Este relatório estratégico examina as dinâmicas de comércio exterior no setor alimentício, que compreende os segmentos de Arroz, Queijo Mussarela, Azeite e Vinho entre Janeiro e Setembro de 2025.
O período foi marcado por quedas acentuadas nas importações de commodities e produtos de alto valor agregado (Arroz ↓ 42%, Azeite ↓ 30%) e pela emergência de nichos de exportação de alto valor agregado (Azeite ↑ 184%), de acordo com dados da Logcomex.
A análise revela tendências críticas que exigem atenção imediata na gestão de portfólio e mitigação de riscos.
A Exportação de Arroz Semibranqueado/Branqueado (1006.30.21) caiu 45% – segundo dados da Logcomex.
Isso sugere que a produção interna está sendo retida para consumo doméstico ou que o setor perdeu competitividade de preço no mercado internacional.
Além disso, a simultânea queda de 52% na importação da mesma NCM sugere um desequilíbrio na cadeia de abastecimento interna.
Dados do CEPEA/ESALQ indicam que os preços do arroz em casca acumularam uma queda de quase 40% na parcial de 2025.
Esse recuo significativo nos preços pode estar dificultando a rentabilidade das negociações de exportação.
O setor apresenta alta fragilidade logística devido à dependência excessiva de pontos únicos de operação.
No que tange à logística, 98% da exportação de arroz concentrou-se no eixo Rio Grande do Sul/Porto de Rio Grande, de janeiro a setembro de 2025.
Ou seja, qualquer problema climático ou operacional nesta região pode travar quase a totalidade da saída do produto.
Sourcing
Em relação aos países de destino das exportações brasileiras no período analisado, nota-se uma mudança: A República Dominicana e Cuba absorviam, juntos, 57% das exportações de arroz em 2024.
Já em 2025, o ranking mudou, com o Peru ocupando a primeira posição (26%), EUA aparecendo em seguida (19%) e Portugal em terceiro lugar (17%). Cuba, no entanto, passou a ocupar a quarta posição neste ano.
Em relação à importação de queijo do tipo mussarela, 93% da importação foi oriunda do Mercosul, dependendo majoritariamente de gateways terrestres, como a ALF Foz do Iguaçu (35%).
Nesse sentido, qualquer interrupção nestas rotas ou nos polos de origem pode representar um risco sistêmico para a distribuição.
A exportação de Azeite Extra Virgem (1509.20.00) registrou crescimento de 188%, de janeiro a setembro de 2025.
Este movimento indica uma clara oportunidade para produtos brasileiros do setor alimentício que se posicionam pela qualidade e não apenas pelo volume.
Por outro lado, embora a exportação de vinho tenha crescido 24%, mais de 50% do volume se concentrou no Paraguai.
Esta estratégia de proximidade limita o Retorno sobre o Investimento (ROI) médio da exportação devido às questões cambiais.
No entanto, há oportunidade para explorar o crescimento em mercados de alto valor percebido (EUA, Letônia).
Principais NCMs de Vinhos Exportadas (Jan a Set 2025)
| NCM | Descrição | FOB 2025 | Variação % (vs. 2024) | FOB 2024 |
| 22042100 | Outros vinhos, mostos de uvas, fermentados, impedidos álcool, em recipientes de capacidade não superior a 2 litros | US$ 7,7 milhões | +25% | US$ 6,1 milhões |
| 22041010 | Vinhos espumantes e vinhos espumosos, tipo champanha (champagne) | US$ 1,3 milhão | +15% | US$ 1,1 bilhão |
| 22041090 | Outros vinhos de uvas frescas, espumantes e espumosos | US$ 320,2 mil | +47% | US$ 218,4 mil |
| 22043000 | Outros mostos de uvas | US$ 239,8 MIL | +51% | US$ 158,4 mil |
| 22042211 | Vinhos em recipientes de capacidade não superior a 5 litros | US$ 115,7 mil | -1% | US$ 116,7 mil |
| 22042910 | Vinhos em recipientes de capacidade superior a 10 litros | US$ 74 mil | +543% | US$ 11,5 mil |
| 22042219 | Vinhos em recipientes de capacidade superior a 5 litros | US$ 1,5 mil | -93% | US$ 22,4 mil |
| 22042920 | Mostos | US$ 30 | +233% | US$ 9 |
A análise conjuntural do comércio exterior brasileiro de alimentos entre Janeiro e Setembro de 2025 revela um cenário de profunda reestruturação e volatilidade, de acordo com a Logcomex.
| Produto | Exportação (Jan-Set 2025) | Variação FOB % (vs.2024) | Importação (Jan-Set 2025) | Variação FOB % (vs.2024) |
| Arroz | US$ 325 milhões | ↓ 34% | US$ 326,7 milhões | ↓ 42% |
| Queijo Mussarela | US$ 15,3 milhões | ↑ 1% | US$ 201 milhões | ↓ 7% |
| Azeite | US$ 2,8 milhões | ↑ 184% | US$ 448 milhões | ↓ 30% |
| Vinho | US$ 9,6 milhões | ↑ 24% | US$ 411 milhões | ↑ 7% |
Arroz: Exportação e importação sofrem retração drástica, sinalizando uma dinâmica de oferta e demanda interna disruptiva. Sendo assim, a incerteza do balanço de oferta e demanda (projeções divergentes entre IBGE e Conab) será crucial para a formação de preços no próximo ciclo.
