Até a quarta semana de abril de 2025, o Brasil acumulou um superávit comercial de US$ 7,05 bilhões, representando um avanço de 8,2% na comparação com igual período do ano anterior, conforme dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Esse resultado pontual de abril, embora positivo, ainda não compensou o desempenho negativo acumulado nos primeiros meses do ano, quando o saldo comercial registrou queda de 32,7% em relação ao mesmo intervalo de 2024.
A dinâmica comercial de abril mostra exportações totalizando US$ 26,01 bilhões, com crescimento de 11,0%, enquanto as importações avançaram em ritmo ligeiramente superior, 12,1%, somando US$ 18,96 bilhões. Com isso, a corrente de comércio – indicador que soma os fluxos de entrada e saída – alcançou US$ 44,97 bilhões, representando um avanço de 11,4% e sinalizando maior intensidade nas trocas comerciais brasileiras com o exterior.
No acumulado entre janeiro e a quarta semana de abril de 2025, porém, o cenário revela desequilíbrio entre os fluxos comerciais: enquanto as exportações cresceram apenas 1,8%, atingindo US$ 103,32 bilhões, as importações registraram expansão significativa de 13,2%, chegando a US$ 86,30 bilhões. Essa disparidade resultou em um superávit comercial de US$ 17,03 bilhões no período, 32,7% inferior ao registrado no ano anterior, evidenciando pressões no saldo comercial brasileiro.
Análise detalhada dos dados da Logcomex para o primeiro trimestre de 2025 revela dimensões importantes dessa tendência. As importações brasileiras somaram US$ 67,33 bilhões entre janeiro e março, expressivo crescimento de 13,7% em comparação com os US$ 59,21 bilhões do mesmo período de 2024. Curiosamente, o volume físico importado cresceu em ritmo menor, 4,5%, totalizando 42,15 milhões de toneladas, o que sinaliza uma valorização dos produtos comprados pelo Brasil no exterior.
Essa diferença entre crescimento de valor e de volume é confirmada pelo aumento do preço médio por quilo dos produtos importados, que saltou de US$ 1,47 em 2024 para US$ 1,60 em 2025 – incremento de 8,8%. Tal valorização pressiona o valor total das importações mesmo com aumento de volume mais moderado, impactando diretamente o saldo comercial brasileiro.
Na origem dos produtos importados, a China mantém sua posição preponderante, respondendo por 35% do total (US$19,06 bilhões), seguida pelos Estados Unidos com 19% (US$10,31 bilhões). Alemanha e Argentina completam as quatro principais origens, com 6% (US$ 3,40 bilhões) e 5% (US$ 2,94 bilhões), respectivamente, destacando-se a relevância do Mercosul e da União Europeia nas relações comerciais brasileiras.
Setorialmente, as importações apresentaram mudanças em sua composição: fabricação de produtos químicos (aumento de 14% no FOB), fabricação de máquinas e equipamentos (aumento de 11% no FOB) e fabricação de produtos informáticos, eletrônicos e ópticos (aumento de 4% no valor FOB).
Contrastando com as importações, o panorama das exportações brasileiras no primeiro trimestre de 2025 demonstra maior estabilidade em valor, embora com mudanças importantes na composição e destino. Segundo dados da Logcomex, o Brasil exportou US$ 77,31 bilhões entre janeiro e março, praticamente mantendo o patamar do ano anterior (-0,5%). O volume físico, entretanto, registrou contração de 2,6%, somando 178,38 milhões de toneladas, indicando leve valorização dos produtos brasileiros no mercado internacional.
A China continuou como o principal destino das exportações brasileiras no primeiro trimestre, representando 26% do total (US$ 19,08 bilhões), enquanto os Estados Unidos ocupam o segundo lugar com 13% (US$ 9,66 bilhões).
Entre os principais produtos exportados, as commodities tradicionais mantêm protagonismo, mesmo com recuos em volume e valor. Óleos brutos de petróleo, apesar da queda de 14% em relação ao primeiro trimestre de 2024, ainda somaram expressivos US$ 9,69 bilhões.
