O acordo entre China e Estados Unidos para reduzir tarifas comerciais por um período de 90 dias deve provocar uma elevação significativa nas tarifas de frete marítimo global. A trégua, anunciada na segunda-feira (12/05), já está estimulando exportadores chineses a retomarem embarques para os EUA, criando uma corrida pelo aproveitamento dessa janela temporária de alívio tarifário.
Segundo dados da Bloomberg, as tarifas de frete na rota transpacífica saltaram de US$ 2.000 por unidade equivalente a 40 pés (FEU) em meados de abril para cerca de US$ 2.500 nesta semana. Este aumento reverte uma tendência de queda que havia aproximado os valores do ponto de equilíbrio em algumas rotas spot, trazendo alívio para o setor de transporte de contêineres.
O movimento ocorre após um período de forte retração no comércio bilateral. As exportações chinesas para os EUA caíram 21% no mês passado, enquanto as importações recuaram quase 14%, conforme dados recentes. A gigante de contêineres A.P. Moller-Maersk estimou, na semana passada, uma queda de 30% a 40% no volume entre China e EUA em abril.
Analistas do Jefferies indicaram que o setor de contêineres está posicionado para um aumento significativo nas tarifas com base em dois fatores: retomada dos volumes normais e início da alta temporada, que geralmente começa até julho.
A perspectiva de aumento nos fretes é intensificada pelo momento do acordo, que coincide com o início da tradicional alta temporada de exportações da China para os EUA. Este período, que normalmente se estende do verão do hemisfério norte até setembro, é marcado pelo pico de embarques antes da temporada de compras de fim de ano.
De acordo com análises publicadas no Portal Logweb, o transporte marítimo, responsável por cerca de 90% do comércio global, tornou-se o epicentro de múltiplas tensões econômicas em 2025. Em meio a transformações climáticas, pressões ambientais, instabilidade geopolítica e disrupções tecnológicas, o setor enfrenta ainda mais turbulências com o cenário geopolítico atual.
O fator tempo também é crucial para entender a pressão sobre os preços. Reposicionar navios de outras rotas para atender à demanda reprimida pode levar 40 dias ou mais, segundo o Jefferies. Enquanto isso, os armadores precisam reduzir os chamados “blank sailings” (cancelamentos de escalas) para otimizar a capacidade já alocada na rota transpacífica.
Economistas do Nomura Inc. avaliam que muitos exportadores podem ter adiado embarques para os EUA em abril, e a redução substancial das tarifas provavelmente gerará uma onda de exportações represadas.
Os impactos da trégua devem alterar também a dinâmica estabelecida nos últimos meses, quando as exportações chinesas foram redirecionadas para países como Vietnã e Tailândia, que passaram a exportar mais para os EUA. Com o novo cenário, produtos chineses que enfrentavam tarifas de até 145% agora serão taxados em 30%, revertendo esses fluxos alternativos.
Para os armadores, o acordo representa uma oportunidade significativa. A empresa espera que isso abra caminho para um acordo permanente que proporcione a previsibilidade de longo prazo necessária ao mercado.