A descarbonização da indústria do transporte marítimo, essencial para enfrentar a crise climática, está se mostrando um desafio complexo e caro.
Um estudo recente da DNV, uma empresa de gerenciamento de risco, revela que o processo de redução das emissões de carbono no transporte marítimo pode aumentar significativamente os custos de transporte, chegando a dobrar o valor para certos tipos de navios, como os porta contêineres.
Segundo o relatório, os custos de transporte para navios graneleiros devem aumentar entre 69% e 75%, para petroleiros entre 70% e 86%, e, no caso dos navios porta contêineres, o aumento pode ser ainda mais expressivo, variando de 91% a 112%.
Esses números refletem os quatro cenários de descarbonização simulados pela DNV, todos considerando os desafios tecnológicos e financeiros que o setor enfrentará nos próximos anos.
Dados da Logcomex apontam que, de Janeiro a Julho de 2024, cargas via modal marítimo foram responsáveis por importar um total de 96 milhões de toneladas. Este número é um aumento de 6,1% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Dentre os principais NCMs importados, por Valor FOB, destacam-se óleos brutos de petróleo (NCM 2709.00.10), com US$ 5,3 bilhões, gasóleo (NCM 2710.19.21), com US$ 4,9 bilhões e cloreto de potássio (NCM 3104.20.90), com US$ 2,2 bilhões.
Os países que mais destinam cargas via modal marítimo para o Brasil são China (35%), Estados Unidos (16%) e Rússia (7%).
Ainda de acordo com a Logcomex, nas exportações, o Brasil destinou o equivalente a US$ 177 bilhões via modal marítimo, tendo nos commodities de soja (NCM 1201.90.00), petróleo (NCM 2709.00.10) e minério de ferro (NCM 2601.11.00) os principais produtos enviados pelos mares, por valor FOB.
O Brasil envia suas cargas para, principalmente, China (45%), Estados Unidos (14%) e Países Baixos (5%).
Além dos aumentos diretos, a descarbonização trará uma série de implicações para toda a cadeia de suprimentos global, o que levanta a questão de quem arcará com esse custo.
Especialistas apontam que a conta pode acabar nas mãos dos consumidores finais, o que aumentaria o preço de diversos produtos no mercado global.
Essa transformação, no entanto, é inevitável. A Organização Marítima Internacional (IMO) estabeleceu uma meta ambiciosa de reduzir as emissões de gases de efeito estufa do setor de transporte marítimo em 20% até 2030. Embora a urgência seja clara, o setor ainda enfrenta uma “inércia tecnológica”.
O desenvolvimento de tecnologias alternativas, como combustíveis de baixo carbono e sistemas de propulsão mais eficientes, está avançando em um ritmo lento.
Isso coloca ainda mais pressão sobre as empresas de navegação, que precisam equilibrar a necessidade de investir em novas tecnologias com a sustentabilidade financeira de suas operações.
O custo alto e as dificuldades tecnológicas também afetam as pequenas e médias empresas do setor, que terão mais dificuldades para implementar soluções inovadoras de descarbonização. A falta de infraestrutura adequada em portos para abastecimento de combustíveis alternativos, como hidrogênio e amônia, também é uma barreira significativa.
Com a pressão crescente para descarbonizar a economia global, o transporte marítimo, responsável por cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, não pode mais ser ignorado.
No entanto, o setor ainda precisa de avanços significativos para que a meta de 2030 da IMO seja atingida sem um impacto catastrófico nos custos de transporte e, consequentemente, nos preços globais das mercadorias.
O desafio agora é encontrar um equilíbrio entre a urgência ambiental e a viabilidade econômica, para garantir que a descarbonização do transporte marítimo ocorra de forma eficiente, sem comprometer o comércio global e a acessibilidade de bens essenciais.