A intensificação das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, impulsionada pela retomada das tarifas americanas sob o governo de Donald Trump, pode trazer um benefício inesperado para o Brasil: produtos mais baratos nas prateleiras. Estudo recente do Itaú BBA revela que o aumento das importações chinesas têm potencial para reduzir a inflação de bens industriais no país.
Dados extraídos da plataforma NCM Intel – solução da Logcomex – apontam um aumento de 28% nas importações brasileiras de produtos oriundos da China, no primeiro quadrimestre do ano (Janeiro a abril), totalizando US$24 bilhões. No mesmo período do ano passado, as importações somaram US$18,7 bilhões. Somente no mês de abril de 2025, as importações alcançaram US$5 bilhões, registrando aumento de 7,6% em comparação com abril de 2024 quando as importações somaram US$4,6 bilhões.
Com o acirramento das barreiras tarifárias nos EUA, parte significativa da produção chinesa destinada ao mercado americano deverá buscar novos destinos, e o Brasil aparece como receptor natural desse excedente.
Segundo as projeções do banco, um aumento de 10 pontos percentuais na participação chinesa nas importações brasileiras poderia reduzir o IPCA em até 0,20 ponto percentual, mesmo sem novas quedas nos preços. Se os produtos vierem acompanhados de valores mais baixos, como observado desde o fim da pandemia, o impacto na inflação poderia alcançar 0,50 ponto percentual.
A análise baseia-se na sobreposição entre os principais itens que Brasil e Estados Unidos compram da China. Dez categorias de produtos, incluindo máquinas e aparelhos elétricos, instrumentos mecânicos, plásticos e fertilizantes, compõem grande parte das importações brasileiras e das americanas, facilitando a substituição geográfica dos destinos.
Os cálculos apontam uma correlação inversa: para cada ponto percentual de redução da participação americana nas exportações chinesas, o Brasil tende a ganhar 0,12 ponto. Se os EUA diminuírem suas importações da China em até 70% (aproximadamente US$ 300 bilhões), a fatia brasileira poderia aumentar cerca de um ponto percentual.
Este realinhamento comercial ajuda a explicar por que modelos econômicos têm superestimado a inflação de industriais nos últimos dois anos. Segundo o Itaú BBA, para cada ponto percentual de queda no preço de importação, a inflação de bens industriais recua 0,4 ponto.
Embora o movimento não seja imediato e dependa do apetite dos importadores e da ausência de barreiras adicionais, a entrada de produtos industriais a preços mais competitivos pode se tornar um alívio importante para o bolso do consumidor brasileiro, especialmente no segmento de bens duráveis e insumos industriais.