A importação de máquinas e equipamentos no Brasil atingiu a marca de US$ 22,2 bilhões nos primeiros nove meses de 2025 (janeiro a setembro). Este volume representa um crescimento sólido de 10% em comparação ao mesmo período de 2024 (US$ 20,1 bilhões), segundo dados da Logcomex.
No entanto, este avanço apresenta um comportamento assimétrico que merece atenção estratégica de quem atua no setor:
A análise conjuntural aponta para dois movimentos simultâneos no cenário de importação de máquinas e equiapamentos:
Estrategicamente, esses dados exigem ações imediatas para:
1. Capitalizar sobre o ciclo de construção;
2. Explorar o mercado de aftermarket
3. Mitigar os severos riscos de concentração logística e de fornecimento, com 39% das importações originárias da China e 44% desembaraçadas pelo Porto de Santos.
Entender a variação de custos é essencial para o planejamento. A tabela abaixo detalha o comportamento das principais NCMs na importação de máquinas e equipamentos entre janeiro e setembro de 2025, comparando valores com o ano anterior, segundo a Logcomex:
| NCM | Descrição | FOB (US$) | Variação % vs. 2024 | Preço médio (unitário) | Qtde comercializada |
84159090 | Outras unidades de ar condicionado | US$769 milhões | (+36%) | USD 105 – 126 | 298 milhões |
84798999 | Outras máquinas e aparelhos mecânicos com função própria | US$635milhões | (+5%) | USD 13.400– 16 mil | 3 bilhões |
84314929 | Outras partes de máquinas e aparelhos de terraplanagem, etc | US$509 milhões | +19% | USD 536 – 642 | 13,9 milhões |
84834010 | Redutores, multiplicadores, caixas de transmissão e variadores de velocidade, incluindo os conversores de torque | US$433 milhões | (+10%) | USD 2.800 – 3.330 | 6 bilhões |
| 84831090 | Outras árvores (veios) de transmissão | US$421 milhões | (+24%) | USD 7.000 – 8.400 | 36,5 milhões |
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A análise aprofundada dos dados levanta hipóteses estratégicas cruciais sobre o momento atual da indústria e como a importação de máquinas e equipamentos está respondendo a esses estímulos.
1. Investimento assimétrico (Geral vs. Específico)
O fato de o crescimento de máquinas de uso geral (+12%) superar o de fins especiais (+7%) sugere uma conjuntura focada na modernização da capacidade instalada.
O mercado prioriza otimizar operações existentes em vez de projetos greenfield que exigiriam a importação de máquinas e equipamentos de altíssima especialização.
2. Ciclo de construção e infraestrutura em alta
O crescimento expressivo em categorias específicas aponta para um aquecimento na construção civil e logística:
A alta simultânea nestes dois segmentos mostra um ciclo de investimento coordenado em infraestrutura e construção comercial/logística.
Os investimentos não são isolados; o mercado está demandando equipamentos para preparar o terreno (terraplanagem) e para finalizar grandes estruturas (climatização), sugerindo um pipeline de projetos em execução.
3. Demanda por manutenção (MRO) superando CAPEX
O crescimento na importação de componentes e peças de reposição supera o de equipamentos finalizados.
A alta de 24% em eixos de transmissão (reposição) contrasta com o crescimento modesto de 5% em máquinas novas. Empresas focam em retrofit, estendendo a vida útil dos ativos.
4. Risco estrutural (geografia e logística)
A concentração de origem e destino é o principal gargalo na importação de máquinas e equipamentos hoje::
A cadeia de suprimentos do setor opera com vulnerabilidade estrutural crítica. Qualquer evento negativo na Ásia, ou uma disrupção logística em Santos (greve, clima), tem o potencial de paralisar desproporcionalmente o fornecimento de bens de capital ao país, impactando custos e cronogramas de investimento.
Insight 1: O ciclo de investimento em construção/infraestrutura é um vetor de crescimento confirmado. A demanda por NCMs de climatização e terraplanagem não é pontual, mas sim um indicador de um ciclo de investimento estrutural.
Insight 2: O mercado de aftermarket (MRO) está superaquecido e apresenta maior oportunidade de curto prazo do que a venda de máquinas novas. O crescimento de 24% em peças de transmissão indica que os clientes estão investindo em manutenção e retrofit em ritmo acelerado.
Insight 3: A dependência da China e de Santos representa um risco operacional e de custo inaceitável no médio prazo. A concentração de 39% em uma única origem e 44% em um único porto expõe a operação a choques externos severos.
A análise dos primeiros nove meses de 2025 confirma um cenário de crescimento sólido (10%) para as importações de máquinas e equipamentos – em comparação com o mesmo período de 2024 — porém revela uma complexa dualidade nas estratégias de investimento do mercado brasileiro.
Por um lado, assistimos a um ciclo robusto de investimentos em infraestrutura e construção, abrindo uma clara janela de oportunidade para fornecedores de equipamentos relacionados (climatização, terraplanagem).
Por outro lado, a demanda por manutenção (MRO) e retrofit de ativos existentes, evidenciada pela alta em peças de reposição, demonstra um vetor de oportunidade de curto prazo possivelmente mais lucrativo e imediato do que a venda de máquinas novas.
A perspectiva estratégica para os próximos trimestres é positiva, mas condicionada à capacidade de gestão de riscos. A severa concentração de fornecimento na China (39%) e de logística no Porto de Santos (44%) são vulnerabilidades críticas que não podem ser ignoradas.
O sucesso exigirá, portanto, uma abordagem dupla: agilidade tática para capitalizar as oportunidades de MRO e do ciclo de construção, e rigor estratégico para iniciar, com urgência, a diversificação da cadeia de suprimentos e a criação de contingências logísticas.