Vinho: Único segmento a registrar crescimento em ambos os fluxos, apontando para um mercado doméstico aquecido e uma consolidação da presença do vinho brasileiro em mercados externos.
Azeite: A exportação demonstrou um crescimento exponencial de 184%, um sinal claro de uma base produtiva em rápida evolução de nicho.
Leia também: ACC e ACE: o que são e como funcionam os adiantamentos de câmbio na exportação?
Enquanto a ALF Foz do Iguaçu (PR) respondeu por 44% da importação de arroz e 35% da importação de queijos, a ALF Uruguaiana (RS) foi o principal gateway terrestre para o vinho importado (28%).
A alta dependência do Mercosul para Queijo e Vinho expõe a cadeia de suprimentos a riscos regulatórios e cambiais do bloco regional.
A discrepância nas projeções de produção de arroz (Conab vs. IBGE) e a queda simultânea nas importações e exportações de arroz branco sinalizam potencial escassez ou alta de preço interno.
Por isso, pode ser interessante modelar cenários de oferta e preço para 2026 (baseado nas projeções conflitantes da safra de arroz) e ajustar as estratégias de compra e proteção cambial para mitigar a volatilidade do custo landed cost.
Apesar da queda de 7% no valor total importado, o mercado foi dominado por Argentina (84%) e Uruguai (9%), no período analisado.
A exportação, com crescimento de 188% concentrou-se no Azeite de Oliva Extra Virgem (1509.20.00).
O crescimento da exportação foi impulsionado pelo NCM 2204.21.00 (Vinhos em recipientes ≤ 2 litros).
| Segmento | Insight | Ação | Estratégia Recomendada |
| Arroz | Queda brusca na Exportação de Arroz Branco (- 45%) e domínio absoluto do RS (98% da Exportação) criam um risco de single point of failure. | Estabelecer um Hub de Processamento Secundário fora do RS (e.g., MT ou SP) para diversificar o risco. Iniciar projeto piloto de exportação por portos do Sudeste/Nordeste. | Diversificação Geográfica e Logística. |
| Queijo | Argentina e Uruguai fornecem 93% da importação, enquanto o Brasil não escala exportação. | O foco deve migrar de grandes volumes para Nicho de Alto Valor. Reorientar a exportação para queijos de massa dura (0406.90.10, alta na importação) e frescos premium, capitalizando a aceitação nos EUA. | Nicho de Alto Valor e Up-Selling de NCMs. |
| Azeite | Crescimento de 188% na exportação de Extra Virgem (NCM 1509.20.00), concentrada em SC, valida um produto de nicho. | Aumentar o investimento em branding internacional focado na origem (SC) e na qualidade Extra Virgem. | Acelerar o Market Discovery e Reforçar Branding de Origem. |
| Vinho | Mais de 50% da exportação vai para o Paraguai (baixo valor agregado), limitando o ROI do crescimento de 24%. | Reduzir o foco e o subsídio logístico em mercados de baixo valor percebido e alta concentração (Paraguai). | Redirecionar Recursos para Mercados de Alta Margem (EUA e Letônia). |
O desempenho do comércio exterior do setor alimentício entre janeiro e setembro de 2025 revela um ponto de inflexão estratégico que exige diversificação de portfólio e mitigação de riscos estruturais. A elevada concentração logística — como a dependência de 98% das exportações de arroz no eixo Rio Grande do Sul / Porto de Rio Grande e a sensibilidade das importações de Queijo e Vinho às fronteiras terrestres do Mercosul — expõe o setor a riscos operacionais e regulatórios.
Sendo assim, torna-se indispensável investir em redundância logística e diversificação geográfica das rotas de processamento e escoamento.
Paralelamente, o forte crescimento de categorias premium, como o Azeite Extra Virgem (+188%), confirma o valor da estratégia de qualidade no mercado global. Contudo, a priorização de mercados regionais de baixa margem — como o Vinho destinado ao Paraguai — limita o potencial de rentabilidade.
Para avançar, o setor deve reforçar o investimento em branding, certificação e na abertura de mercados de alta rentabilidade, especialmente nos EUA e na Europa Oriental.
Conheça o NCM Intel
Nesse contexto, a inteligência de dados torna-se um pilar essencial para decisões de comércio exterior. Soluções analíticas avançadas, como o NCM Intel da Logcomex, permitem detectar padrões, antecipar rupturas logísticas, mapear exposição regulatória e gerar insights preditivos sobre competitividade e landed cost.
Por isso, o uso contínuo desse tipo de tecnologia transforma a gestão de comércio exterior de um processo reativo em uma estratégia proativa, preditiva e orientada por dados.
Assim, a tomada de decisão deve integrar cenarização, sourcing, hedging e inteligência de dados em tempo real, criando uma defesa estratégica contra a volatilidade esperada no próximo ciclo.
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