Mercado de frete marítimo global: turbulência persistente em meio a conflitos e tarifas

27 de junho de 2025

Mercado de frete marítimo global: turbulência persistente em meio a conflitos e tarifas

As tarifas globais de frete marítimo têm atravessado um período de volatilidade desde 2023. Segundo o índice global da Drewry, os valores chegaram ao seu ponto mais baixo em outubro de 2023, quando atingiram apenas US$ 1.342 por contêiner de 40 pés. 

Esta queda representou um alívio temporário para importadores globais, mas marcou o início de uma recuperação dramática que culminaria em 2024.

A partir desse vale, iniciou-se uma escalada sem precedentes, com os preços subindo continuamente até ultrapassarem US$ 5.806 em julho de 2024, representando um aumento de mais de 340% em menos de um ano. 

Após este pico, observou-se uma moderação, com estabilização em US$ 3.331 ao final de novembro de 2024 – ainda significativamente acima dos valores mínimos do ano anterior.

Nas principais rotas, o padrão de alta foi ainda mais expressivo. Conforme mostram os gráficos da Drewry, em maio de 2024 as tarifas alcançaram US$ 6.800 na rota Xangai-Nova York, US$ 5.490 até Gênova e US$ 5.300 até Los Angeles – todos valores substancialmente maiores do que os registrados no primeiro semestre de 2023.

Impacto nos armadores: da crise à recuperação

A montanha-russa dos fretes teve consequências diretas para os resultados financeiros das grandes empresas de navegação. De acordo com gráficos da Sea-Intelligence, após um resultado histórico de US$ 208 bilhões em lucros operacionais em 2022, o setor mergulhou no vermelho com prejuízo de US$ 1,44 bilhão em 2023.

Este impacto foi especialmente sentido pelas principais companhias: a Maersk passou de um lucro de US$ 1.214 por TEU em 2022 para um prejuízo de US$ 148 por TEU em 2023. Mais dramática ainda foi a situação da ZIM, que registrou impressionantes US$ 2.625 negativos por TEU. 

A recuperação do setor começou a se consolidar em 2024, com a Maersk e a ZIM retomando a lucratividade no terceiro trimestre, registrando US$ 446 e US$ 1.273 por TEU, respectivamente. Esta virada reflete o aumento significativo das tarifas ao longo do ano.

Guerra tarifária redesenha rotas marítimas

A crescente pressão dos Estados Unidos sobre o comércio de transbordo chinês está impulsionando uma transformação fundamental nas cadeias de suprimentos globais. 

As ameaças e imposições tarifárias pelo governo americano têm forçado empresas chinesas a buscarem estratégias alternativas, com a África emergindo como novo destino preferencial para realocação de fábricas.

Segundo reportagem do Lloyd’s List, as exportações da China registraram crescimento expressivo para mercados alternativos nos primeiros cinco meses de 2025, com aumento de 18,9% para a África e 15,1% para a Índia. 

Esta reconfiguração das rotas comerciais globais representa um desafio significativo para operadores portuários e empresas de logística, que precisam adaptar-se rapidamente às novas dinâmicas do comércio internacional.

O impacto dessa guerra tarifária também foi sentido nas taxas de frete, que apresentaram quedas expressivas nas principais rotas comerciais no final de junho de 2025. 

De acordo com o índice World Container Index (WCI) da Drewry, a rota Ásia-Costa Oeste dos EUA registrou uma queda semanal de quase US$ 1.000 por contêiner, embora os valores ainda permaneçam US$ 1.000 acima dos níveis anteriores à pausa tarifária entre EUA e China.

Tensões geopolíticas elevam fretes no Oriente Médio

A escalada do conflito entre Israel e Irã adicionou nova camada de complexidade ao mercado global de fretes. Segundo reportagem do CNBC de 23 de junho de 2025, as taxas de frete marítimo para o Porto de Khor Fakkan, nos Emirados Árabes Unidos, dispararam 76% desde meados de maio, atingindo US$ 3.341 por contêiner.

Localizado estrategicamente fora do Estreito de Hormuz, este importante hub de transbordo para o Golfo Arábico registrou intenso movimento, com 81 navios chegando nas últimas 24 horas. 

A diferença entre as tarifas contratuais de longo prazo e as taxas spot ampliou-se drasticamente de US$ 50 para US$ 1.101 em apenas 40 dias, evidenciando a crescente volatilidade do mercado e a disparidade de poder de negociação entre grandes e pequenos embarcadores.

A decisão do parlamento iraniano de aprovar o fechamento do Estreito de Hormuz aumentou ainda mais as tensões, embora muitos especialistas duvidem da implementação efetiva dessa medida devido a seus enormes impactos econômicos. Empresas como a Frontline, grande operadora de petroleiros, já anunciaram que não aceitarão novos contratos que exijam trânsito por esse estreito.

Impacto sobre o Brasil: preços multiplicados em meio a incertezas

O Brasil tem sido particularmente afetado pelas turbulências do frete marítimo global. De acordo com o Diário do Comércio, na rota Ásia-Brasil, os preços saltaram de US$ 950 por contêiner em abril de 2025 para impressionantes US$ 5.000 em junho – um aumento de quase 600% em apenas dois meses.

Este aumento explosivo é atribuído à guerra tarifária entre EUA e China e à subsequente trégua temporária, que gerou uma demanda reprimida. 

Especialistas preveem que o segundo semestre de 2025 deverá trazer preços ainda mais elevados, especialmente com a aproximação dos períodos de pico de importação para Black Friday e Natal.

Esta situação impacta diretamente os custos de importação e exportação para empresas brasileiras, particularmente as pequenas e médias que não possuem capital suficiente para formar estoques estratégicos.

Com mais de 80% do comércio internacional dependente do transporte marítimo, os aumentos nos fretes têm efeito cascata sobre toda a cadeia logística e, consequentemente, sobre os preços finais dos produtos importados e exportados.

O mercado de frete marítimo global continuará enfrentando múltiplos desafios nos próximos meses. A combinação de tensões geopolíticas, guerras tarifárias e reestruturação das cadeias de suprimentos globais manterá os preços voláteis e as operações logísticas sob pressão.

Empresas que conseguirem adotar estratégias proativas – como negociação de prazos e volumes com fornecedores, diversificação de modais de transporte e gestão eficiente de estoques – estarão melhor posicionadas para navegar neste cenário desafiador. Monitorar constantemente o cenário global e agir com agilidade tornou-se imperativo para manter a competitividade.

À medida que as rotas tradicionais são redesenhadas e novos hubs emergem, o sistema de comércio global continua sua transformação, respondendo dinamicamente às pressões econômicas e geopolíticas que definem esta nova era do transporte marítimo internacional.


Notícias relacionadas

Assine nossa newsletter

Receba as novidades e promoções exclusivas, fique tranquilo o seu email está seguro com a gente!