Importação de eletrônicos: Análise e recomendações estratégicas

O Setor de Fabricação de Produtos Informáticos, Eletrônicos e Ópticos registrou um valor importado de US$ 7,6 bilhões entre janeiro […]

O Setor de Fabricação de Produtos Informáticos, Eletrônicos e Ópticos registrou um valor importado de US$ 7,6 bilhões entre janeiro e setembro de 2025, representando uma retração de 14% em comparação com 2024 (US$ 8,8 bilhões), de acordo com a Logcomex.

A queda global é amplamente determinada pela categoria de Fabricação de Componentes Eletrônicos e Placas, que retraiu 18%, totalizando US$6,2 bilhões. O principal vetor de declínio é a importação de Células Fotovoltaicas Montadas (NCM 85414300), que caiu 45% (de US$2 bilhões para US$1,1 bilhão).

Em contraste, a categoria de Fabricação de Produtos Eletrônicos de Consumo demonstrou resiliência e crescimento, expandindo 9%, para US$1,4 bilhão. Este crescimento é impulsionado por nichos de alto valor, como Áudio Automotivo (NCM 85272100, +30%), Alto-falantes (NCM 85182200, +51%) e Vídeo Games (NCM 95045000, +26%).

A China manteve-se como principal fornecedor, responsável por 52% do valor total importado.

A estrutura logística possui os modais aéreos de Manaus e Viracopos respondendo por 48% das unidades de desembaraço.

Análise e hipóteses de mercado de importação de eletrônicos

Ajuste de estoques vs. Demanda de consumo

A retração de 14% reflete um ajuste cíclico de estoques em commodities de componentes (exemplo: Solar, Processadores), e não uma queda generalizada na demanda final.

  • A queda de 45% nas Células Fotovoltaicas (NCM 85414300) distorce o panorama setorial. É possível que a base comparativa de 2024 tenha sido inflacionada por um boom de projetos e antecipação de importações, somada à intensa erosão de preço FOB unitário global, o que reduz o valor da importação sem necessariamente refletir uma queda no volume de unidades.

  • O crescimento de 9% nos Produtos de Consumo e os picos em nichos como Vídeo Games (+26%) e Áudio (+51%) indicam que a demanda de consumo final por eletrônicos está aquecida, especialmente em itens de lazer e mobilidade (áudio automotivo +30%).

Nacionalização parcial da produção (PPB)

A análise de semicondutores e memórias reforça a hipótese de um movimento estratégico de agregação de valor local, provavelmente impulsionado por políticas fiscais:

  • Memórias: A importação de Memórias Não Montadas (NCM 85423210) cresceu 18% (US$386,7 milhões).
  • Contraste: A importação de Memórias Montadas (NCM 85423229) caiu 32% (US$373,8 milhões).

Análise conjuntural: A indústria local está importando a matéria-prima essencial (não montada) para realizar o encapsulamento ou a montagem (SMD) no Brasil. Isso é um sinal de maior sofisticação e verticalização da cadeia produtiva local, especialmente no Polo Industrial de Manaus (AM, 39% das importações)

Anomalia de potência

O crescimento massivo de 149% em Tiristores, Diacs e Triacs (NCM 85413029), componentes fundamentais para controle de potência, é uma anomalia de mercado.

Hipotetiza-se a demanda por projetos em automação industrial avançada, desenvolvimento de inverters e conversores, ou o início de grandes projetos de eletrificação (ex: mobilidade elétrica).

Mapeamento de performance por categoria

CategoriaNCMDescriçãoValor FOB 2025 (US$)% Variação (2025 vs. 2024)
Declínio Estrutural85414300Células fotovoltaicas montadas1,1 bilhão-45%
85423229Outras memórias digitais montadas373,8 milhões-32%
Componentes Essenciais85423120Processadores e controladores (SMD)1,6 bilhão-8%
85423939Outros circuitos integrados monolíticos807,6 milhões-7%
Crescimento de Nicho85413029Tiristores, Diacs e Triacs37,6 milhões+149%
85182200Alto-falantes múltiplos105 milhões+51%
85272100Aparelhos receptores de radiodifusão (carro)212 milhões+30%
95045000Vídeo games168 milhões+26%
Sustentação Local85423210Memórias não montadas386,7 milhões+18%
Fonte: Logcomex

Dinâmica da Cadeia de Suprimentos

  • A China é o fornecedor dominante, respondendo por 52% do total importado (US$4 bilhões).
  • Os Top 4 Países Asiáticos (China, Coreia do Sul, Taiwan, Vietnã) concentram 85% do suprimento.

