Importação de Autopeças: Análise do comércio exterior (Jan a set 2025)

Dados da Logcomex apontam que a importação de autopeças apresentou um aquecimento robusto de +17% no acumulado do ano (FOB […]

Dados da Logcomex apontam que a importação de autopeças apresentou um aquecimento robusto de +17% no acumulado do ano (FOB US$7,4 bi) – De janeiro a setembro de 2025 —, descolando-se da estabilidade observada em outros setores industriais.

Este crescimento não é apenas volumétrico, mas qualitativo, indicando uma transformação estrutural na manufatura nacional.

O aumento expressivo em partes de alto valor agregado — especificamente caixas de marcha (+23%) e carrocerias (+21%) — confirma a transição massiva de importação de veículos prontos para operações de montagem local (CKD/SKD), impulsionada pela entrada agressiva de players asiáticos e pelo programa Mover. 

A China assumiu a liderança como principal origem, enquanto o Porto de Santos atingiu níveis críticos de concentração (59%), representando o principal risco operacional da cadeia para o último trimestre.

A nova matriz industrial

A leitura dos dados revela que o Brasil deixou de ser apenas um destino de veículos prontos e consolidou-se como plataforma de montagem. Três fatores explicam o salto de 17% nas importações:

1.  A “Invasão” via Kits de Montagem (CKD e SKD)

A liderança da China (17% de share) valida a hipótese de que as novas montadoras ativaram suas operações fabris em dois regimes distintos para evitar a tarifa de 35% sobre carros elétricos prontos:

  • Regime de Montagem Parcial (SKD – Semidesmontado)

    Evidenciado pelo salto de +21% em Carrocerias (NCM 8708.29.99). As montadoras trazem a estrutura do carro já soldada e pintada para finalizar a montagem no Brasil, ganhando velocidade de entrada (Go-to-Market).
  • Regime de Montagem Completa (CKD – Completamente Desmontado)

Indicado pelo aumento de +23% em Caixas de Marcha (NCM 8708.40.80). Este regime busca o benefício fiscal máximo, trazendo componentes soltos para montagem integral local.

2. O efeito “Mover” e hibridização

O programa Mobilidade Verde acelerou a importação de tecnologias de transição. O aumento em transmissões é compatível com caixas híbridas (DHT), que possuem valor agregado superior às manuais, inflando o valor FOB total.


3. O dilema dos eixos

A queda de -4% nas importações de outros eixos e partes, para veículos automóveis (NCM 8708.50.99) é o contraponto tecnológico.

Veículos elétricos modernos utilizam e-axles (eixos integrados ao motor) ou suspensões independentes, cujas classificações fiscais diferem dos eixos rígidos tradicionais, indicando uma mudança tecnológica no powertrain dos veículos montados no Brasil.

Performance do comércio exterior Jan-Set 2025

Confira, a seguir, o desempenho da importação de autopeças, de acordo com dados da Logcomex:

  • FOB total das importações: US$7,4 bilhões (+17% vs. 2024).
  • Tendência: Alta acelerada, superando projeções de PIB industrial.

Top produtos importados pelo Brasil

NCMDescriçãoValor 2025Var. YoY
8708.40.80Caixas de marchaUS$ 1,8 Bi+23%
8708.29.99Partes de CarroceriasUS$ 959 Mi+21%
8708.99.90Outras partes/acessóriosUS$ 935 Mi+19%
8708.50.99Eixos e partesUS$ 373 Mi-4%
8708.30.90Freios e partesUS$ 372 Mi+21%
Fonte: Logcomex

Principais fornecedores de peças automotivas

  1. China (17% – US$1,2 bi): Líder isolada no ranking, foi a principal fornecedora dos kits SKD/CKD.
  2. Japão (14%): Mostrou resiliência das marcas tradicionais em renovação de frota híbrida.
  3. México (12%): Destacou-se  pela isenção de Imposto de Importação (0%) via Acordo ACE-55 e menor lead time comparado à Ásia. Escolha racional para itens de alta complexidade.

