Insights:
- O Brasil é o terceiro maior exportador de couro do mundo, mas as exportações do setor seguem tendência de queda, acompanhando um movimento global.
- Vietnã e Indonésia ampliam suas importações de couro, indicando mercados potenciais para o Brasil.Apesar do valor agregado da manufatura, as exportações de calçados ainda somam menos do que as de couro, sugerindo oportunidade de crescimento no setor.
- O Brasil não está entre os 10 maiores exportadores de calçados, mas a queda global na produção foi mais intensa que a brasileira, o que indica ganho de participação no mercado.
- Países como China, Índia e Reino Unido, grandes consumidores de calçados, ainda não figuram entre os principais compradores do Brasil, sinalizando potencial para expansão das exportações.
De acordo com dados mais recentes consolidados pela UN Comtrade, o comércio internacional de couro (grupo 611 SICT) vem se retraindo nos últimos anos. Em 2022, na comparação com o ano anterior, o valor total das exportações (FOB) do produto caiu 4,5%, para um montante de US$ 16,7 bilhões, enquanto o das importações encolheu 1,5%, chegando a US$ 17,6 bilhões.
O declínio nas transações do material já vem de mais tempo. Entre 2018 e 2022, as exportações de couro tiveram uma redução média de -7,1%, enquanto as importações, de -6,8%.
Conforme o último relatório anual de estatísticas de comércio internacional da UN Comtrade, o maior exportador mundial de couro é a Itália, responsável, em 2022, por 20,3% do valor de todo o couro vendido internacionalmente, com US$ 3,4 bilhões movimentados. Na sequência estão os Estados Unidos (US$ 1,6 bilhão em exportações; 9,5% do total mundial). O Brasil aparece como o terceiro maior exportador de couro do mundo, com um valor total de US$ 1,2 bilhão, correspondente a 7,3% do montante global.
A China é o maior mercado importador de couro do mundo. Em 2022, segundo dados da UN Comtrade, o país asiático importou mais de US$ 3 bilhões do material. No mesmo ranking, o segundo lugar é da Itália, responsável pela movimentação de US$ 2,2 bilhões em compras de couro. Na sequência estão Vietnã (US$ 1,7 bilhão), México (US$ 603,9 milhões) e França (US$ 573,9 milhões).
Dentre esses países, conforme dados da UN Comtrade, Vietnã e Indonésia apresentam crescimento constante no valor anual de importação de couro no período entre 2018 e 2022, indicando potencial de crescimento desses mercados consumidores.
De acordo com o relatório setorial da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), estima-se que houve em 2023 uma redução de 5,4% na produção mundial do setor, dinâmica também observada nas exportações de calçados, que sofreram retração de 7,8%, no mesmo ano. Ainda segundo a entidade, os volumes de produção (22,6 bilhões de pares) e de exportação (14 bilhões de pares) estão abaixo dos observados em 2019, antes da pandemia de Covid-19.
Uma vez que a retração do comércio internacional é maior do que a queda estimada na produção, entende-se que uma parcela maior da produção foi sustentada pelo consumo interno dos países, na comparação com o ano anterior. Ainda assim, em 2023, estima-se que 62% da produção mundial foi exportada, mantendo o coeficiente de exportação do setor acima do registrado no período pré-pandemia.
De acordo com o relatório World Footwear Yearbook 2023, a China é o maior exportador de calçados do mundo, tanto em valor (FOB) quanto na quantidade de pares vendida a outros países. O Vietnã aparece na segunda colocação sob ambos os critérios.
Comparando-se a posição dos países no ranking de pares e de valor exportados, é possível ter uma ideia da diferença nos preços médios praticados sobre os calçados exportados. Nesse sentido, destaca-se a Itália, 8ª maior exportadora em volume, mas posicionada na 3ª colocação em termos de valor.
No ranking de maiores importadores de calçados, os Estados Unidos ocupam a primeira posição, tanto em termos de valor quanto de pares adquiridos. A Alemanha é o segundo maior importador, também sob os dois aspectos.
De acordo com dados do Trademap, todos esses países tiveram crescimento no volume de importação anual de calçados no período entre 2020 e 2022, indicando potencial de crescimento desses mercados consumidores.
