O cenário de importação para o Natal de 2025 – Junho a outubro 2025 – foi caracterizado por uma dicotomia clara: deflação e volume nos itens essenciais (Azeites) versus racionalização e conveniência nas proteínas e acompanhamentos.
Enquanto o Azeite de Oliva tracionou o volume com preços menores, o Bacalhau tradicional cedeu espaço massivo para opções processadas (congelados/filés) e espécies alternativas.
Observou-se também um movimento de retração de investimentos na indústria (queda em máquinas) e cautela em itens de ticket elevado (vinhos premium, queijos nobres e frios), contrastando com “bolsões de crescimento” em produtos de menor desembolso ou conveniência, como preparações suínas (+66%) e farinhas de raízes (+70%).
Além da dicotomia deflação/volume no azeite e conveniência nas proteínas, os dados geográficos revelaram uma dependência acentuada de benefícios fiscais estaduais (com SC e ES dominando a entrada de itens de alto valor) e um fortalecimento do Mercosul (Argentina/Paraguai/Chile) como fornecedor preferencial para itens perecíveis e vinhos, em detrimento da Europa.
Portugal dominou o fornecimento com US$188 mi (71% do share), consolidando-se como a origem de confiança para o consumidor brasileiro. A Espanha seguiu distante (13%), e a Argentina representou apenas 7%.
Em relação à logística de entrada, o Estado de Santa Catarina (SC) concentrou quase metade das importações (48%, US$127,3 mi), superando largamente São Paulo (14%) e Espírito Santo (7%).
O Porto de Santos (26%) e o Porto de São Francisco do Sul-SC (25%) dividiram o protagonismo, evidenciando que, embora SP seja o maior consumidor, a entrada tributária ocorre preferencialmente pelo Sul.
O consumidor não deixou de comprar peixe, mas mudou drasticamente o que comprou. De acordo com a Logcomex, o comportamento das importações do bacalhau de junho a outubro de 2025, foi o seguinte:
| Categoria | Produto | NCM | Variação (Jun-Out 2025) |
| As quedas (o tradicional) | Bacalhau Gadus Seco | 03055100 | -51% |
| Bacalhau Salgado em Salmoura | 03056200 | -78% | |
| Bacalhau Congelado Inteiro | 03036300 | -31% | |
| As altas (a conveniência e o preço) | Filés Congelados | 03047100 | +601% |
| Outros Peixes Secos/Saithe/Ling | 03055310 | +68% | |
| Filés Secos | 03053210 | +24% |
A Noruega manteve a liderança com 57% (US$26,4 mi), seguida por Portugal (37%). A China apareceu com 6% (US$3 mi), provavelmente focada no processamento de filés congelados de menor custo.
O estado de São Paulo absorveu metade do volume (50%), reafirmando seu papel de centro de distribuição. Já o estado de Pernambuco (PE) destacou-se como o segundo maior importador (15%), superando o Rio de Janeiro (13%), o que indica a formação de um polo logístico relevante para atender o Norte/Nordeste sem depender do Sudeste
Insight: A reposição deve refletir a nova realidade de consumo: foco total em filé congelado (+601%) e redução drástica do seco.
A dinâmica do mercado revelou que o consumidor não abandonou a categoria, mas recalibrou drasticamente o ticket médio. O comportamento de compra dividiu-se em três frentes distintas:
A retração de -22% nas importações de Champagne (22041010), combinada ao recuo de -5% em Outros Espumantes (Cava, Prosecco), sinaliza uma contração na demanda por itens de celebração importados.
O cenário aponta para uma substituição de portfólio. A queda simultânea nas importações de ambas as categorias (Premium e Entrada) fortalece a hipótese de que a demanda de “celebração” buscou competitividade na indústria nacional ou realocou este orçamento para vinhos de melhor custo-benefício.
As importações de vinhos em garrafas tradicionais (<2 litros – NCM: 22042100) apresentaram estabilidade ( -1%, movimentando US$227 mi vs. US$229 mi). Este cenário de estabilidade contrasta com a queda dos espumantes, indicando que o vinho tranquilo se consolidou como hábito de consumo resiliente.
A forte liderança do Chile (38% do share) reforça que a manutenção do volume se deu através da busca por rótulos de entrada do Novo Mundo, que ofereceram uma equação de valor superior aos europeus.