Hub Industrial vs. Hub Fiscal

O Hub Industrial (São Paulo – 42% das importações)

  • Foco em montagem completa e Just-in-Time.
  • Dependência extrema do Porto de Santos (59% do desembaraço nacional). O terminal opera no limite da capacidade. O custo logístico é alto, mas prioriza-se a proximidade com as linhas de montagem do ABC e interior paulista.
  • Alto potencial de line stoppage (parada de linha) por atrasos na atracação.

O Hub Fiscal (Paraná e Santa Catarina – 35% das importações)

  • Foco em eficiência de custo e montagem parcial.
  • PR (15%) e SC (10%) movimentaram volumes desproporcionais ao seu parque fabril local.
  • Utilização, de forma estratégica, dos benefícios fiscais (TTD em SC e Paraná Competitivo) para nacionalizar itens de alto valor (eletrônica e transmissões) com carga tributária reduzida, transferindo posteriormente para outras unidades.

Projeções e cenários para as importações de peças automotivas

1. Previsão de fechamento

Projeta-se que o volume anual ultrapasse a barreira de US$10 bilhões no valor FOB. O último trimestre deve concentrar 30% do volume anual devido à “Corrida da Nacionalização” — antecipação de estoques antes de possíveis ajustes tarifários em janeiro de 2026.

2. Stress test logístico

A combinação de Peak Season de fim de ano com o volume recorde de autopeças criará gargalos severos em Santos a partir de novembro. Custos com Demurrage e armazenagem extra devem impactar o P&L das operações que não descentralizarem cargas.

3. Sazonalidade de reposição

Espera-se um repique nas importações de itens de desgaste (Freios e Suspensão) para abastecer o varejo (Aftermarket) visando as revisões veiculares de férias de verão, equilibrando o mix que foi dominado pela indústria (OEM) até setembro.

Insights 

  1. Blindagem logística: Para cargas com chegada prevista após 15/11, desviar rotas de Santos para Paranaguá ou São Francisco do Sul. O custo extra de frete rodoviário (“transfer”) é inferior aos custos de sobrestadia e risco de parada de fábrica em Santos.

  2. Otimização fiscal: Para importação de Kits de Montagem Parcial (SKD) e componentes de alto valor (Caixas de Marcha), é recomendado o uso da rota por Santa Catarina. A redução da alíquota efetiva de ICMS é a única ferramenta capaz de recompor margens pressionadas pelo frete internacional e câmbio.

  3. Nacionalização de estampados: O volume de US$1 bilhão em “Partes de Carrocerias” justifica o investimento em tooling local. Iniciar RFQ (Request for Quotation) com estamparias de MG e SP para substituir a importação da “casca” chinesa, eliminando custo de transporte de “ar” (volume ocupado por carrocerias vazias).

  4. Auditoria de Ex-Tarifários: Revisar as NCMs 8708.40.80 e 8708.99.90. O alto volume de novas tecnologias sugere oportunidades não aproveitadas de redução de Imposto de Importação para itens sem similar nacional.

Conclusão

Os dados de 2025, apontados pela Logcomex, desenham uma nova estratégia da produção automotiva brasileira. A transição de importador de veículos para montador de kits (CKD/SKD) é irreversível no curto prazo.

O sucesso operacional neste novo cenário depende de duas alavancas: Descentralização Logística (fugir de Santos) e Arbitragem Fiscal (usar o Sul para internalizar ativos caros). 

A inércia em manter fluxos tradicionais resultará em perda de competitividade frente aos novos players asiáticos que já operam com essa lógica híbrida de eficiência fiscal e montagem modular.

Com o Segment Intel – Solução da Logcomex, você tem acesso a dados estratégicos para identificar oportunidades e negociar com mais inteligência e assertividade.

A ferramenta permite a identificação de novos fornecedores e importadores prováveis, análise de preços de mercado, monitorar o volume de importações e mais. Conheça!


Compartilhe