Balança comercial do setor têxtil – Jan a set 2025

Nos primeiros nove meses de 2025 (Janeiro a setembro), o setor têxtil brasileiro registrou um crescimento nominal em ambas as […]

Nos primeiros nove meses de 2025 (Janeiro a setembro), o setor têxtil brasileiro registrou um crescimento nominal em ambas as pontas do comércio exterior. 

As exportações avançaram 9%, impulsionadas pela forte demanda por denim (+35%) e fibras naturais (+13%) na América do Sul, de acordo com a Logcomex. Contudo, as importações cresceram 3%, atingindo US$2,5 bilhões, um volume cinco vezes superior ao exportado. 

O resultado é a manutenção de um déficit estrutural de US$2,0 bilhões no período, evidenciando a dependência do país por insumos e produtos acabados.

Diagnóstico: O risco da dupla concentração

A análise aprofundada revela riscos estratégicos em ambas as pontas da balança:

  • Risco de suprimento (Importação): A cadeia de suprimentos nacional opera com alta exposição à Ásia, com 70% dos insumos (US$1,6 bilhão) originados da China. Paralelamente, o fluxo logístico de entrada converge para um gargalo em Santa Catarina, cujos portos (Itajaí/SFS) movimentam 38% do volume, superando Santos.
  • Risco de receita (Exportação): O faturamento é ancorado no desempenho de mercados regionais, com 48% da receita (US$241 milhões) proveniente do Mercosul (Argentina, Paraguai, Uruguai). O escoamento desta produção utiliza majoritariamente os corredores terrestres (Uruguaiana/Foz), que somam 38% das saídas.

Recomendações estratégicas 

Diversificação da matriz de suprimentos

Inicie um programa de desenvolvimento e qualificação de fornecedores secundários (ex: Índia, Turquia) para os principais insumos (poliéster), reduzindo a exposição a interrupções logísticas ou mudanças de custo na China.

Diversificação de receita

Alavanque o crescimento em produtos de nicho (denim e fibras técnicas) para expandir a presença em mercados de maior valor agregado (EUA e México), utilizando os hubs marítimos (Santos) para reduzir a dependência do eixo Mercosul.

Monitoramento de concorrência

Acompanhe o avanço de produtos acabados importados (ex: edredões, +21%), que concorrem diretamente com a indústria nacional, e reavaliar o mix de insumos diante da migração do mercado de viscose (-24%) para poliéster (+8%).

Contexto macro e setorial (janeiro a setembro de 2025)

A análise do setor de têxteis no contexto do comércio exterior brasileiro é pautada por um cenário de ligeiro otimismo.

Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) mostram que a produção do setor apresentou recuperação no primeiro quadrimestre deste ano com aumento de 13,7% em comparação com o primeiro trimestre de 2024, consolidando uma alta de 8,1% no acumulado de 12 meses.

Já o Índice de Confiança do Empresário do Setor Têxtil e de Confecção (ICETEC) tem se mantido acima da linha de otimismo (50 pontos), marcando 67,38 pontos em setembro.

As principais variáveis externas que impactam o setor nos nove primeiros meses de 2025 são:

Preços de matérias-primas

O mercado global de commodities têxteis favorece as fibras sintéticas. O preço do petróleo em patamares estáveis resulta em um poliéster mais barato. Em contrapartida, o algodão enfrenta preços internacionais baixos, pressionados por safras robustas. Esta dinâmica estimula a importação de sintéticos e desafia a rentabilidade da cadeia de fibras naturais.

Tendências globais

O mercado global é impulsionado pela busca por sustentabilidade (materiais ecológicos, reciclagem de poliéster) e pela inovação em têxteis técnicos (tecidos funcionais e inteligentes).

Balança comercial setor Têxtil (Jan. a set. 2025)

MétricaValor (Jan-Set 2025)Variação (vs. 2024)Contexto adicional
ImportaçõesUS$ 2,5 bilhões+3%Frente a US$ 2,4 bilhões em 2024.
Exportações
US$ 501,4 milhões
+9%Frente a US$ 459,5 milhões em 2024. O avanço parte de uma base comparativa muito menor
Cobertura
20%
N/AValor exportado cobriu apenas 20% do valor importado, sublinhando o desafio estrutural de competitividade.
Fonte: Logcomex

Importações (Jan-Set 2025)

O crescimento de 3% nas importações mascara movimentos divergentes. A análise revela uma forte preferência por insumos sintéticos de baixo custo e um aumento na entrada de produtos acabados.

