Ceia natalina: Desempenho dos principais produtos no comércio global

O cenário de importação para o Natal de 2025 – Junho a outubro 2025 – foi caracterizado por uma dicotomia […]

O cenário de importação para o Natal de 2025 – Junho a outubro 2025 – foi caracterizado por uma dicotomia clara: deflação e volume nos itens essenciais (Azeites) versus racionalização e conveniência nas proteínas e acompanhamentos. 

Enquanto o Azeite de Oliva tracionou o volume com preços menores, o Bacalhau tradicional cedeu espaço massivo para opções processadas (congelados/filés) e espécies alternativas.

Observou-se também um movimento de retração de investimentos na indústria (queda em máquinas) e cautela em itens de ticket elevado (vinhos premium, queijos nobres e frios), contrastando com “bolsões de crescimento” em produtos de menor desembolso ou conveniência, como preparações suínas (+66%) e farinhas de raízes (+70%).

Além da dicotomia deflação/volume no azeite e conveniência nas proteínas, os dados geográficos revelaram uma dependência acentuada de benefícios fiscais estaduais (com SC e ES dominando a entrada de itens de alto valor) e um fortalecimento do Mercosul (Argentina/Paraguai/Chile) como fornecedor preferencial para itens perecíveis e vinhos, em detrimento da Europa.


Azeite e azeitonas: recuperação e estabilidade

  • Azeites (15092000, 15099090): Foi o grande motor do período. A queda do valor FOB importado (-20% no Extra Virgem e -27% em Outros) destravou a demanda reprimida, gerando aumento de volume (+25% e +29% respectivamente). O mercado aproveitou a baixa para estocar.
  • Azeitonas (20057000): Ao contrário da volatilidade do azeite, as azeitonas mostraram estabilidade madura (+3% em valor FOB importado), indicando uma demanda inelástica e garantida para a sazonalidade.

Portugal dominou o fornecimento com US$188 mi (71% do share), consolidando-se como a origem de confiança para o consumidor brasileiro. A Espanha seguiu distante (13%), e a Argentina representou apenas 7%.

Em relação à logística de entrada, o Estado de Santa Catarina (SC) concentrou quase metade das importações (48%, US$127,3 mi), superando largamente São Paulo (14%) e Espírito Santo (7%).

O Porto de Santos (26%) e o Porto de São Francisco do Sul-SC (25%) dividiram o protagonismo, evidenciando que, embora SP seja o maior consumidor, a entrada tributária ocorre preferencialmente pelo Sul.

Bacalhau e similares

O consumidor não deixou de comprar peixe, mas mudou drasticamente o que comprou. De acordo com a Logcomex, o comportamento das importações do bacalhau de junho a outubro de 2025, foi o seguinte:

  • As importações do Bacalhau Gadus seco (NCM: 03055100) caíram 51% , enquanto as importações do bacalhau salgado em salmoura (NCM: 03056200) despencaram 78%. A importação do bacalhau congelado inteiro (03036300) também retraiu 31%.

  • Filés congelados (NCM: 03047100): Houve uma explosão de +601% nas importações deste produto.  O consumidor priorizou a praticidade (sem dessalga).

  • Espécies alternativas (NCM: 03055310): As importações de Saithe, Ling e Zarbo cresceram +68%, confirmando a busca por menor desembolso (trade-down).

  • Filés secos (NCM: 03053210): Alta de 24% nas importações, reforçando que, mesmo no seco, a preferência foi pelo corte nobre (filé) que facilitava o preparo, em detrimento do peixe inteiro.
CategoriaProdutoNCMVariação (Jun-Out 2025)
As quedas (o tradicional)Bacalhau Gadus Seco03055100-51%
Bacalhau Salgado em Salmoura03056200-78%
Bacalhau Congelado Inteiro03036300-31%
As altas (a conveniência e o preço)Filés Congelados03047100+601%
Outros Peixes Secos/Saithe/Ling03055310+68%
Filés Secos03053210+24%
Fonte: Logcomex

A Noruega manteve a liderança com 57% (US$26,4 mi), seguida por Portugal (37%). A China apareceu com 6% (US$3 mi), provavelmente focada no processamento de filés congelados de menor custo.

