Frete marítimo: o impacto real para importadores brasileiros

O transporte marítimo responde por 80% do volume global de mercadorias, segundo a UNCTAD, e vem ganhando ainda mais relevância no cenário brasileiro. Embora o foco do setor muitas vezes recaia sobre operadores logísticos, são os importadores que enfrentam diretamente os efeitos das flutuações desse mercado.

O transporte marítimo, responsável por 80% do volume global de mercadorias movimentadas segundo a UNCTAD, está em trajetória de expansão significativa. 

Enquanto o foco de análises costuma recair sobre agentes de carga, são os importadores ativos no Brasil que efetivamente arcam com as flutuações deste mercado. 

Ciclo de recuperação do valor adicionado no Brasil

Os dados da Statista Market Insights revelam um padrão preocupante para os importadores brasileiros. O valor adicionado do mercado de transporte de carga no Brasil apresentou queda acentuada de US$ 72,12 bilhões em 2019 para apenas US$ 36,14 bilhões em 2024 – uma retração de quase 50% em cinco anos. 

A projeção indica leve recuperação para US$ 40,41 bilhões em 2025, seguida de estabilidade relativa até 2029, quando alcançará US$ 39,12 bilhões.

Esta trajetória demonstra que o mercado brasileiro ainda opera significativamente abaixo de seu potencial pré-pandêmico, criando um ambiente de escassez que tende a pressionar custos para os importadores. 

Transformação no perfil de transporte brasileiro

O gráfico de “transporte de carga” mostra uma tendência clara: enquanto o transporte rodoviário apresenta declínio gradual (de 538,35 bilhões de TKM em 2019 para projetados 450,81 bilhões de TKM em 2029), o transporte marítimo global mantém relativa estabilidade, com suave tendência de crescimento a partir de 2025.

Para os importadores brasileiros, essa transformação traz implicações estratégicas:

1. A crescente dependência do transporte marítimo global (waterborne) aumenta a exposição a volatilidades internacionais;

2. A redução na capacidade rodoviária pode criar gargalos logísticos para a distribuição após a chegada nos portos;

3. O crescimento sustentado do transporte aéreo, embora ainda pequeno em volume, oferece alternativas para cargas de alto valor e urgência.

Redução da intensidade de transporte

Um dado particularmente alarmante para importadores é a queda contínua na intensidade de transporte marítimo global do Brasil, que deve reduzir de 0,22 TKM/PIB em 2020/2021 para apenas 0,12 TKM/PIB em 2029. 

Esta métrica, que relaciona o volume transportado ao PIB, revela que a economia brasileira está se tornando menos eficiente em termos logísticos. Para os importadores, esta tendência significa:

  • Maior custo relativo de movimentação de mercadorias;
  • Possível perda de competitividade frente a mercados com maior eficiência logística;
  • Necessidade de revisão de estratégias de suprimentos para compensar a redução da capacidade relativa.

Crescimento consistente nos portos brasileiros

Em contraste com os dados de intensidade de transporte, o tráfego portuário de contêineres no Brasil mostra tendência positiva consistente, com crescimento projetado de 12,15 milhões de TEUs em 2024 para 13,56 milhões de TEUs em 2029 – um aumento de 11,6% em cinco anos.

Este crescimento no volume absoluto, combinado com a redução na intensidade relativa ao PIB, indica que:

1. Os portos brasileiros estão ganhando capacidade operacional;

2. A economia como um todo não está aproveitando plenamente esta expansão;

3. Existem oportunidades para importadores que conseguirem otimizar suas operações portuárias.

Projeções de crescimento e pressão de custos

O volume global de mercadorias transportadas por via marítima deve saltar de 7,71 trilhões de toneladas-quilômetro (TKM) em 2024 para 9,33 trilhões de TKM até 2029, conforme dados da Statista Market Insights. Este crescimento de 21% pressionará ainda mais a estrutura de custos dos importadores brasileiros, especialmente considerando que:

  • A movimentação de contêineres nos portos brasileiros está projetada para atingir 12,42 milhões de TEUs em 2025;
  • O valor adicionado do mercado brasileiro de transporte de carga deve alcançar US$ 40,41 bilhões em 2025, ainda bem abaixo dos níveis pré-pandêmicos.