De acordo com dados consolidados pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) no Estudo do Setor de Curtumes no Brasil 2022, a produção de couro bovino (medido em número de peles), entre os anos de 2018 e 2021, apresentou uma retração em todos os tipos (wet blue, semiacabado e acabado).
Ao se observar o movimento dos preços médios (em R$/pele), no entanto, constata-se uma valorização do produto. No período, valor da produção (em R$), segundo o estudo, apresentou um crescimento de 33,4%.
Em 2020, havia 214 unidades produtivas ativas no setor de couro no Brasil, considerando aquelas com mais de 10 funcionários. Dessas, 76 (35,5%) estavam localizadas no Rio Grande do Sul, principal referência na indústria courista. O segundo estado com mais unidades era São Paulo (38), seguido de Minas Gerais (24), Mato Grosso do Sul (11) e Mato Grosso (10).
O CICB, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) mantém um projeto setorial de internacionalização do couro brasileiro, o Brazilian Leather. A iniciativa contempla várias estratégias de consolidação do produto nacional em mercados estrangeiros, como o incentivo à participação de curtumes nas principais feiras mundiais ligadas ao ramo e missões empresariais focadas ao estreitamento de relações entre fornecedores brasileiros e compradores de outros países são algumas delas.
As exportações brasileiras de couro e pele (Capítulo 41 do SH) entre janeiro e agosto de 2024 somaram US$ 851,5 milhões (FOB), o que representa um aumento de 13,7% em relação ao mesmo período de 2023 (US$ 748,7 milhões), mas ainda abaixo do observado nesse intervalo em 2022 (US$ 858,1 milhões), quando as vendas brasileiras para o exterior já haviam retraído -6,93%.
Do montante movimentado, US$ 834.495.025 (98%) refere-se ao grupo ISIC “Curtimento e vestuário de couro; fabricação de malas, bolsas, selaria e arreios”, que apresentou crescimento de 13% no valor FOB entre 2023 e 2024. Outros US$ 16.559.648 (1,9%) é referente a couro e pele destinado a “Processamento e conservação de carne”.
Ainda considerando os primeiros oito meses de 2024, as exportações em peso líquido de couro e pele tiveram alta de 44,7% na comparação com igual período de 2023. A correlação entre valor e volume exportados aponta para uma queda no preço médio dos produtos brasileiros do setor no mercado internacional.
De janeiro a agosto de 2024, os dez principais produtos exportados pelo Brasil no setor de couro e pele, segundo a NCM, foram:
No setor de couro e pele, o maior mercado importador do material brasileiro é a China, que comprou US$ 262,4 milhões nos oito primeiros meses de 2024. O valor corresponde a um terço de todas as exportações brasileiras do setor no período. Na sequência estão Estados Unidos (15%), Itália (13%) e Vietnã (11%).
O Rio Grande do Sul é o principal estado exportador do setor, responsável por US$ 226,2 milhões em vendas ao exterior de janeiro a agosto deste ano. O montante corresponde a 27% de todas as exportações brasileiras. O segundo lugar é do Paraná (17%), seguido por São Paulo (15%) e Goiás (12%).
As importações brasileiras de couro e pele nos primeiros oito meses de 2024 somaram US$ 65,1 milhões (FOB), o que representa um aumento de 33,7% em relação ao mesmo período de 2023 (US$ 48,7 milhões), mas que ainda está abaixo do observado nesse intervalo de tempo em 2022 (US$ 65,1 milhões).
Entre janeiro e agosto de 2024, as importações em peso líquido de couro e pele tiveram alta de 36,5% na comparação com o mesmo período de 2023. A correlação entre valor e volume importados aponta para uma queda no preço médio dos produtos importados.
Os Estados Unidos representam a principal origem do couro importado pelo Brasil, respondendo por mais de 57% de todo o material importado. Nos oito primeiros meses de 2024, foram US$ 36,8 mihões em valor FOB importado dos norte-americanos. Na sequência estão três países vizinhos do Brasil: Uruguai, Argentina e Paraguai.
O principal estado de destino das importações brasileiras de couro é o Paraná, que nos oito primeiros meses de 2024 respondeu por US$ 24,6 milhões em compras do exterior no setor. O montante corresponde a 38% de todas as importações brasileiras de couro e pele. O segundo lugar é do Rio Grande do Sul (35%), seguido por Goiás (7%) e Ceará (5%).
