em uma única origem e 44% em um único porto expõe a operação a choques externos severos.

  • Iniciar imediatamente um estudo de dual sourcing para os NCMs de maior volume, qualificando fornecedores em mercados alternativos (EUA, Alemanha, Índia) para mitigar possíveis riscos..
  • Mudar a matriz de risco logístico, tratando a “interrupção do Porto de Santos” como um risco de alto impacto e alta probabilidade. Iniciar a homologação de rotas de importação alternativas (ex: Portos de SC ou PR) como contingência, mesmo que representem um custo marginalmente superior.

 Conclusão 

A análise dos primeiros nove meses de 2025 confirma um cenário de crescimento sólido (10%) para as importações de máquinas e equipamentos – em comparação com o mesmo período de 2024 — porém revela uma complexa dualidade nas estratégias de investimento do mercado brasileiro.

Por um lado, assistimos a um ciclo robusto de investimentos em infraestrutura e construção, abrindo uma clara janela de oportunidade para fornecedores de equipamentos relacionados (climatização, terraplanagem). 

Por outro lado, a demanda por manutenção (MRO) e retrofit de ativos existentes, evidenciada pela alta em peças de reposição, demonstra um vetor de oportunidade de curto prazo possivelmente mais lucrativo e imediato do que a venda de máquinas novas.

A perspectiva estratégica para os próximos trimestres é positiva, mas condicionada à capacidade de gestão de riscos. A severa concentração de fornecimento na China (39%) e de logística no Porto de Santos (44%) são vulnerabilidades críticas que não podem ser ignoradas.

O sucesso exigirá, portanto, uma abordagem dupla: agilidade tática para capitalizar as oportunidades de MRO e do ciclo de construção, e rigor estratégico para iniciar, com urgência, a diversificação da cadeia de suprimentos e a criação de contingências logísticas.


Compartilhe

Assine nossa newsletter

Receba as novidades e promoções exclusivas, fique tranquilo o seu email está seguro com a gente!