O setor de Petróleo e Gás natural brasileiro apresentou uma contração de liquidez no acumulado de 2025. As importações caíram para US$19 bilhões (retração de ~14%) e as exportações recuaram para US$41,4 bilhões (-5%), no período de janeiro a setembro de 2025, segundo dados da Logcomex.
Este cenário não indica necessariamente um desaquecimento da demanda interna, mas sim uma reacomodação de preços globais e uma mudança na estratégia de supply doméstico.
O grande destaque é o descolamento do Diesel, único derivado relevante com aumento de importação (+7%), evidenciando o déficit estrutural de refino para este combustível.
Na ponta exportadora, observa-se uma “nacionalização” da gasolina e diesel refinados aqui, cujas exportações despencaram (-53% e -42%, respectivamente), sugerindo priorização do abastecimento interno.
O agronegócio e o transporte rodoviário continuam pressionando a demanda além da capacidade das refinarias nacionais. A alta na importação, mesmo com preços globais voláteis, indica a inelasticidade da demanda.
A Rússia consolidou-se como player estrutural (23% do share total de importações do setor), provavelmente fornecendo o diesel com deságio (preço abaixo do mercado internacional) para compor o blend de custos das distribuidoras. No entanto, é válido ressaltar que a Rússia caiu da primeira posição em 2024, para a segunda posição em 2025, perdendo a liderança para os EUA.
A mudança no mix de Refino (Petróleo Bruto)
A queda abrupta na importação de Petróleo Bruto(-23%) sugere que as refinarias brasileiras estão processando maior volume de óleo nacional ou que paradas de manutenção programadas reduziram a carga processada.
Na exportação, a alta dependência da China (36%) mantém o Brasil vulnerável à desaceleração industrial asiática, refletida na leve queda de valor transacionado.
Este indicador funciona como um termômetro industrial. A queda de quase 30% sinaliza uma retração na demanda da indústria de plásticos e resinas de segunda geração, possivelmente afetada pela concorrência de produtos asiáticos importados ou estoques elevados na cadeia.
A redução na importação de GNL está frequentemente ligada a uma matriz elétrica favorável (reservatórios cheios dispensam termelétricas) ou a uma substituição pelo gás boliviano e produção doméstica. A queda na importação via gasoduto da Bolívia (visível nos dados gerais de gás) reforça que a demanda total por gás pode estar arrefecida.
O Brasil reteve gasolina. A queda brutal na exportação (-53%) indica que as refinarias (especialmente RLAM e refinarias da Petrobras) direcionaram a produção para o mercado interno para conter preços ou garantir abastecimento, reduzindo a necessidade de importação, que também caiu.
Ação: Estabelecer uma política de hedging de conformidade. Aproveitar o deságio do diesel russo para ganho de margem de curto prazo, mas manter contratos de longo prazo ativos com o Golfo do México (EUA – 36% do share) como seguro de continuidade, dado o risco de sanções secundárias ou problemas de pagamento internacional.
Ação: Para indústrias petroquímicas, este é o momento de travar contratos de fornecimento futuro a preços spot deprimidos, antecipando uma retomada industrial em 2026.
Ação: Avaliar custos de cabotagem a partir da Baía de Todos os Santos. Para distribuidores do Nordeste/Norte, nacionalizar via Bahia (provavelmente via operação privada de refino/terminal) pode ser tributária e logisticamente mais eficiente do que via Santos ou São Luís para derivados.
Ação: Para exportadores de Crude, monitorar o line-up de Itaguaí e Terminal de Angra. A concentração extrema cria risco de demurrage (sobreestadia de navios) elevado em caso de eventos climáticos ou greves.
Ação: Diversificar o destino do Crude Oil. A Índia (hoje apenas 3% do destino) é o mercado de refino que mais cresce no mundo. Direcionar esforços comerciais para refinarias indianas pode criar um hedge de demanda contra uma eventual desaceleração chinesa.
Ação: Monitorar a paridade de importação (PPI). Se a produção local está sendo direcionada internamente, as janelas de arbitragem para importação de gasolina premium ou componentes de misturas podem se fechar temporariamente devido à oferta local abundante. Focar em trading de Diesel, onde o déficit é crônico.
Ação: Reforçar due diligence das embarcações (Dark Fleet). O desconto no preço não pode comprometer a bancarização da operação. Garantir que as operações com origem sancionada estejam dentro do Price Cap do G7 para evitar bloqueios de pagamentos em dólares.
O ano de 2025 apresenta um mercado de O&G mais “fechado” em termos de volumes financeiros totais, mas mais complexo em sua engenharia. O Brasil está exportando menos produtos refinados para garantir a segurança energética doméstica, enquanto se torna cada vez mais dependente do Diesel importado (agora com forte presença russa).
Para os gestores, a palavra de ordem é dualidade: manter a segurança operacional com parceiros tradicionais (EUA) enquanto se captura a margem tática oferecida pelos novos fluxos (Rússia/Bahia). O risco não está na falta de produto, mas na concentração logística e geopolítica das origens e destinos.