Tarifaço dos EUA: impactos no Brasil

Neste relatório, exploramos os impactos por setor, destacamos os produtos mais afetados e mapeamos alternativas estratégicas, como o redirecionamento para China, Índia e países do Sudeste Asiático. Entenda como transformar essa ruptura em vantagem competitiva com inteligência comercial.

A decisão de Trump de impor tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras marca uma ruptura antes inimaginável na relação comercial bilateral. Para exportadores brasileiros, este cenário exige uma reorientação estratégica imediata, com foco na diversificação geográfica e identificação de novos mercados compradores.

Por décadas, a relação comercial Brasil-EUA operou com tarifas setoriais específicas. A estabilidade tarifária permitiu que as exportações brasileiras alcançassem o recorde histórico de US$ 40,3 bilhões em 2024 (Fonte: Balança Comercial/MDIC).

O tarifaço: 50% a partir de agosto

A tarifa de 50% anunciada em 9 de julho representa a maior imposição tarifária já aplicada por Trump contra um país. A medida será cumulativa às tarifas já existentes, criando uma barreira comercial quase intransponível para produtos brasileiros no mercado americano.

Oportunidades emergentes: o pivô para Ásia

Enquanto os EUA representaram cerca de 15% das exportações brasileiras em 2024, outros mercados asiáticos seguem em crescimento. A China se mantém como o principal destino das exportações brasileiras, absorvendo aproximadamente 28% do total exportado, reforçando seu papel estratégico na balança comercial do Brasil.

Em termos de setores mais relevantes nas exportações brasileiras para os EUA em 2024, os maiores valores FOB (Free on Board) foram registrados em segmentos industriais de alto valor agregado e em commodities estratégicas.

Principais produtos exportados

Impacto setorial imediato

Com o anúncio da tarifa de 50% sobre exportações brasileiras aos EUA a partir de agosto, os setores estratégicos que já operam com margens apertadas diante da concorrência internacional sentirão impactos imediatos — especialmente petróleo, siderurgia e agronegócio.

Setor petroquímico

Em 2024, os EUA representaram cerca de 13% das exportações brasileiras de petróleo bruto, movimentando aproximadamente US$ 7,6 bilhões sem tarifas. Com a imposição de uma tarifa inédita de 50%, produtos como óleos brutos de petróleo, gasolina e derivados enfrentam perda imediata de competitividade frente a fornecedores sem barreiras — como Arábia Saudita, Rússia e Angola.

Impacto imediato:

  • A margem de exportação para os EUA se torna insustentável para muitos players brasileiros.
  • A China, que já absorve cerca de 44% do petróleo exportado pelo Brasil, deve se consolidar como principal destino.
  • Índia e Sudeste Asiático surgem como mercados alternativos com crescimento acelerado na demanda por energia e combustíveis, tornando-se alvos prioritários para redirecionamento.

Oportunidade de negociação:

Dentre os principais produtos que o Brasil destina aos Estados Unidos, o maior deles é o petróleo. No ano de 2024, o Brasil exportou US$ 5,58 bilhões do óleo bruto de petróleo (NCM 2709.00.10) aos norte-americanos. No ano de 2025, de janeiro a maio, o total exportado, por sua vez, foi de US$ 2,14 bilhões. Este número, entretanto, indica uma redução de aproximadamente 20% ao que foi exportado no mesmo período de 2024. 

Este pode ser um indício das dificuldades impostas pelos EUA para a entrada de produtos brasileiros. A nível de oportunidade, é possível observar que mesmo sendo o principal produto exportado para os Estados Unidos, os norte-americanos não são os principais compradores do NCM.

China detém, de janeiro a maio de 2025, 40% do market share do petróleo brasileiro, a nível de volume, enquanto os EUA, 12%. Por outro lado, Espanha aparece com quase 11%. Para exportadores, esta é uma forma de tentar encontrar novos compradores em meio a instabilidade comercial imposta pelo presidente americano.

Setor siderúrgico

A indústria siderúrgica brasileira exportou US$ 4,1 bilhões em produtos para os EUA em 2024, incluindo produtos semi-acabados de ferro/aço, com tarifas já existentes de 7,2%.

A nova tarifa adicional torna a entrada desses produtos praticamente inviável. O setor depende da China como principal destino das matérias-primas (minério de ferro), mas os EUA ainda representam mercado relevante para itens semi-industrializados.

Impacto imediato:

  • Queda abrupta nos embarques de aço ao mercado americano é esperada já no terceiro trimestre de 2025.
  • Empresas exportadoras precisarão adaptar rapidamente suas cadeias logísticas e comerciais, buscando mercados menos tarifados, como Malásia, Emirados Árabes e Turquia.
  • Há pressão para agregar valor internamente, reduzindo a dependência da exportação de commodities e focando em produtos acabados com maior margem.

