A recente disputa comercial entre a China e a União Europeia está agitando o mercado automotivo global, com foco nos veículos elétricos (EVs).
Em resposta ao aumento das alíquotas de importação pela Europa — que podem chegar a 38% — sobre veículos elétricos chineses, a China reagiu elevando as tarifas sobre carros europeus a combustão com motores acima de 2,5 litros. Isso afeta principalmente marcas alemãs consolidadas no mercado.
A União Europeia justifica essa medida com base na proteção da sua indústria automotiva, que tem enfrentado dificuldades para competir com os preços dos carros elétricos chineses, amplamente subsidiados pelo governo de Pequim.
Em 2023, 37% dos veículos elétricos vendidos na Europa eram de origem chinesa, refletindo a crescente penetração dessas montadoras no mercado europeu.
A retaliação da China, que já impõe um imposto de 15% sobre veículos elétricos europeus, também tem como objetivo pressionar os países do bloco a reconsiderar suas tarifas.
A Alemanha, embora diretamente impactada, não participou da votação sobre essas novas tarifas, ao contrário de países como França, Itália e Espanha, que apoiaram a medida para proteger suas próprias indústrias automotivas.
Por outro lado, o país europeu começou a receber fábricas de montadoras chinesas que tentam driblar a medida adotada pela UE.
No Brasil, o impacto dessa guerra comercial ainda é incerto. No entanto, o país tem se tornado um importante mercado para os veículos elétricos chineses, com marcas do país asiático ganhando espaço.
Mesmo com o aumento de impostos locais para veículos elétricos, a China continuará exportando em grande escala para o Brasil, o que pode fortalecer ainda mais a presença dos EVs chineses no país.
No ano de 2024, entre janeiro e julho, o Brasil importou um total de US$ 8,27 bilhões em Valor FOB de veículos, segundo a Logcomex.
A China assegura-se como principal origem dos produtos, com 35% do market share. A Argentina, parceira comercial de longa data no Brasil para o segmento, está agora na segunda colocação, com 34%.
Quanto à importação de veículos eletrificados, somando a importação de 3 grandes NCMs da categoria (veículos elétricos, veículos híbridos e veículos híbridos plug-in), o valor FOB importado no acumulado de 2024, segundo a Logcomex, é de US$ 3,53 bilhões. Isto representa uma parcela de 42% dentre todos os veículos importados no ano.
A importação desta categoria de veículos é 296% maior do que no ano de 2023, de acordo com a Logcomex, e mostra como o mercado brasileiro tornou-se um grande destino para veículos eletrificados.
A China, neste recorte, desponta como maior exportadora destes veículos, com 75%, ao passo que os Estados Unidos, segundo colocado, tem apenas 4%.
A Europa, no cerne de toda a discussão sobre a batalha entre alíquotas de veículos importados, tem na Alemanha, o quinto maior exportador, como representante, com apenas 3% de EVs enviados ao Brasil.
Essa disputa comercial entre gigantes pode, assim, influenciar o mercado brasileiro, que tem se mostrado receptivo à adoção de veículos elétricos mais acessíveis. Contudo, se as tensões aumentarem, é possível que vejamos reflexos nos preços e na oferta de modelos de alta tecnologia nos próximos anos.