Com a demanda global por borracha natural em alta e os estoques internacionais pressionados por fatores climáticos e logísticos, o Brasil volta a discutir seu papel estratégico nesse mercado.
Segundo dados do setor, a produção nacional vem sofrendo retração. Fatores como envelhecimento dos seringais, falta de políticas de incentivo e concorrência com produtos importados têm desestimulado o plantio e a manutenção das áreas já existentes. Além disso, a baixa rentabilidade e a falta de mão de obra especializada tornam a atividade pouco atrativa.
No cenário internacional, o déficit de oferta — agravado por inundações no Sudeste Asiático e secas prolongadas em estados produtores como São Paulo — fez com que os preços da borracha natural disparassem. A tonelada do produto chegou a alcançar valores equivalentes aos do cacau, que também enfrenta uma crise de oferta global. Isso coloca o Brasil em posição estratégica para suprir parte dessa lacuna no comércio exterior.
Segundo dados da Logcomex, a balança comercial brasileira da produção de borracha natural no primeiro bimestre de 2025 está com um déficit de US$ 70,5 milhões. Ao passo que as exportações somam apenas US$ 6,34 milhões, as importações foram equivalentes a um FOB de US$ 76,8 milhões. Este valor é um aumento de 160,5% em relação ao primeiro bimestre de 2024.
Pela ferramenta NCM Intel, é possível ter uma visão mais clara sobre quais são as métricas mais relevantes sobre os produtos derivados da borracha. Em um dos gráficos disponíveis na ferramenta, observa-se como as importações nos meses de janeiro e fevereiro de 2025 superam os meses dos anos anteriores, reforçando esta dependência da borracha vinda de outros países.
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Os destaques ficam para os NCMs 4001.22.00 (Borracha natural tecnicamente especificada), e 4001.29.20 (Borracha natural granulada), com um aumento nas importações de 120% e 737% respectivamente.
Ainda segundo a Logcomex, os principais países exportadores são Indonésia, com 32% do total, seguidos por Tailândia (26%) e Costa do Marfim (17%).
Em resposta ao cenário de dependência externa e valorização internacional do produto, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) iniciou articulações para a criação da Política Nacional de Fomento da Borracha Natural Brasileira (PNFBNB). Entre as pautas discutidas, está a inclusão da borracha natural na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec) do Mercosul, além da elevação temporária da alíquota de importação, atualmente em 10,8%, válida até agosto de 2025.
A ideia é criar um ambiente competitivo que estimule o aumento da produção interna e reduza a vulnerabilidade do país às oscilações internacionais. A política também propõe incentivos à pesquisa, modernização tecnológica no campo e mecanismos de garantia de preços mínimos, inspirando-se em programas já existentes para outras commodities agrícolas.
Enquanto isso, países como Tailândia, Indonésia e Vietnã seguem dominando o mercado global, mas também enfrentam gargalos de produção e logística, o que pode abrir espaço para o Brasil retomar parte da sua competitividade no setor. Com planejamento e estímulo adequado, a borracha pode deixar de ser um produto esquecido e se tornar uma nova aposta para o agronegócio brasileiro e o comércio exterior.