Oportunidade de negociação:

O setor metalúrgico é o que mais gera atenção à indústria brasileira. Os Estados Unidos detém praticamente um monopólio sobre o aço gerado aqui (NCM 7207.12.00). Só no ano de 2025, o aço brasileiro teve os EUA como destino em 87% das operações, considerando o volume exportado. Polônia e França vêm logo a seguir com 3,3% e 2,5%, respectivamente.

Segundo o Export Intel, são poucos os exportadores, precisamente 4. Todavia, para compreender as nuances desta restrição, novas rotas precisarão ser feitas, e o efeito cascata pode respingar no restante da indústria dependente do metal.

Setor agropecuário

As exportações brasileiras do agronegócio somaram cerca de US$ 140 bilhões em 2024 (valor aproximado para o setor nacional, não confirmado especificamente para exportações aos EUA). Os EUA concentram produtos como café (US$ 1,9 bi), carne bovina (US$ 0,89 bi) e celulose.

A imposição de tarifas de até 10,8% sobre carnes e 9% sobre café cru já pressionava os exportadores — com o novo tarifaço, a viabilidade econômica da exportação desses produtos aos EUA desaparece.

Impacto imediato:

  • Exportadores de café e carne bovina serão os mais afetados, exigindo redirecionamento urgente para China, Europa e países árabes.
  • Produtos com alta sensibilidade a preço no mercado internacional precisarão de suporte logístico e inteligência comercial para penetrar em novos mercados.
  • Acelera-se o movimento de posicionamento premium e certificações ESG, exigidas por blocos como UE e Japão, como diferencial competitivo.

Oportunidade de negociação:

O grão de café (NCM 0901.11.10) tem sido pauta de amplo debate, não somente por conta dos impostos, mas também pela alta do seu preço, impactando não somente o sua produção como também o valor final ao consumidor. 

O Brasil exportou um FOB de US$ 1,02 bilhão de dólares de café para os EUA de janeiro a maio de 2025, ao passo que no mesmo período do ano anterior, o valor foi de US$ 718 milhões. Um crescimento de 42%. O número de operações, por sua vez, subiu de 66 para 80, segundo o Export Intel.

Sob a ótica de oportunidades fora dos Estados Unidos, o Export Intel indica que a nível de volume exportado, os Estados Unidos detêm um share de 16%, enquanto que Alemanha surge como oportunidade através da alta procura, de 14,3%. Itália e Japão vêm logo a seguir, com 8,6% e 6,4%, respectivamente. No total, são 939 compradores do café brasileiro durante os 5 primeiros meses de 2025 que não são dos Estados Unidos.

O setor pecuário tem batido recordes consecutivos no Brasil. Não a toa, o país tem expandido exponencialmente as suas exportações para múltiplos países. Para os Estados Unidos não é diferente. De janeiro a maio de 2025, o aumento de 200% nas exportações de carne bovina indicam como o Brasil precisa urgentemente encontrar um novo mercado para os seus produtos, que somaram um FOB de US$ 675 milhões. 

No período, são 53 compradores americanos da carne bovina brasileira. A nível global, foram 997, o que indica uma forte oportunidade de descentralizar o destino das carnes nacionais. 

China desponta como principal destino global, com 54% do share, em volume. Estados Unidos é justamente o segundo principal importador, mas México e Russia, ambos com 3% do share, podem ser considerados bons compradores para o item.

Estratégias de mitigação e oportunidades

Para exportadores brasileiros, a crise abriu algumas frentes estratégicas:

  • Diversificação geográfica imediata: mercados como Índia, Sudeste Asiático e Oriente Médio apresentam demanda crescente por produtos brasileiros. A identificação de compradores específicos torna-se crítica para manter fluxos comerciais.
  • Retaliação brasileira: a aplicação da Lei da Reciprocidade criará oportunidades para importadores brasileiros buscarem fornecedores alternativos aos produtos americanos, especialmente em tecnologia, químicos e maquinário.

Conclusão

O tarifaço americano, embora disruptivo, acelera a necessária diversificação dos destinos das exportações brasileiras. Empresas que reagirem rapidamente, identificando novos compradores e mercados, podem transformar esta crise em vantagem competitiva duradoura.

Para navegar este cenário complexo, exportadores brasileiros precisam de inteligência de mercado detalhada.

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Fontes:

Agência Brasil/Agência Gov (julho 2025), Valor Econômico (julho 2025), Confederação Nacional da Indústria (CNI), Dados consolidados Perplexity (2025), Balança Comercial Brasileira/MDIC.


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