A produção brasileira de calçados, após forte queda devido à pandemia da Covid-19 em 2020, passou por uma retomada nos anos de 2021 e 2022, com crescimentos, em termos de pares, de 14,6% e 3,6%, respectivamente, de acordo com o Relatório Setorial da Indústria de Calçados do Brasil 2024, elaborado pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Apesar desse aumento, o volume de produção não alcançou o nível pré-pandemia (2019) e no ano de 2023 apresentou nova queda, de -2,3%, atingindo 865,6 milhões de pares, de acordo com o estudo. Apesar da retração, a Abicalçados destaca que a queda
brasileira é menos significativa do que a estimada para a produção mundial no mesmo ano, o que sugere um aumento da participação do Brasil na produção mundial de calçados.
Na segmentação da produção brasileira de calçados por unidade da federação, o Ceará liderou o ranking de 2023, com 224,9 milhões de pares fabricados (26% da produção nacional). O Rio Grande do Sul vem na sequência, com 206,6 milhões de pares (23,9% da produção do país).
As exportações brasileiras de calçados (Capítulo 64 do SH) entre janeiro e agosto de 2024 somaram US$ 717,8 milhões (FOB), o que representa uma queda de 19,1% em relação ao mesmo período de 2023 (US$ 887,2 milhões), quando as vendas brasileiras para o exterior já haviam retraído -10,9% após uma retomada pós-pandemia.
Ainda considerando os primeiros oito meses de 2024, as exportações em peso líquido de calçados tiveram redução de 9,6% na comparação com igual período de 2023. A correlação entre valor e volume exportados, no entanto, aponta para um aumento no preço médio dos produtos brasileiros no mercado internacional.
De janeiro a agosto de 2024, os dez principais produtos exportados pelo Brasil no setor de calçados, segundo a NCM, foram:
No setor de calçadista, o maior mercado importador dos produtos brasileiros são os Estados Unidos, que compraram US$ 148 milhões em calçados brasileiros nos oito primeiros meses de 2024. O valor corresponde a um quarto de todas as exportações brasileiras do setor no período. Na sequência estão Argentina (23%), Alemanha (7%) e Paraguai (5%).
Dos dez maiores mercados consumidores de calçados do mundo, segundo o World Footwear Yearbook 2023, China, Índia, Indonésia, Japão, Paquistão e Reino Unido não figuram na lista de principais importadores dos produtos brasileiros, o que aponta potencialidades para a indústria calçadista nacional.
O Rio Grande do Sul é o principal estado exportador do setor calçadista, responsável por US$ 383,3 milhões em vendas ao exterior, 53% do total nacional, de janeiro a agosto deste ano. O montante corresponde a 27% de todas as exportações brasileiras. O segundo lugar é do Ceará (19%), seguido por São Paulo (8%) e Bahia (8%).
As importações brasileiras de calçados nos primeiros oito meses de 2024 somaram US$ 324,2 milhões (FOB), o que representa uma retração de 3,3% em relação ao mesmo período de 2023 (US$ 335,3 milhões), mas que ainda está acima do observado nesse intervalo de tempo em 2022 (US$ 253,3 milhões).
Já a compra de calçados do exterior cresce há pelo menos três anos. Entre janeiro e agosto de 2024, as importações em peso líquido de calçados tiveram alta de 14,7% na comparação com o mesmo período de 2023, quando já haviam avançado 24,4%. A correlação entre valor e volume importados aponta para uma queda no preço médio dos produtos importados.
O principal exportador de calçados para o Brasil é o Vietnã, que responde por mais de 44% dos produtos importados. Nos oito primeiros meses de 2024, foram US$ 142,3 mihões em valor FOB importado dos vietnamitas. Na sequência, entre os maiores exportadores para o Brasil, estão Indonésia, China e Itália.
O principal estado de destino das importações brasileiras de calçados é Minas Gerais, que nos oito primeiros meses de 2024 respondeu por US$ 159,1 milhões em compras do exterior no setor. O montante corresponde a quase metade de todas as importações brasileiras de couro e pele. O segundo lugar é de São Paulo (26%), seguido por Espírito Santo (8%) e Santa Catarina (5%).