Logística

A logística é moldada pelo destino industrial e pelo custo-benefício (urgência versus volume).

  • Polos Industriais: Amazonas (39%) e São Paulo (30%) concentram quase 70% das importações.

  • Modal Aéreo Dominante: O Aeroporto Eduardo Gomes (28%) e Viracopos (20%) somam 48% dos desembaraços, indicando que o alto valor agregado e a urgência (Just-in-Time) dos componentes (processadores, memórias) justificam o custo do frete aéreo para Manaus e a indústria paulista.

  • Outros Importadores: Santa Catarina (10%), Minas Gerais (4%) e Rio Grande do Sul (4%) representam hubs secundários importantes.

 Insights estratégicos & oportunidades para importação de eletrônicos

Estratégia de Sourcing e Portfólio

  • Começar a prospectar fornecedores e canais de distribuição para componentes de potência (NCM 85413029, +149%). Este nicho de alto crescimento pode ser uma porta de entrada para novos mercados como a eletrônica veicular avançada ou a automação industrial de grande escala.
  • Mudar o foco do sourcing de memórias montadas para memórias não montadas (NCM 85423210, +18%), alinhando a cadeia de suprimentos com a nova estratégia de nacionalização parcial da produção no Brasil.

  • Continuar e aumentar o investimento na importação e distribuição de itens de Áudio Automotivo (NCM 85272100, +30%) e entretenimento (ex:., Videogames, Alto-falantes), aproveitando a demanda final aquecida.

Leia também: Anvisa avança na integração à DUIMP, recuo da produção industrial, disputa por terras raras e mais

Estratégia de logística

  • Suspender importações de grande volume de Células Fotovoltaicas (NCM 85414300) sem um novo planejamento de estoque que reflita a desvalorização de 45% do valor importado, evitando a depreciação de estoque.

  •  Continuar a priorizar o modal aéreo (Aeroportos de Manaus e Viracopos, 48% de share) para componentes críticos (ex:, processadores, memórias não montadas), dada a urgência imposta pelo ciclo produtivo (JIT) e a concentração industrial em AM e SP.

  • Mudar o nível de detalhamento e auditoria dos contratos com fornecedores na Ásia, dada a alta concentração de 85% do sourcing nos Top 4 países, para mitigar o risco de interrupção de fornecimento.

É possível colocar como meta a redução da exposição do portfólio às categorias em declínio e aumentar a participação das categorias de alto crescimento (Automotivo/Áudio/Potência) de 10% para 15% do valor total importado em 12 meses.

Conclusão 

O panorama das importações de eletrônicos no período de janeiro a setembro de 2025 revela um setor em ajuste cíclico, com uma retração geral de 14% que é desproporcionalmente impulsionada pela correção no mercado de energia solar.

Tendências subjacentes:

  • A confirmação de uma nacionalização parcial de etapas produtivas, evidenciada pela crescente importação de memórias não montadas (+18%).

  • O forte aquecimento em nichos de eletrônica embarcada e de consumo (Automotivo e Áudio), apontando para bolsões de demanda robusta.

  • A extrema dependência da logística aérea para Manaus (AM) e São Paulo (SP), sublinhando a criticidade do timing de fornecimento.

A chave para a vantagem competitiva reside em trocar a defesa  pela ofensiva (investimento em Potência e Automotivo), otimizando o sourcing para o novo perfil de industrialização local e garantindo a resiliência logística.


Compartilhe

Assine nossa newsletter

Receba as novidades e promoções exclusivas, fique tranquilo o seu email está seguro com a gente!