O crescimento de +106% nas importações de Aguardentes de Vinho (NCM: 22082000) – de junho a outubro de 2025 – sugere um aquecimento específico no canal food service (bares e coquetelaria), demandando insumos para drinks como Brandy e Cognac.
Cautela industrial: A queda de -52% nas importações de máquinas para bebidas (NCM: 84351000) e o recuo de -99% em antiespumantes industriais (NCM: 38249951) sugerem que a indústria local evitou expansão de capacidade para este ciclo, focando possivelmente na manutenção de linhas existentes (peças de reposição subiram +37%).
Geografia do fornecimento: O Chile liderou com folga (38%, US$92,9 mi), seguido pela Argentina (18%). Portugal manteve-se relevante (15%), mas o consumidor privilegiou origens isentas de tarifa de importação (Mercosul/Acordos) para mitigar o impacto cambial.
A ALF Uruguaiana consolidou-se como principal unidade de desembaraço (29%), confirmando a predominância do modal rodoviário vindo do Cone Sul.
O estado de Santa Catarina liderou as nacionalizações (34%), seguida por SP (21%) e Espírito Santo (17%), evidenciando a busca contínua por eficiência tributária no desembaraço destes itens.
Insights: Recomenda-se manter foco em rótulos do Novo Mundo (Chile/Argentina) para garantir giro, dado o recuo dos europeus.
Confira, a seguir, o desempenho das importações no período de junho a outubro de 2025, de acordo com a Logcomex:
A Argentina foi quase um monopólio, fornecendo 83% (US$77,7 mi) dos frios importados, beneficiada pela proximidade e câmbio. O estado de São Paulo liderou (35%).
No entanto, um dado atípico foi o Estado de Rondônia (RO) como segundo maior importador (14%, US$13,5 mi), sugerindo uma rota de entrada terrestre ou um centro de distribuição específico para a região Norte/Oeste.
A Grande Exceção – “Outros Queijos” (NCM: 04069090): Esta NCM, que abarca especialidades não classificadas (ex: queijos com trufas, processados especiais), dobrou de tamanho (+108%) nas importações, saltando para US$ 138k Embora o volume seja baixo, foi o único segmento de queijos com crescimento real, indicando a busca por inovação/diferenciação.
| Tipo de Queijo | NCM | Variação nas Importações (Jun-Out 2025 vs. 2024) | Valor Importado Jun – Out 2025 (US$) |
| Mussarela | 04061010 | -42% | US$50,7 mi |
| Semiduros (Prato/Gouda) | 04069020 | -30% | US$17,3 mi |
| Duros (Parmesão/Provolone) | 04069010 | -17% | US$17,1 mi |
| Mofados/Azuis (Roquefort/Gorgonzola) | 04064000 | -2% | US$740,8 mil |
| Massa Macia (Brie/Camembert) | 04069030 | -8% | US$2 mi |
| Frescos/Requeijão | 04061090 | +1% | US$4,3 mi |
| A Grande Exceção – “Outros Queijos” | 04069090 | +108% | US$138,2 mil |
A Argentina forneceu 83% de todo o volume. O Mercosul foi a única origem viável. Enquanto SP liderou a importação (35%), Rondônia (RO) surpreendeu como o 2º maior destino (14%), sugerindo que grandes distribuidores utilizaram o estado como porta de entrada para abastecer a região Norte/Centro-Oeste via terrestre.
De junho a outubro de 2025, as importações de salames e enchidos (NCM 16011000) caíram -39% (US$1,1 mi) comparado com o mesmo período de 2024.. A charcutaria importada perdeu espaço na gôndola natalina.
Os dados analisados apontam para uma possível “premiumização” da demanda. O consumidor parece ter validado a compra de conveniência (kits temperados, cortes especiais), aceitando um preço médio superior em troca da praticidade, o que sustentou o crescimento da categoria.
| NCM | Produto | FOB 2025 (US$) | Variação (2025 vs. 2024) | FOB 2024 (US$) |
| 16024100 | Preparações alimentícias em conservas, de pernas, seus pedaços, de suínos | US$6,5 mil | -12% | US$7,4 mil |
| 16024900 | Outras preparações alimentícias e conservas, de suínos e misturas | US$256,3 mil | +66% | US$154,4 mil |
Insight: Recomenda-se privilegiar kits suínos e filés de peixe (conveniência) em detrimento de peças inteiras.
A análise deste segmento revela movimentos desproporcionais em itens que, embora tenham menor volume financeiro total se comparados às proteínas, sinalizam tendências importantes de consumo para a ceia: a valorização de insumos para pratos típicos (farofas) e a preferência por mixes prontos em detrimento da compra fracionada.