O estado de São Paulo absorveu metade do volume (50%), reafirmando seu papel de centro de distribuição. Já o estado de Pernambuco (PE) destacou-se como o segundo maior importador (15%), superando o Rio de Janeiro (13%), o que indica a formação de um polo logístico relevante para atender o Norte/Nordeste sem depender do Sudeste

Insight: A reposição deve refletir a nova realidade de consumo: foco total em filé congelado (+601%) e redução drástica do seco.

Vinhos e espumantes: Recalibragem de ticket

A dinâmica do mercado revelou que o consumidor não abandonou a categoria, mas recalibrou drasticamente o ticket médio. O comportamento de compra dividiu-se em três frentes distintas:

Super premium


A retração de -22% nas importações de Champagne (22041010), combinada ao recuo de -5% em Outros Espumantes (Cava, Prosecco), sinaliza uma contração na demanda por itens de celebração importados.

O cenário aponta para uma substituição de portfólio. A queda simultânea nas importações de ambas as categorias (Premium e Entrada) fortalece a hipótese de que a demanda de “celebração” buscou competitividade na indústria nacional ou realocou este orçamento para vinhos de melhor custo-benefício.

Vinhos de mesa


As  importações de vinhos em garrafas tradicionais (<2 litros – NCM: 22042100) apresentaram estabilidade ( -1%, movimentando US$227 mi vs. US$229 mi). Este cenário de estabilidade contrasta com a queda dos espumantes, indicando que o vinho tranquilo se consolidou como hábito de consumo resiliente. 

A forte liderança do Chile (38% do share) reforça que a manutenção do volume se deu através da busca por rótulos de entrada do Novo Mundo, que ofereceram uma equação de valor superior aos europeus.

Sinais mistos na indústria e nichos

O crescimento de +106% nas importações de Aguardentes de Vinho (NCM: 22082000) – de junho a outubro de 2025 – sugere um aquecimento específico no canal food service (bares e coquetelaria), demandando insumos para drinks como Brandy e Cognac.

Cautela industrial: A queda de -52%  nas importações de máquinas para bebidas (NCM: 84351000) e o recuo de -99% em antiespumantes industriais (NCM: 38249951) sugerem que a indústria local evitou expansão de capacidade para este ciclo, focando possivelmente na manutenção de linhas existentes (peças de reposição subiram +37%).

Geografia do fornecimento: O Chile liderou com folga (38%, US$92,9 mi), seguido pela Argentina (18%). Portugal manteve-se relevante (15%), mas o consumidor privilegiou origens isentas de tarifa de importação (Mercosul/Acordos) para mitigar o impacto cambial.

A ALF Uruguaiana consolidou-se como principal unidade de desembaraço (29%), confirmando a predominância do modal rodoviário vindo do Cone Sul.

O estado de Santa Catarina liderou as nacionalizações (34%), seguida por SP (21%) e Espírito Santo (17%), evidenciando a busca contínua por eficiência tributária no desembaraço destes itens.
Insights: Recomenda-se manter foco em rótulos do Novo Mundo (Chile/Argentina) para garantir giro, dado o recuo dos europeus.

Frios e carnes: Dependência do Mercosul

Confira, a seguir, o desempenho das importações no período de junho a outubro de 2025, de acordo com a Logcomex:

Frios (queijos e embutidos)


A Argentina foi quase um monopólio, fornecendo 83% (US$77,7 mi) dos frios importados, beneficiada pela proximidade e câmbio. O estado de São Paulo liderou (35%). 

No entanto, um dado atípico foi o Estado de Rondônia (RO) como segundo maior importador (14%, US$13,5 mi), sugerindo uma rota de entrada terrestre ou um centro de distribuição específico para a região Norte/Oeste.

Queijos de alto volume (importações de junho a outubro 2025)

  • Mussarela (NCM: 04061010): Sofreu a maior retração do setor, com as importações caindo -42% (US$50,7 mi) em comparação com o mesmo período de 2024. Isso indica que o importado perdeu competitividade de preço frente ao produto local.
  • Semiduros (NCM: 04069020): As importações de queijos tipo Prato/Gouda caíram -30% (US$17,3 mi) no período analisado.

  • Duros (NCM: 04069010): As importações de queijo tipo Parmesão/Provolone recuaram -17% (US$17,1 mi).
  • Mofados/Azuis (NCM: 04064000): O Roquefort/Gorgonzola importado mostrou estabilidade, com leve oscilação de -2% (US$740k). O consumidor desse nicho manteve-se fiel.
  • Massa Macia (NCM: 04069030): As importações de queijos tipo Brie/Camembert caíram -8%, uma retração suave comparada às commodities.

