Exportações brasileiras de carne: tendências

O Brasil reafirma e fortalece sua posição como um dos principais fornecedores globais de proteína animal.

Este relatório analisa as tendências atuais, os dados do primeiro quadrimestre de 2025 e as projeções até 2029, oferecendo insights estratégicos para os participantes do setor.

Panorama atual das exportações (primeiro quadrimestre de 2025)

Segundo dados da Logcomex para o primeiro quadrimestre de 2025, o cenário é bastante positivo:

  • Volume exportado: 1,23 bilhão de quilos, aumento de 14,1% em relação ao mesmo período de 2024
  • Valor FOB total: US$ 5,12 bilhões, crescimento de 24,9% na comparação anual

A pauta exportadora segue concentrada em três categorias principais de produtos, conforme análise detalhada da Logcomex:

  • Carnes desossadas de bovino congeladas (NCM 02023000):
    • US$ 3,47 bilhões em exportações
    • 714 milhões de quilos
    • Crescimento do FOB de 22% em valor em relação a 2024
    • Representa aproximadamente 68% do valor total exportado
  • Outras carnes de suíno congeladas (NCM 02032900):
    • US$ 960 milhões em valor FOB
    • Aproximadamente 19% do valor total exportado
  • Carnes desossadas de bovino frescas ou refrigeradas (NCM 02013000):
    • US$ 622 milhões
    • Avanço de 37% sobre 2024
    • Representa cerca de 12% do valor total exportado

A distribuição geográfica das exportações brasileiras de carne no primeiro quadrimestre de 2025, segundo dados da Logcomex, revela concentração significativa, mas também sinais de diversificação:

1. China:

  • US$ 2,01 bilhões em valor FOB
  • 39% de participação no total exportado
  • 447 milhões de quilos (36% do volume total)

2. Estados Unidos:

  • US$ 611 milhões em valor FOB
  • Aproximadamente 12% do total exportado

3. Chile:

  • US$ 290 milhões em valor FOB
  • Cerca de 5,7% do total exportado

4. Filipinas:

  • US$ 283 milhões em valor FOB
  • Aproximadamente 5,5% do total exportado

5. Outros mercados relevantes:

  • Hong Kong, México, Argélia, Japão, Singapura e Uruguai

A infraestrutura logística para as exportações de carne mantém padrões tradicionais, com predominância do modal marítimo e concentração em poucos portos, conforme detalhado pela Logcomex:

Canais logísticos principais

  • Porto de Santos (SP): 44% do valor FOB do total nacional
  • Porto de Paranaguá (PR): 25% do valor FOB
  • Porto de São Francisco do Sul (SC): 9% do valor FOB

Estados exportadores

  • Mato Grosso: US$ 935 milhões (18,3% do total)
  • São Paulo: US$ 783 milhões (15,3% do total)
  • Santa Catarina: US$ 547 milhões (10,7% do total)
  • Outros estados relevantes: Goiás, Mato Grosso do Sul e Rondônia

Atualização geopolítica: tarifa de 50% imposta pelos EUA

Em julho de 2025, o governo dos Estados Unidos anunciou a imposição de tarifas de 50% sobre todas as importações oriundas do Brasil, com vigência a partir de agosto. 

A medida, classificada por associações de exportadores como uma retaliação política, gerou forte reação do setor produtivo brasileiro, especialmente o de carnes. 

Entidades como a ABPA e a ABIEC afirmaram que a nova tarifa inviabiliza economicamente as exportações brasileiras de carne aos EUA, comprometendo a continuidade dos embarques para o país.

Além do impacto direto na balança comercial, representantes do setor alertam para potenciais efeitos sobre o abastecimento e os preços dos alimentos nos Estados Unidos, caso o fluxo comercial seja interrompido. 

O episódio reforça a volatilidade das relações comerciais internacionais e destaca a urgência de estratégias de diversificação de mercados por parte do exportador brasileiro.

Tendências e projeções (2018-2029)

Segundo o Statista Market Insights, a análise dos dados históricos e das projeções para as exportações brasileiras de carne revela uma trajetória consistente de crescimento no médio e longo prazo:

Principais observações:

  • Crescimento projetado: +23% entre 2024 e 2029
  • Aumento absoluto: de US$ 7,8 bilhões para US$ 9,6 bilhões
  • CAGR (2024-2029): aproximadamente 4,2% ao ano
  • Recuperação pós-pandemia: queda em 2020 seguida de forte recuperação em 2021
  • Estabilização 2022-2024: período de consolidação antes de novo ciclo de crescimento

Os dados do primeiro quadrimestre de 2025 da Logcomex (US$ 5,12 bilhões) sugerem que a projeção anual de US$ 8,5 bilhões pode ser até conservadora, caso o ritmo seja mantido nos próximos trimestres.