1. Desempenho por Produto (NCMs): A ascensão dos sintéticos e produtos acabados

  • Demanda por sintéticos (Poliéster): Os insumos à base de poliéster lideram o crescimento. O NCM 54075210 (Outros tecidos de poliéster texturizados) cresceu 8% (US$221,4 milhões). Similarmente, a NCM 60019200 (Veludo e pelúcia sintética) expandiu 13% (US$133 milhões).

  • Ponto de alerta (Fibras Artificiais): Em forte contraste, a NCM 55101111 (Fios de viscose) apresentou uma retração abrupta de -24% (US$67,6 milhões), indicando uma provável substituição por sintéticos mais baratos.

  • Ameaça ao produto Nacional: A NCM 94044000 (Colchas e edredões) registrou um crescimento expressivo de 21% (US$58,2 milhões), sinalizando uma maior penetração de produtos acabados asiáticos no mercado brasileiro.

Análise dos países de origem: Dependência estrutural da China

O mapa de fornecedores do Brasil permanece com um nível extremo de concentração.

  • Concentração absoluta: A China foi a origem de 70% de todas as importações têxteis (US$ 1,6 bilhão). Dada essa alta dependência, qualquer alteração na política comercial de Pequim ou interrupção logística tem o potencial de impactar severamente a disponibilidade e o custo dos insumos.
  • Fornecedores secundários: A Índia (6%, US$138,5 milhões) e o Paraguai (5%, US$129,6 milhões) são as únicas outras origens com participação superior a 5%.

Principais estados brasileiros Importadores

  • Hegemonia Catarinense: Santa Catarina (SC) foi o destino de US$1 bilhão (42%) do total importado, refletindo sua posição como o principal pólo têxtil do país.

  • Eixos Logísticos: São Paulo (SP) segue como segundo principal importador (13%, US$338 milhões), seguido por Espírito Santo (ES) (9%, US$232,2 milhões).

Logística (Unidades de Desembaraço)

  • Hubs Portuários de SC: Os portos de Itajaí (25%, US$622,8 milhões) e São Francisco do Sul (13%, US$329,2 milhões) somados representam 38% de toda a entrada de produtos têxteis, superando o Porto de Santos (30%, US$ 738 milhões). 

Esta concentração logística cria um gargalo: interrupções nas operações destes dois portos podem paralisar o suprimento da indústria.

Análise Detalhada: Exportações (Jan-Set 2025)

As exportações apresentaram um crescimento de 9%, atingindo US$501,4 milhões, mas revelam uma pauta de produtos e destinos com alta concentração.

Desempenho por produto (NCMs)

De acordo com a Logcomex:

NCMProdutoDestaque/StatusVariação (vs. 2024)Valor (Jan-Set 2025)
52094210Tecidos de denimPrincipal Destaque+35%US$ 27,2 milhões
56072100Cordéis de sisalDestaque de Crescimento+34%US$ 21,2 milhões
53050090Outras fibras vegetaisDestaque de Crescimento+13%US$ 33,6 milhões
Logcomex

Ponto de Retração: Em sentido oposto, o NCM 56031130 (Falsos tecidos de polipropileno) sofreu uma queda acentuada de -25% (US$17,5 milhões).

Países de destino: Foco estratégico na América do Sul

A pauta de destinos das exportações demonstra uma forte concentração nos mercados sul-americanos.

Liderança Regional: A Argentina figura como o principal destino individual, absorvendo 28% (US$138,8 milhões) de todas as exportações.

Eixo Mercosul: O bloco econômico é o pilar das exportações. Somados, Argentina (28%), Paraguai (14%) e Uruguai (6%) representam 48% do total exportado.

Mercados de diversificação: Fora do eixo regional, os Estados Unidos (9%, US$43,2 milhões) e a China (5%, US$26,5 milhões) destacam-se como os principais destinos.