  • Frescos/Requeijão (NCM: 04061090): Estabilidade total nas importações (+1%), sugerindo manutenção de contratos específicos.

A Grande Exceção – “Outros Queijos” (NCM: 04069090): Esta NCM, que abarca especialidades não classificadas (ex: queijos com trufas, processados especiais), dobrou de tamanho (+108%) nas importações, saltando para US$ 138k  Embora o volume seja baixo, foi o único segmento de queijos com crescimento real, indicando a busca por inovação/diferenciação.

Tipo de QueijoNCMVariação nas Importações (Jun-Out 2025 vs. 2024)Valor Importado Jun – Out 2025 (US$) 
Mussarela04061010-42%US$50,7 mi
Semiduros (Prato/Gouda)04069020-30%US$17,3 mi
Duros (Parmesão/Provolone)04069010-17%US$17,1 mi
Mofados/Azuis (Roquefort/Gorgonzola)04064000-2%US$740,8 mil
Massa Macia (Brie/Camembert)04069030-8%US$2 mi
Frescos/Requeijão04061090+1%US$4,3 mi
A Grande Exceção – “Outros Queijos”04069090+108%US$138,2 mil
Fonte: Logcomex

A Argentina forneceu 83% de todo o volume. O Mercosul foi a única origem viável.  Enquanto SP liderou a importação (35%), Rondônia (RO) surpreendeu como o 2º maior destino (14%), sugerindo que grandes distribuidores utilizaram o estado como porta de entrada para abastecer a região Norte/Centro-Oeste via terrestre.

Embutidos

De junho a outubro de 2025, as importações de salames e enchidos (NCM 16011000) caíram -39% (US$1,1 mi) comparado com o mesmo período de 2024.. A charcutaria importada perdeu espaço na gôndola natalina.

Proteínas suínas

  • Preparações/Kits (NCM: 16024900): As importações cresceram 66% de junho a outubro de 2025, comparado com o mesmo período do ano passado. O peso importado também aumentou 33%, indicando uma elevação no preço médio por quilo.

Os dados analisados apontam para uma possível “premiumização” da demanda. O consumidor parece ter validado a compra de conveniência (kits temperados, cortes especiais), aceitando um preço médio superior em troca da praticidade, o que sustentou o crescimento da categoria.

  • Cortes tradicionais (NCM: 16024100): A queda de -12% nas importações (US$6,5 mil) reforça a hipótese de que a importação de pernil/presunto in natura perdeu relevância frente à oferta doméstica.
NCMProdutoFOB 2025 (US$)Variação (2025 vs. 2024)FOB 2024 (US$)
16024100Preparações alimentícias em conservas, de pernas, seus pedaços, de suínosUS$6,5 mil-12%US$7,4 mil
16024900Outras preparações alimentícias e conservas, de suínos e misturasUS$256,3 mil+66%US$154,4 mil
Fonte: Logcomex

Insight: Recomenda-se privilegiar kits suínos e filés de peixe (conveniência) em detrimento de peças inteiras.

Acompanhamentos

A análise deste segmento revela movimentos desproporcionais em itens que, embora tenham menor volume financeiro total se comparados às proteínas, sinalizam tendências importantes de consumo para a ceia: a valorização de insumos para pratos típicos (farofas) e a preferência por mixes prontos em detrimento da compra fracionada.

Farinhas de raízes (NCM: 11062000)

Esta NCM registrou alta de +70% nas importações de junho a outubro de 2025 (US$1,5 mi), comparado com o mesmo período de 2024 (US$914,6 mil).

Considerando que o Brasil é um grande produtor de farinhas, esse aumento na importação sugere duas hipóteses:

  • Demanda por Variedades Específicas: O mercado pode estar buscando texturas ou tipologias não atendidas plenamente pela oferta local (ex: farinhas para farofas crocantes do tipo panko de raízes ou moagens específicas).
  • Industrialização: O aumento pode estar atrelado à indústria de “Farofas Prontas Temperadas”, que necessita de volume padronizado para atender à sazonalidade.