Produção vs. Exportação

Um dos aspectos mais intrigantes do cenário analisado é a divergência entre a tendência crescente das exportações e a redução projetada na produção bruta nacional:

  • Redução projetada: -28,5% entre 2018 e 2029
  • Queda média anual: aproximadamente -2,6% ao ano

Posicionamento global do Brasil

No cenário internacional, o Brasil mantém posição de destaque, embora não lidere em termos de volume bruto de produção:

Apesar de ocupar a 5ª posição em produção bruta, o Brasil se diferencia pela elevada proporção do que exporta em relação ao que produz. 

Em 2025, as projeções indicam que cerca de 28,9% da produção nacional (US$ 8,5 bilhões de US$ 29,4 bilhões) será destinada à exportação, índice significativamente superior ao de concorrentes como EUA e China. No mercado global, as projeções da Statista Market Insights apontam:

  • Mercado global de carne: US$ 1,35 trilhão até 2029
  • CAGR global (2024-2029): 3,62%
  • Exportações globais: crescimento de US$ 71,4 bilhões (2024) para US$ 81,9 bilhões (2029), CAGR de 2,81%
  • Importações globais: aumento de US$ 73,1 bilhões (2024) para US$ 83,7 bilhões (2029), CAGR de 2,74%

Estas projeções reforçam que o crescimento esperado para as exportações brasileiras (CAGR de 4,2%) supera a média global (2,81%), indicando ganho de market share do Brasil no comércio internacional de carnes no período analisado.

Importações brasileiras

Embora em escala muito menor que as exportações, as importações brasileiras de carne também mostram tendência de crescimento:

  • 2020: US$ 35,9 milhões
  • 2029 (projeção): US$ 64,4 milhões
  • Crescimento projetado: +79,4% em nove anos

Este movimento pode indicar:

  • Demanda por cortes ou especialidades não produzidos localmente
  • Estratégias de diversificação do abastecimento interno
  • Possíveis operações de industrialização complementar

Indústria de processamento de carnes

O setor de fabricação de produtos alimentícios, especialmente o processamento e conservação de carnes, concentra a totalidade das exportações monitoradas pela Logcomex. Os dados do primeiro quadrimestre de 2025 mostram um crescimento expressivo em relação ao mesmo período de 2024:

  • Valor FOB: +25% 
  • Volume: +14%

A Ásia continua sendo a região mais promissora para as exportações brasileiras de carne, com projeção de importações totais de US$ 34,26 bilhões em 2029. A forte presença da China como principal destino das exportações brasileiras (39% do total em 2025, segundo a Logcomex) reforça a importância estratégica do continente asiático para o setor.

Outros mercados que merecem atenção por seu potencial de crescimento incluem:

  • Oriente Médio: demanda crescente por proteína halal
  • África: aumento populacional e da classe média em países selecionados
  • América do Norte: oportunidades de nichos específicos nos EUA

Conclusão

O Brasil reafirma e fortalece sua posição como um dos principais fornecedores globais de proteína animal, com projeções de crescimento sustentado nas exportações de carne até 2029, apesar da tendência de redução na produção bruta nacional. 

O desempenho expressivo no primeiro quadrimestre de 2025, evidenciado pelos dados da Logcomex, confirma esta trajetória ascendente e sugere possível superação das projeções anuais.

A reconfiguração estrutural do setor, com maior foco no mercado externo e possível redução relativa da oferta doméstica, representa tanto uma oportunidade quanto um desafio para os diversos stakeholders envolvidos.

O êxito contínuo das exportações brasileiras de carne dependerá da capacidade do setor em navegar os desafios identificados, capitalizar as oportunidades emergentes e manter-se competitivo em um mercado global cada vez mais exigente.

A estratégia nacional para o setor precisa equilibrar o legítimo foco nas oportunidades do mercado externo com a necessidade de garantir o abastecimento interno a preços competitivos, evitando pressões inflacionárias sobre um item essencial da cesta básica do consumidor brasileiro.

Fontes: Dados compilados a partir do Statista Market Insights – Agricultura (set. 2024), Logcomex (abril/2025) e projeções internas de mercado com base nas taxas de câmbio e valores ajustados para dólares americanos.


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