A recente escalada de conflitos no Oriente Médio, com ataques entre Irã, Israel e Hezbollah, está gerando implicações significativas não apenas para o setor de viagens aéreas, mas também para os negócios globais, incluindo o comércio exterior.
As empresas de transporte aéreo estão desviando ou cancelando voos, ou que afetam diretamente a logística internacional e as operações de empresas exportadoras, importadoras e prestadoras de serviços.
Além disso, mercados como o de viagens e aviação já estão vendo quedas significativas em suas ações.
Diversificação de rotas
Apesar do cenário desafiador para o comércio global, as empresas brasileiras que atuam no comércio exterior, especialmente em mercados distantes, têm a vantagem de diversificar suas rotas e parcerias.
A infraestrutura logística do Brasil, que abrange diferentes portos e aeroportos, permite uma flexibilidade estratégica, minimizando a dependência de rotas aéreas que passam por zonas de conflito.
Esse tipo de resiliência logística pode servir como uma força competitiva para manter o fluxo de mercadorias em tempos de instabilidade internacional.
Setores como o de alimentos e commodities, por exemplo, que exportam para o Oriente Médio, podem contar com transporte marítimo, garantindo a continuidade das operações.
Por outro lado, a dependência de determinadas rotas aéreas para o transporte de produtos de alto valor, como componentes eletrônicos ou bens farmacêuticos, expõe empresas brasileiras a possíveis interrupções da cadeia de suprimentos.
A interrupção de voos ou o aumento de custos com desvios mais longos pode elevar os custos operacionais e logísticos, prejudicando os prazos de entrega e as margens de lucro.
Isso é particularmente grave para negócios que dependem de um abastecimento eficiente e ágil, como de tecnologia ou produtos perecíveis.
Conflito Irã x Israel: Desafios logísticos
O desafio mais evidente reside no aumento do risco geopolítico, que afeta diretamente a previsibilidade e a confiança no comércio global.
A interrupção de voos e a escalada do conflito podem provocar um aumento no custo do frete e nos seguros de cargas, além de dificuldades na estabilidade econômica de parceiros comerciais.
As empresas brasileiras que dependem de importações de insumos, como cloreto de potássio ou outros materiais críticos, poderão enfrentar sérios desafios na manutenção da cadeia de suprimentos.
O aumento dos preços ou a dificuldade em garantir esses produtos pode resultar no aumento dos custos de produção, prejudicando a competitividade internacional.
O papel da tecnologia em tempos de crise na cadeia logística
As empresas que atuam no comércio global precisam se adaptar rapidamente à nova realidade.
A volatilidade política e econômica no Oriente Médio afeta diretamente as relações comerciais com essa região.
Para empresas brasileiras que exportam ou importam da região, a diversificação de mercados e fornecedores será crucial para mitigar riscos.
Além disso, cadeias de relacionamentos entre parceiros internacionais poderão ser testadas, exigindo maior transparência e comunicação eficaz para evitar rupturas nos contratos e nas operações logísticas.
Nesse contexto, o papel de soluções tecnológicas voltadas para a gestão de riscos e previsibilidade no comércio exterior, como as oferecidas por plataformas de automação e monitoramento logístico, torna-se cada vez mais vital.
As empresas brasileiras precisam estar preparadas para lidar com cenários instáveis, transformando capacidades em oportunidades e garantindo a resiliência de seus negócios em tempos de crise.
Dados de comércio exterior: Importações brasileiras do Irã
Dados da Logcomex apontam que as importações brasileiras advindas do Irã registraram alta de 74% de janeiro a agosto de 2024, em relação ao mesmo período de 2023.
A produção vegetal, animal e caça registrou um crescimento de 127% no valor FOB no período analisado e 131% no peso em Kg Líquido importados, em comparação com o mesmo período de 2023.
No entanto, a fabricação de produtos farmacêuticos básicos e preparações farmacêuticas registrou queda de 60% no valor FOB importado pelo Brasil e de 61% no peso em Kg Líquido.
Em relação a NCM mais exportada do Irã para o Brasil, refere-se à uvas secas (passas) – NCM 08062000 – que registrou crescimento exponencial de janeiro a agosto, com aumento no FOB de 185% saindo de US$ 864 mil em 2023 para US$ 2,4 milhões de FOB no período analisado em 2024.
