Quarto maior produtor agrícola do mundo, o Brasil sustenta sua base de exportações na produção de alimentos. Mas a enorme dependência de fertilizantes importados coloca o país em uma situação de vulnerabilidade econômica.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que nas últimas duas décadas a produção nacional de fertilizantes cresceu menos de duas vezes, enquanto a importação se multiplicou por três.
O Brasil é o maior importador mundial de fertilizantes, adquirindo 87% do que consome de outros países. De acordo com o Conselho Nacional de Fertilizantes (Confert), o país importa 75% dos fosfatados, 85% dos nitrogenados e 95% do potássio.
Em 2022, o governo federal laçou o Plano Nacional de Fertilizantes (PFN), para estimular a produção nacional do insumo, com a meta de chegar em 2050 com produção doméstica capaz de atender de 45% a 50% da demanda interna.
Uma análise dos números mais recentes, no entanto, indica que o problema ainda está longe de ser sanado.
Segundo dados consolidados pela Logcomex, nos nove primeiros meses de 2024, o volume de importação de fertilizantes minerais ou químicos, nitrogenados, fosfatados ou potássicos (SH4 3102, 3103 e 3104) superou as 31,8 milhões de toneladas, recorde histórico para o período.
Flutuações nas cotações internacionais, crises geopolíticas e barreiras comerciais afetam diretamente o custo e a disponibilidade de fertilizantes e consequentemente da produção agrícola no país.
Cerca de 22% do total de importações de fertilizantes realizadas entre janeiro e setembro deste ano vieram da Rússia. A dependência dos insumos russos fez com que os custos de produção disparassem em 2022, em meio à crise geopolítica instaurada com o início da guerra da Ucrânia.
No contexto atual, a escalada nos conflitos no Oriente Médio preocupa agricultores e investidores diante da dependência brasileira de fertilizantes nitrogenados de países da região.
Embora o principal fornecedor de ureia (NCMs 3102.10.10 e 3102.10.90) para o o Brasil seja a Nigéria, 17,6% do valor importado do produto veio do Catar, enquanto outros 17% de Omã. Outros 9,3% referem-se a importações da Arábia Saudita, Barein, Egito e Emirados Árabes Unidos.
Apesar do incentivo do governo ao desenvolvimento da produção nacional de fertilizantes, o desafio para os próximos anos envolve investimentos significativos em mineração, industrialização e pesquisa.