Preparações alimentícias de farinhas (NCM: 19019090)

Esta NCM registrou queda de -6% nas importações (US$30,5 mi), comparado com o mesmo período de 2024. Este é o “peso pesado” da categoria, movimentando 20 vezes mais valor que as farinhas de raízes. Trata-se de insumos base para a indústria de panificação e confeitaria (pré-misturas).

A queda de -6% neste item, somada à retração de -1% no Panetone pronto (NCM 19052010), sinalizou uma indústria conservadora, que trabalhou com estoques justos e não apostou em um aumento agressivo da produção de itens de padaria natalina. O mercado manteve a base, mas não expandiu.

Misturas de frutas secas (NCM: 08135000)

As misturas de frutas secas registraram crescimento de 243% nas importações (US$303 mil) comparado com o mesmo período de 2024 (US$88,3 mil). 

O crescimento exponencial deste item, contrastando com a queda em frutas frescas (-12%), reforçou a tendência de conveniência. O varejo e o consumidor optaram pelo mix de castanhas e frutas desidratadas (maior shelf-life e sem quebra) para substituir a fruta fresca decorativa.

Castanhas

Castanha de Caju sem casca (NCM: 08013200)

A queda de 74% nas importações (US$1,7 mi  vs US$6,5 mi no mesmo período de 2024) indica que o mercado interno foi capaz de suprir a demanda com produto nacional. 

Em 2024, a importação havia sido elevada (US$6,5 mi), provavelmente para cobrir quebras de safra locais ou preços internos altos.

 Em 2025, o varejo e a indústria parecem ter encontrado liquidez e preço no mercado doméstico (Ceará/Piauí/RN), reduzindo drasticamente a necessidade de buscar o produto fora (comumente do Vietnã ou África).

Castanha-do-Pará sem casca (NCM: 08012200)

O aumento de 122% na importação de um produto nativo da Amazônia brasileira (Castanha-do-Brasil) sinalizou um gargalo severo na oferta local.

O mercado foi forçado a importar (provavelmente da Bolívia ou Peru) para cobrir contratos, o que sugere que a safra extrativista brasileira enfrentou problemas (climáticos ou logísticos) ou que o preço interno disparou a ponto de tornar a importação competitiva, mesmo com o dólar valorizado.

O produto que o Brasil exporta em massa (Caju) parou de ser importado, retomando a normalidade. Já o produto extrativista (Pará) exigiu socorro externo. Isso alerta para uma provável volatilidade de preço na gôndola para a Castanha-do-Pará neste Natal.

Insight:  O aumento de 122% na importação é o maior alerta de risco de abastecimento da temporada. Compradores devem travar estoques imediatamente.

Panetone (NCM: 19052010)

As importações de panetone registraram estabilidade de junho a outubro de 2025 (US$2,5 mi vs US$2,6 mi em 2024).  A polarização foi clara. A Itália dominou o segmento com 89% (US$2,2 mi), reafirmando que a importação dessa categoria é focada exclusivamente no produto de tradição/luxo. A Argentina ocupou a fatia restante (11%, US$282,8 mil), posicionando-se como opção de entrada importada.

O estado de São Paulo consolidou-se como o grande hub de redistribuição de itens gourmet  (57%). Já Mato Grosso do Sul apareceu surpreendentemente como o 3º maior importador (US$218,2 mil), logo atrás do Paraná (20%). Isso sugeriu uma operação logística específica de grandes redes varejistas ou distribuidores para abastecer o Centro-Oeste diretamente, sem triangular por SP.

Insight: O dado de estabilidade (-1%) com hegemonia italiana (89%) indica que o cliente de panetone importado busca marca e origem. Não há espaço para “aventuras” de outras procedências. A exposição deve destacar a bandeira da Itália para justificar o prêmio de preço.

 Conclusão

A análise consolidada de janeiro a outubro de 2025 confirma um Natal de ajustes estratégicos. O mercado substituiu a compra de commodities importadas (queijos básicos, pernil, castanha de caju) pela oferta nacional, reservando o orçamento de importação para:

 1) Itens de conveniência (kits, filés, mixes); 

2) Itens de luxo insubstituíveis (Panetone Italiano, Azeite Português); e 

3) Oportunidades de custo (Vinhos Chilenos, Frios Argentinos). A leitura correta dessas três alavancas poderá definir o sucesso das operações de comércio global no período.


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