As novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros exigem ação estratégica imediata dos exportadores nacionais para reduzir perdas e buscar novos mercados.
Com a recente decisão dos Estados Unidos de impor tarifas adicionais de 50% a diversos produtos brasileiros, incluindo carnes, açúcares e produtos agrícolas, o momento exige uma análise aprofundada sobre o impacto real dessas medidas e as estratégias que os exportadores brasileiros podem adotar para minimizar riscos e aproveitar oportunidades emergentes.
A ordem executiva assinada em 30 de julho de 2025 pelo governo americano estabeleceu uma lista de 694 produtos que ficarão isentos da nova tarifa adicional de 40%, de um total de mais de 4.000 NCMs exportadas no 1º semestre de 2025 para os Estados Unidos.
Essa lista inclui matérias-primas estratégicas para os EUA. Ao analisarmos a pauta de exportação brasileira, um padrão claro emerge:
As isenções protegem majoritariamente os interesses econômicos americanos, preservando o acesso a matérias-primas essenciais, enquanto produtos com maior valor agregado e relevância para o agronegócio brasileiro são os mais afetados.
Na prática, isso significa que grande parte dos principais produtos exportados pelo Brasil aos EUA não será afetada. Por exemplo, dos US$ 40,4 bilhões exportados em 2024 aos EUA, 14,4% correspondiam a óleos brutos de petróleo, que estão isentos da tarifa adicional. Outros produtos isentos incluem minério de ferro e insumos para setores como papel, celulose e aviação civil.
Um dos setores mais afetados será o de carnes, especialmente a bovina. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), o Brasil pode perder até US$ 1 bilhão em exportações de carne bovina para os Estados Unidos caso a tarifa seja efetivamente aplicada.
Para a NCM 02023000, que compreende carnes desossadas de bovino congeladas, os Estados Unidos consolidaram-se como o segundo maior mercado importador do produto brasileiro, ficando atrás apenas da China.
No entanto, para outros formatos do produto bovino, o Brasil possui mercados com maior volume e potencial, que podem absorver o eventual redirecionamento do fluxo comercial.
Países como Chile, Argélia, Uruguai, México, Líbano e Arábia Saudita já importam volumes superiores de carne bovina brasileira, evidenciando que a diversificação de mercados já é uma realidade para o setor.
O café, outro produto da pauta exportadora brasileira, enfrenta uma situação particular. De acordo com a Embrapa, como maior produtor mundial, o Brasil registrou um aumento de 47% nas exportações do grão no primeiro semestre de 2025, alcançando recordes históricos em receita.
O Brasil consolidou em 2025 uma estratégia diversificada de abertura de mercados para café, com destaque para o acordo com a Luckin Coffee chinesa para US$ 2,5 bilhões (2025-2029) e pelo fortalecimento da presença no Oriente Médio, onde fechou US$ 191,6 milhões em negócios projetados até 2026.
Em fevereiro de 2025, durante a World of Coffee Dubai, a delegação brasileira realizou 665 contatos comerciais (444 novos), fechando US$ 48,6 milhões em negócios presenciais e projetando US$ 143,1 milhões até 2026.
O Oriente Médio, por exemplo, importou 3,266 milhões de sacas em 2024, com crescimento de 22% em volume e 47,4% em receita.
Na World of Coffee Genebra, realizada em junho de 2025, empresários brasileiros realizaram 921 contatos comerciais (561 novos), fechando US$ 19,7 milhões em negócios presenciais e projetando US$ 87,5 milhões adicionais, totalizando US$ 107,2 milhões. Este resultado representa um crescimento de 18% comparado à edição anterior do evento.
Porém, uma análise mais detalhada revela um cenário complexo com os Estados Unidos, maior consumidor mundial e principal destino do café brasileiro:
Enquanto o valor FOB das exportações para os EUA aumentou, o volume em quilogramas caiu (redução de 21,2%) no primeiro semestre de 2025.
Este contraste evidencia uma forte alta nos preços do café, mas também indica que os americanos já estavam reduzindo suas compras antes mesmo da imposição das novas tarifas.
A Alemanha e a Itália emergem como parceiros alternativos, ocupando respectivamente o segundo e terceiro lugares entre os maiores importadores do café brasileiro. A Alemanha adquiriu 1,78 milhão de sacas (12,88% do total) e a Itália 1,14 milhão (8,25%) apenas no primeiro quadrimestre de 2025.
É importante ressaltar que café e carne são apenas dois exemplos de destaque na pauta exportadora brasileira. A análise via Export Intel da Logcomex também revela um portfólio de produtos de menor volume, mas com potencial de crescimento nas exportações para outros países e mercados.
Enquanto as tarifas americanas criam obstáculos, o Brasil intensifica sua estratégia de abertura de novos mercados. Em 2025, o país já conquistou 97 novas aberturas de mercado para produtos agropecuários, envolvendo 34 países diferentes.
“Com esses anúncios, o agronegócio brasileiro alcança 381 aberturas de mercado desde o início de 2023. Esses resultados são fruto do trabalho conjunto entre o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA)”, destaca o comunicado oficial do governo brasileiro.
Um caso exemplar é a recente abertura do mercado das Bahamas para carnes brasileiras. Em maio de 2025, as autoridades locais aprovaram o certificado sanitário para que o Brasil exporte carne bovina, suína, de aves e seus derivados.
O mercado bahamense, atualmente abastecido principalmente por fornecedores americanos e canadenses, representa uma oportunidade para frigoríficos brasileiros que buscam diversificar sua carteira de clientes com margens potencialmente superiores às praticadas no mercado americano.
Esta conquista se soma a outros avanços no primeiro semestre de 2025, como a abertura efetiva do mercado vietnamita em março, com a primeira exportação realizada em julho.
Segundo análises do International Trade Centre (ITC), o Brasil possui ainda potencial inexplorado para exportação de cortes bovinos (NCM: 020130) para mercados como Japão, China e Coreia do Sul.
As tarifas não afetam apenas os exportadores diretos, mas toda a cadeia produtiva. No caso da carne bovina, por exemplo, o impacto se estende desde os produtores rurais até os setores de logística e serviços relacionados.
Segundo o Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado de Mato Grosso do Sul (SICADEMS), estado em que a carne bovina representou 32,2% das exportações para os EUA (US$ 215 milhões) em 2024, o efeito pode ser especialmente sentido.
O mesmo ocorre em estados como Goiás. De acordo com o levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o produto representou 36,8% das exportações para o mercado americano (US$ 150,4 milhões).
No entanto, o impacto será mitigado pela capacidade do setor em diversificar mercados.
Segundo dados do Export Intel da Logcomex, atualmente já existem mais de 400 empresas ao redor do mundo comprando carne bovina brasileira (NCM: 020130), demonstrando o potencial mercadológico a ser explorado.
Diante do cenário atual, empresas brasileiras estão adotando abordagens diversificadas:
A conjuntura comercial atual, marcada por protecionismo crescente, exige postura proativa das empresas brasileiras. Se as tarifas americanas representam desafio imediato, a abertura de novos mercados oferece perspectivas promissoras.
Os dados confirmam essa tendência: das 29 mil empresas exportadoras brasileiras, apenas cerca de 3 mil direcionam produtos aos EUA. Com 97 novas aberturas de mercado só em 2025, surgem oportunidades significativas para diversificação.
Em um cenário onde informações precisas tornam-se cada vez mais estratégicas, o Export Intel permite que exportadores brasileiros:
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