Para os importadores, estes números se traduzem em desafios concretos: redução de margem comercial, perda de competitividade e potenciais rupturas no abastecimento.

CONCENTRAÇÃO DE RISCOS: A DEPENDÊNCIA CRESCENTE DA CHINA

Segundo dados da Logcomex, a análise de janeiro a maio de 2025 revela uma tendência: a China ampliou sua participação como origem das importações brasileiras, saltando de 51,5% para 53% em comparação ao mesmo período de 2024. Enquanto isso, Vietnã (queda de 7,74% para 6,94%) e Estados Unidos (redução de 5,85% para 5,23%) perderam espaço relativo.

Esta concentração aumenta significativamente o risco operacional para importadores que dependem de poucos mercados fornecedores, especialmente em um cenário global marcado por:

  • Conflitos no Mar Vermelho forçando desvios de rotas;
  • Escalada de tarifas retaliatórias entre China e EUA;
  • Gargalos operacionais em portos asiáticos e europeus;
  • Pressão inflacionária sobre combustíveis e seguros.

O que mudou nos embarques brasileiros (2024-2025)

Os dados da Logcomex (Shipment Intel) mostram mudanças estratégicas que afetam diretamente os importadores:

Volume total:

  • 2024 (jan-mai): 1.332.662 TEUs
  • 2025 (jan-mai): 1.429.177 TEUs (+7,25%)

Principais Portos receptores:

  • Santos (SP): crescimento de 149.669 para 177.524 TEUs (+18,6%)
  • Itapoá (SC): aumento de 89.376 para 94.438 TEUs (+5,7%)
  • Paranaguá (PR): leve alta de 74.553 para 75.243 TEUs (+0,9%)

Alteração no perfil de produtos importados:

  • Máquinas, aparelhos e materiais elétricos e plásticos mantêm liderança;
  • Têxteis e vestuário substituem produtos químicos orgânicos na terceira posição;
  • Perfil industrial segue dominante nas importações.

Impacto direto para quem importa

Para importadores brasileiros, as flutuações no mercado de frete marítimo representam desafios imediatos:

  • Aumento nos custos logísticos pressiona margens, capital de giro e preço final;
  • Empresas sem estratégias de mitigação perdem espaço para concorrentes mais adaptáveis;
  • Atrasos e redirecionamentos comprometem cronogramas de produção e distribuição;
  • A dependência de rotas concentradas aumenta a vulnerabilidade da cadeia de suprimentos.

Importadores que utilizam inteligência de mercado conseguem negociar melhores condições com os operadores logísticos.

O paradoxo brasileiro: crescimento sem eficiência

Os dados apresentados revelam um paradoxo no mercado brasileiro de frete marítimo:

1. O tráfego portuário de contêineres cresce consistentemente (projetado aumento de 11,6% entre 2024-2029);

2. O valor adicionado do mercado recupera-se lentamente, mas ainda 45% abaixo do pico de 2019;

3. A intensidade de transporte marítimo global cai drasticamente (redução de 45% entre 2021-2029).

Este cenário sugere que, apesar dos investimentos em infraestrutura portuária, o Brasil está se tornando menos eficiente na conversão dessa capacidade em valor econômico – o que impacta diretamente os custos para importadores.

Os dados mostram que a verdadeira vantagem competitiva não está apenas em negociar tarifas de frete, mas em entender profundamente as tendências de capacidade, eficiência e concentração do mercado para tomar decisões estratégicas que minimizem riscos e maximizem oportunidades em um cenário cada vez mais complexo.


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