Esta NCM registrou alta de +70% nas importações de junho a outubro de 2025 (US$1,5 mi), comparado com o mesmo período de 2024 (US$914,6 mil).
Considerando que o Brasil é um grande produtor de farinhas, esse aumento na importação sugere duas hipóteses:
Esta NCM registrou queda de -6% nas importações (US$30,5 mi), comparado com o mesmo período de 2024. Este é o “peso pesado” da categoria, movimentando 20 vezes mais valor que as farinhas de raízes. Trata-se de insumos base para a indústria de panificação e confeitaria (pré-misturas).
A queda de -6% neste item, somada à retração de -1% no Panetone pronto (NCM 19052010), sinalizou uma indústria conservadora, que trabalhou com estoques justos e não apostou em um aumento agressivo da produção de itens de padaria natalina. O mercado manteve a base, mas não expandiu.
As misturas de frutas secas registraram crescimento de 243% nas importações (US$303 mil) comparado com o mesmo período de 2024 (US$88,3 mil).
O crescimento exponencial deste item, contrastando com a queda em frutas frescas (-12%), reforçou a tendência de conveniência. O varejo e o consumidor optaram pelo mix de castanhas e frutas desidratadas (maior shelf-life e sem quebra) para substituir a fruta fresca decorativa.
A queda de 74% nas importações (US$1,7 mi vs US$6,5 mi no mesmo período de 2024) indica que o mercado interno foi capaz de suprir a demanda com produto nacional.
Em 2024, a importação havia sido elevada (US$6,5 mi), provavelmente para cobrir quebras de safra locais ou preços internos altos.
Em 2025, o varejo e a indústria parecem ter encontrado liquidez e preço no mercado doméstico (Ceará/Piauí/RN), reduzindo drasticamente a necessidade de buscar o produto fora (comumente do Vietnã ou África).
O aumento de 122% na importação de um produto nativo da Amazônia brasileira (Castanha-do-Brasil) sinalizou um gargalo severo na oferta local.
O mercado foi forçado a importar (provavelmente da Bolívia ou Peru) para cobrir contratos, o que sugere que a safra extrativista brasileira enfrentou problemas (climáticos ou logísticos) ou que o preço interno disparou a ponto de tornar a importação competitiva, mesmo com o dólar valorizado.
O produto que o Brasil exporta em massa (Caju) parou de ser importado, retomando a normalidade. Já o produto extrativista (Pará) exigiu socorro externo. Isso alerta para uma provável volatilidade de preço na gôndola para a Castanha-do-Pará neste Natal.
Insight: O aumento de 122% na importação é o maior alerta de risco de abastecimento da temporada. Compradores devem travar estoques imediatamente.
As importações de panetone registraram estabilidade de junho a outubro de 2025 (US$2,5 mi vs US$2,6 mi em 2024). A polarização foi clara. A Itália dominou o segmento com 89% (US$2,2 mi), reafirmando que a importação dessa categoria é focada exclusivamente no produto de tradição/luxo. A Argentina ocupou a fatia restante (11%, US$282,8 mil), posicionando-se como opção de entrada importada.
O estado de São Paulo consolidou-se como o grande hub de redistribuição de itens gourmet (57%). Já Mato Grosso do Sul apareceu surpreendentemente como o 3º maior importador (US$218,2 mil), logo atrás do Paraná (20%). Isso sugeriu uma operação logística específica de grandes redes varejistas ou distribuidores para abastecer o Centro-Oeste diretamente, sem triangular por SP.
Insight: O dado de estabilidade (-1%) com hegemonia italiana (89%) indica que o cliente de panetone importado busca marca e origem. Não há espaço para “aventuras” de outras procedências. A exposição deve destacar a bandeira da Itália para justificar o prêmio de preço.
A análise consolidada de janeiro a outubro de 2025 confirma um Natal de ajustes estratégicos. O mercado substituiu a compra de commodities importadas (queijos básicos, pernil, castanha de caju) pela oferta nacional, reservando o orçamento de importação para:
1) Itens de conveniência (kits, filés, mixes);
2) Itens de luxo insubstituíveis (Panetone Italiano, Azeite Português); e
3) Oportunidades de custo (Vinhos Chilenos, Frios Argentinos). A leitura correta dessas três alavancas poderá definir o sucesso das operações de comércio global no período.