Um fenômeno silencioso está comprometendo a competitividade das empresas brasileiras no comércio exterior: a falta de autonomia e inteligência na gestão cambial. Segundo informações divulgadas no portal Carta Capital, cerca de 70% dos exportadores brasileiros ainda convertem dólares em momentos desfavoráveis do mercado, gerando perdas que variam entre 2% e 5% do volume total transacionado.
Em empresas com receita anual de US$5 milhões, isso representa um prejuízo de até US$250 mil que simplesmente evapora devido a ineficiências na estratégia de câmbio.
O problema, conforme aponta o mesmo estudo que cruzou dados públicos do Banco Central com o comportamento de empresas que exportam, está enraizado em modelos ultrapassados de gestão cambial, dependência excessiva das regras fixas de bancos tradicionais e falta de estrutura para gerir o câmbio com autonomia estratégica.
Segundo o estudo, dentre os entraves estruturais que afetam os exportadores brasileiros está a limitação na gestão autônoma de recursos em moeda estrangeira. No Brasil, os exportadores ainda são forçados a internalizar recursos imediatamente, mesmo quando as condições cambiais não são favoráveis. Esta obrigatoriedade impede que as empresas adotem estratégias mais sofisticadas, como manter recursos em moeda estrangeira aguardando momentos mais propícios para conversão ou realizar pagamentos internacionais de forma ágil.
O impacto da falta de autonomia cambial
Para além da perda direta na receita, a falta de autonomia cambial gera outro problema crítico: a imprevisibilidade no fluxo de caixa. Em um cenário global marcado por volatilidade, oscilações de juros e variações cambiais abruptas, não ter controle sobre o momento ideal para converter moeda estrangeira pode significar a perda de oportunidades de negócios inteiros.
Enquanto isso, países concorrentes como México e Polônia oferecem estruturas mais modernas, incluindo contas multimoedas, maior liberdade de negociação e ferramentas de hedge acessíveis – recursos que deveriam ser básicos, mas que no Brasil ainda são tratados como luxo no mercado de comércio exterior.
Os executivos à frente de operações de comércio exterior precisam encarar a gestão cambial como prioridade estratégica. O caminho para maximizar receitas passa pela adoção de tecnologias avançadas de monitoramento cambial, pelo engajamento junto a órgãos reguladores, por maior flexibilidade nas operações e pela transformação cultural de suas equipes.