O Brasil apresenta um desempenho positivo nas exportações de couro e calçados, sendo o terceiro maior exportador mundial de couro. No entanto, o valor total exportado por ambos os setores tem apresentado uma tendência de queda. Embora essa redução seja um reflexo de um movimento global, o setor calçadista brasileiro demonstra um potencial de crescimento.
O Rio Grande do Sul se destaca como o principal estado produtor e exportador de couro no país, enquanto o Ceará lidera a produção calçadista. O setor calçadista brasileiro, embora enfrente desafios, apresenta sinais de recuperação e valorização no mercado internacional, com uma participação crescente na produção mundial e uma tendência de aumento dos preços dos produtos exportados.
Dentre os dez países que mais importam couro no mundo, Vietnã e Indonésia apresentam crescimento constante no valor anual de importação nos últimos anos, indicando potencial de crescimento desses mercados consumidores.
No setor calçadista, países como China, Índia, Indonésia, Japão, Paquistão e Reino Unido, que estão entre os dez maiores mercados consumidores, não figuram na lista de principais importadores dos produtos brasileiros, o que aponta potencialidades para desenvolvimento de exportações da indústria calçadista nacional.
Iniciativas como o projeto Brazilian Leather, de estímulo à internacionalização do couro brasileiro, podem ser boas estratégias para o desenvolvimento do comércio exterior tanto da indústria coureira quanto da calçadista.
“Políticas de apoio à modernização e de estímulo ao comércio internacional poderiam ser
empregadas pelos governos estadual e federal, no sentido de manter e ampliar a eficiência do processo produtivo da indústria coureira do Rio Grande do Sul e da economia nacional”, já defendia estudo publicado em 2017 por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Os levantamentos sobre o comércio global de couro tiveram como base o grupo 611 do sistema de classificação SICT, conforme utilizado pela UN Comtrade. Para as pesquisas sobre importações e exportações brasileiras, tomou-se o Capítulo 41 do SH (Peles, exceto as peles com pelo, e couros), o mesmo adotado nos relatórios setoriais do projeto Brazilian Leather, iniciativa do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) de internacionalização do couro brasileiro.
Para os levantamentos do comércio exterior da indústra calçadista brasileira, foi utilizado o Capítulo 64 do SH (Calçado, polainas e artigos semelhantes; suas partes), mesma linha adotada pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) em seus relatórios setoriais anuais.
Associação Brasileira das Indústrias de Calçados. Relatório Setorial da Indústria de Calçados do Brasil 2024. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1wCyA1a9RLYq2b_qE-WYQuAMMaeTZp9-V/view. Acesso em: 26 de setembro de 2024.
Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil. Estudo do setor de curtumes no Brasil 2022. Disponível em: https://cicb.org.br/storage/files/repositories/php6PfDVM-cic-institucional-relatorio-semestral-2022-digital-af-compressed.pdf. Acesso em: 26 de setembro de 2024.
GODOY, M. R.; TRICHES, D.; MASSUQUETTI, A.; FERNANDES, J. J.; ANDREIS, A. Análise do setor coureiro brasileiro e gaúcho: uma aplicação do índice vantagem comparativa revelada. Revista Espacios, v. 38, n. 41, abril 2017. Disponível em: https://www.revistaespacios.com/a17v38n41/17384121.html. Acesso em 27 de setembro de 2024.
Ministério da Economia. Exportações Gerais. Comex Stat. Base de Dados. Brasília: Ministério da Economia. 2021-2024. Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/home. Acesso em: 26 de setembro de 2024.
UN Comtrade. (December 19, 2023). Leading importers of leather worldwide in 2022, by country (in million U.S. dollars) [Graph]. In Statista. Retrieved September 26, 2024, from https://www.statista.com/statistics/1043555/leading-importers-of-leather-worldwide/
UN Comtrade. (December 19, 2023). Leading exporters of leather worldwide in 2022, by country (in million U.S. dollars) [Graph]. In Statista. Retrieved September 26, 2024, from https://www.statista.com/statistics/1043663/leading-exporters-of-leather-worldwide/