O peso também aumentou expressivamente, saindo de 370 para 888 toneladas , representando aumento de 140% em relação ao mesmo período de 2023.
Confira, a seguir, as 5 principais NCMs advindas do Irã, importadas pelo Brasil.
- NCM 0806.20.00 – Uvas secas (passas)
Este produto registrou aumento de 185% no valor FOB exportado pelo Irã ao Brasil, saindo de US$ 864 de janeiro a agosto de 2023, para US$ 2,4 milhões no mesmo período em 2024. O peso exportado também registrou aumento exponencial de 140%, saindo de 370, para 888 toneladas em 2024.
- NCM 2939.19.00 – Outros Alcaloides do opio, seus derivados e sais
Já essa NCM apresentou queda de 50% nas exportações do Irã para o Brasil. De janeiro a agosto de 2023, o FOB movimentado foi de US$ 568 mil, enquanto no mesmo período neste ano, reduziu para US$ 282 mil.
- NCM 0802.52.00 – Pistacios, sem casca, frescos ou secos
Pistacios, sem casca, frescos ou secos – referem-se a sementes comestíveis de pistacheiros, sendo bastante utilizados na culinária.
De janeiro a agosto deste ano, a NCM registrou discreto aumento de 16% nas exportações do Irã para o Brasil, e de 21% no peso em Kg Líquido, comparado com o ano passado. O FOB movimentado passou de US$344 mil, para US$ 401 mil.
- NCM 7013.49.00 – Outros objetos para serviços de mesa e cozinha, exceto aqueles citados anteriormente
Esta é outra NCM que apresentou aumento expressivo de 146% no FOB movimentado, saindo de US$ 74 mil de janeiro a agosto de 2023, para US$ 182 mil no mesmo período de 2024.
- NCM 2008.19.00 – Outras frutas de casca rija, outras sementes, preparadas/conservadas
Já essa NCM apresentou discreto aumento de 16% nas importações brasileiras advindas do Irã. O FOB saiu de US$ 134 de janeiro a agosto de 2023, para US$ 156 no mesmo período de 2024.
Principais estados Brasileiros importadores
O estado de Rondônia (RO) consolida-se como líder dos importadores brasileiros que adquirem mercadorias do Irã.
Com valor FOB importado de US$ 1,3 milhão, o estado registrou 31% de representatividade nas operações de janeiro a agosto de 2024.
A região Sul do Brasil, representada pelo estado de Santa Catarina (SC), aparece em segundo lugar com 23% das operações e valor FOB importado de US$ 969 mil.
Já a região Sudeste do Brasil, representada por São Paulo (SP), ocupa a terceira posição no ranking, com US$ 793 mil e 19% de representatividade. Minas Gerais vem em quarto lugar com FOB importado de US$ 680 mil e 16% das operações.
O Paraná vem apenas na quinta posição, com US$ 210 mil de valor FOB movimentado e 5% de representatividade das operações.
Unidades de desembaraço aduaneiro brasileira
Analisando as três principais unidades de desembaraço aduaneiro no Brasil, temos o Porto de Santos em primeiro lugar com 52% das operações e valor FOB movimentado de US$ 2,1 milhões.
O Porto de São Francisco do Sul vem em segundo lugar com US$ 848,2 mil de valor FOB movimentado e 20% das operações. Já o Aeroporto Internacional de São Paulo / Guarulhos, movimentou o valor FOB de US$ 358 mil de janeiro a agosto de 2024, representando apenas 8% das operações.
É válido salientar que houve mudança nos tipos de modais utilizados entre janeiro a agosto de 2023 e 2024.
Enquanto em 2023, o modal marítimo foi utilizado em 69% das importações, em 2024, no mesmo período analisado, a utilização passou para 91%.
Em contrapartida, enquanto a utilização do modal aéreo de janeiro a agosto de 2023, estava em 37%, no mesmo período deste ano caiu para apenas 9%.
Conclusão
As dificuldades no Oriente Médio representam desafios significativos para empresas globais, mas também abrem novas possibilidades para quem se adaptar e explorar oportunidades emergentes.
O futuro do comércio global depende da capacidade de enfrentar desafios e redirecionar esforços para novos mercados, enquanto mantém a eficiência operacional.
Por isso, o uso de tecnologias avançadas e a diversificação de rotas e parcerias serão fatores essenciais para garantir a continuidade dos negócios brasileiros no comércio internacional.
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