Estados exportadoresSetor têxtil

  • Eixo SP-SC: São Paulo (SP) lidera com 38% (US$ 192 milhões) dos produtos, seguido por Santa Catarina (SC) com 22% (US$ 111,6 milhões).
  • Relevância da Bahia: A Bahia (BA) figura como o terceiro maior exportador (13%, US$ 67 milhões), desempenho provavelmente associado à sua produção de fibras naturais.

Principais unidades de Desembaraço Aduaneiro

A logística de exportação reflete diretamente a dependência do Mercosul.

  • Domínio Terrestre (Mercosul): A Alfândega de Uruguaiana (RS) foi a principal via de saída (24%, US$120,7 milhões). A AFL de Foz do Iguaçu (PR) foi a terceira (14%, US$69 milhões). Juntas, essas duas fronteiras terrestres somam 38% das exportações.

  • Fluxo Marítimo (Global): O Porto de Santos (SP) aparece como a segunda principal unidade (23%, US$116,6 milhões), sendo o hub principal para os destinos marítimos.

Insights estratégicos 

1. Risco de suprimento: A dependência da importação (China e SC)

A cadeia de suprimentos nacional está estrategicamente vulnerável. A importação de US$ 2,5 bilhões depende em 70% da China (US$1,6 bilhão).

Simultaneamente, a logística de entrada está concentrada nos portos de Itajaí e São Francisco do Sul (SC), que respondem por 38% do desembaraço.

  • Implicação: Qualquer interrupção logística na China ou paralisação nos portos de SC tem o potencial de gerar custos elevados e paralisar o fornecimento de insumos-chave, como os tecidos de poliéster.

  • Estratégia 1: Iniciar um programa ativo de desenvolvimento de fornecedores secundários (Índia, Turquia, Paquistão) para reduzir a dependência da China.

  • Estratégia 2:  Avaliar a viabilidade de rotas logísticas alternativas (ex: Portos de ES e SP) para produtos-chave, criando redundância para o hub de SC.

A dependência do Mercosul nas exportações do setor têxtil

O desempenho de exportação (US$501,4 milhões) é positivamente impulsionado por um crescimento de 9%, mas sua receita está concentrada em mercados de alta proximidade geográfica. O bloco Mercosul (Argentina, Paraguai, Uruguai) responde por 48% de toda a receita de exportação.

Estratégia 2: Utilizar o Porto de Santos (23% das saídas) como plataforma para diversificar ativamente os destinos, mirando mercados com potencial de crescimento (EUA e México), reduzindo a dependência da receita regional.

Implicação: O desempenho financeiro da pauta exportadora do setor têxtil está diretamente atrelado à demanda e às condições econômicas de poucos mercados vizinhos, com 38% do escoamento dependendo de apenas dois corredores terrestres (Uruguaiana e Foz do Iguaçu).

Estratégia 1: Manter a dominância nos mercados do Mercosul, que absorvem bem produtos como o denim (crescimento de 35%).

Leia também: Exportações da indústria têxtil: Desafios e rotas de crescimento 

 Ameaças e oportunidade nas tendências de produto

A análise das NCMs revela mudanças claras no consumo e na competição:

Estratégia: Empresas que dependem da viscose devem reavaliar seu mix de produtos ou fortalecer seus argumentos de sustentabilidade (vs. sintéticos) para justificar o preço.

Ameaça (Produto Acabado): O crescimento de 21% na importação de colchas e edredões (NCM 94044000) sinaliza uma concorrência direta e crescente de produtos asiáticos de maior valor agregado.

Oportunidade (Troca de Fibras): A queda de -24% na importação de fios de viscose (NCM 55101111) combinada com a alta de +8% em tecidos de poliéster (NCM 54075210) confirma uma migração do mercado para insumos sintéticos de menor custo.

Para executar as ações estratégicas delineadas neste relatório, o monitoramento de dados em tempo real é fundamental. 

A gestão da “Matriz de Suprimento” e o acompanhamento das tendências de NCMs (como a migração de viscose para poliéster) exigem uma plataforma robusta de inteligência de importação, como o NCM Intel Pro. Conheça!

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