O setor de construção brasileiro iniciou 2025 com sinais contraditórios. Enquanto os dados de importações mostram um crescimento no primeiro trimestre, o Índice de Confiança da Construção (ICST) apresentou queda em abril, atingindo seu menor nível em mais de três anos, segundo dados divulgados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
De acordo com as informações da Logcomex para o primeiro trimestre de 2025, o valor FOB das importações brasileiras no setor de construção alcançou US$ 3,91 bilhões, um crescimento de 5% em comparação ao mesmo período de 2024, quando o valor foi de US$ 3,74 bilhões. O aumento é expressivo quando analisado o volume físico: foram importados 2,80 bilhões de quilogramas no primeiro trimestre de 2025, representando uma alta de 16% em relação aos 2,42 bilhões de quilogramas importados no mesmo período do ano anterior.
Paralelamente, conforme noticiado pela ADVFN em 25 de abril de 2025, o Índice de Confiança da Construção do FGV IBRE caiu 1,4 ponto em abril, atingindo 93,6 pontos, o menor nível desde março de 2022 (quando estava em 93,5 pontos). O índice na média móvel trimestral também recuou 0,4 ponto.
A aparente contradição entre o aumento das importações e a queda na confiança pode ser explicada por diversos fatores. Um deles é a significativa redução no preço médio dos produtos importados, que caiu de US$1,54 por kg em 2024 para US$1,40 por kg em 2025, uma redução de 9,6%.
Esta queda nos preços pode ter incentivado importadores a antecipar compras, aproveitando condições mais favoráveis antes de possíveis oscilações cambiais ou novos aumentos de preços internacionais.
Outro fator relevante é a heterogeneidade do setor. Conforme indicado no relatório da FGV, as empresas de Infraestrutura ainda mantêm otimismo mais elevado que o restante do setor, e há também uma tendência positiva no segmento de Edificações Residenciais, favorecido pelas recentes mudanças no Programa Minha Casa Minha Vida. Estes segmentos específicos podem estar impulsionando as importações enquanto outros enfrentam dificuldades.
Analisando os dados por produto, observa-se que células fotovoltaicas montadas em módulos ou painéis (NCM 85414300) registraram US$ 556,22 milhões em importações no primeiro trimestre de 2025. Este valor representa uma queda de 31% em relação ao mesmo período de 2024 (US$810,87 milhões), porém com aumento de 14% em volume físico, indicando uma forte queda nos preços deste item que pode ter estimulado compras.
Já os cátodos e seus elementos de cobre refinado em formas brutas (NCM 74031100) aparecem com destaque nos dados, com US$ 673,84 milhões importados no primeiro trimestre de 2025, um aumento de 33% em valor e 22% em volume físico comparado ao mesmo período de 2024 (US$ 505,73 milhões).
Conforme os dados da Logcomex, a China aparece como um importante fornecedor para o setor de construção brasileiro, liderando o ranking de países exportadores para o Brasil. Outros países com participação significativa incluem Chile, Estados Unidos, Alemanha, Peru e Itália.
Em termos de modais logísticos, o transporte marítimo continua predominante, respondendo por 87,97% do valor FOB das importações em 2025, seguido pelo modal aéreo com 10,83% e pelo rodoviário com 1,08%. Em comparação com 2024, houve pequeno aumento na participação dos transportes aéreo (de 10,32% para 10,83%) e rodoviário (de 0,79% para 1,08%).
No cenário nacional, o estado de Santa Catarina lidera como principal destino das importações do setor, com 30% do total importado no primeiro trimestre de 2025 (US$1,1 bilhão). São Paulo aparece em segundo lugar com 25% (US$ 978,8 milhões), seguido por Rio de Janeiro com 10% (US$ 398,3 milhões), Minas Gerais com 8% (US$ 308 milhões) e Paraná com 5% (US$ 182 milhões).
O Porto de Santos destaca-se como principal porta de entrada, concentrando 29% das importações (US$ 1,1 bilhão), seguido pelo Porto de São Francisco do Sul com 20% (US$ 744 milhões) e o Porto do Rio de Janeiro com 12% (US$ 469,4 milhões).
O contraste entre o crescimento das importações e a queda na confiança dos empresários reflete a complexidade do momento atual da construção civil brasileira. Segundo os dados da FGV divulgados pela ADVFN, a queda na confiança foi influenciada tanto pela piora na percepção sobre o momento atual quanto pelas perspectivas futuras menos otimistas.
Ana Maria Castelo, Coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, explicou na notícia da ADVFN que “a melhora observada no mês de março não se sustentou: em abril, a confiança diminuiu como resultado de uma percepção mais negativa sobre os negócios correntes, assim como sobre o cenário dos próximos meses.”
O Índice de Situação Atual (ISA-CST) caiu 1,6 ponto, para 92,6 pontos, menor nível desde fevereiro de 2022, enquanto o Índice de Expectativas (IE-CST) cedeu 1,2 ponto, atingindo 94,8 pontos. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) da Construção também recuou 0,8 ponto percentual, chegando a 78,7%.