A soja, outro pilar das exportações brasileiras, recuou 10%, atingindo US$ 8,72 bilhões, possivelmente refletindo pressões de preço no mercado internacional ou questões sazonais. Os minérios de ferro, por sua vez, apresentaram retração mais acentuada, de 25%, totalizando US$ 5,31 bilhões. Essas quedas nos principais produtos de exportação explicam parcialmente a estabilidade no valor total exportado, mesmo com aumento nos preços médios.
A infraestrutura de transportes continua desempenhando papel determinante no comércio exterior brasileiro, com amplo predomínio do modal marítimo. No primeiro trimestre de 2025, o transporte por via marítima representou 70,9% das importações em valor FOB, seguido pelo modal aéreo (20,2%) e rodoviário (4,1%). Nas exportações, a dependência do transporte marítimo é ainda mais expressiva, correspondendo a 87,5% do valor exportado, com participações menores do rodoviário (6,6%) e aéreo (5,5%).
Nesse contexto logístico, o Porto de Santos reafirma sua centralidade como principal hub do comércio exterior brasileiro, respondendo por 30% das importações (US$ 18,46 bilhões) e 31% das exportações (US$ 24,18 bilhões) no primeiro trimestre. Essa concentração evidencia tanto a importância estratégica do complexo portuário santista quanto os desafios de diversificação da infraestrutura logística nacional.
No âmbito da distribuição regional, São Paulo permanece como epicentro do comércio exterior brasileiro, liderando tanto nas importações, com 33% do total nacional (US$ 22 bilhões), quanto nas exportações, com 20% (US$ 15,34 bilhões). Santa Catarina surge como o segundo maior estado importador, com 13% (US$ 8,73 bilhões), enquanto Minas Gerais ocupa essa posição nas exportações, com 13% (US$ 9,94 bilhões). O Rio de Janeiro completa o trio de líderes em ambas as operações, respondendo por 10% das importações (US$ 6,83 bilhões) e 11% das exportações (US$ 8,69 bilhões), reforçando a concentração das atividades de comércio exterior no centro-sul do país.
O descompasso entre o crescimento acelerado das importações e a relativa estagnação das exportações reflete, em grande medida, o aquecimento da economia doméstica frente a um cenário internacional mais desafiador. A demanda por produtos estrangeiros, especialmente bens de consumo e insumos industriais, cresce em ritmo vigoroso, enquanto os principais produtos da pauta exportadora enfrentam pressões de preço e volume no mercado global.
Sinais promissores emergem, contudo, com o crescimento das exportações em abril, particularmente na indústria de transformação, que avançou 16,6%, podendo indicar tendência de recuperação para os próximos meses. No setor agropecuário, a expansão de 10,7% nas vendas externas de abril demonstra resiliência, mesmo com as quedas registradas em produtos tradicionais como trigo e centeio.
As variações nos preços médios também desempenham papel crucial na configuração atual da balança comercial. De acordo com a Logcomex, houve aumento de 8,8% no preço médio por quilo dos produtos importados (de US$ 1,47 para US$ 1,60), o que pressiona o valor total das compras externas, enquanto nas exportações o discreto incremento de US$ 0,42 para US$ 0,43 reforça a percepção de que o Brasil ainda depende significativamente da exportação de produtos primários e de menor valor agregado.
No horizonte dos próximos meses, o principal desafio para o comércio exterior brasileiro será equilibrar os fluxos de importação e exportação, especialmente considerando as pressões sobre o saldo comercial.
O desempenho da balança comercial no restante de 2025 dependerá crucialmente tanto de fatores domésticos – como a trajetória da atividade econômica e da taxa de câmbio – quanto de condições externas, em particular o comportamento dos preços das commodities e o ritmo de crescimento dos principais parceiros comerciais. A capacidade de aproveitar o bom momento de abril para reverter a tendência de queda no superávit acumulado será determinante para o resultado final do ano.