Guerra comercial: o que o novo tarifaço dos EUA revela sobre o futuro do comércio global

7 de abril de 2025

Guerra comercial: o que o novo tarifaço dos EUA revela sobre o futuro do comércio global

Em abril de 2025, os Estados Unidos anunciaram um novo pacote tarifário sobre produtos importados de mais de 150 países, dentro de uma estratégia voltada à reindustrialização e ao equilíbrio fiscal. 

A medida, oficializada no chamado “Dia da Libertação”, afetou de forma ampla parceiros comerciais estratégicos — com alíquotas variando de 10% a 49%, conforme o nível de exposição e competição percebida.

Entre os mais impactados estão países asiáticos, como China (34%), Vietnã, Taiwan e Camboja (até 49%). O Brasil foi incluído na lista, mas com uma tarifa considerada moderada, de 10%.

Linha do tempo: decisões e fundamentos

Desde a campanha eleitoral, a atual liderança americana já indicava que revisaria a política comercial com base em três pilares principais: recuperação da competitividade da indústria doméstica, contenção da dívida pública — atualmente em torno de US$ 37 trilhões — e reposicionamento estratégico da balança comercial como instrumento geopolítico.

A primeira medida marcante – e sentida imediatamente pelo Brasil, foi a implementação de taxas de 25% para o aço importado

Segundo a Logcomex,  a exportação de produtos ligados à fabricação de ferro e aço do Brasil para os Estados Unidos, em 2024, foi equivalente a um FOB de US$ 5, bilhões, o que representa uma diminuição de 6,5% nas exportações em relação ao ano anterior.

Top-3 NCMs de ferro e aço exportado pelo Brasil para os EUA em 2024:

  1. 7207.12.00: Outros produtos semimanufaturados de ferro ou aço
    1. FOB: US$ 2,77 bilhões (-26% em relação ao ano anterior)
  2. 7201.10.00: Ferro fundido bruto
    1. FOB: US$ 1,42 bilhões (+4% em relação ao ano anterior)
  3. 7224.90.00: Produtos semimanufaturados de outras ligas de aço
    1. FOB: US$ 738 milhões (-28% em relação ao ano anterior)

Especialistas também apontam motivações ligadas ao cenário macroeconômico. Cerca de US$ 9,2 trilhões em títulos da dívida americana vencem ainda em 2025, o que torna relevante qualquer medida capaz de estimular a demanda por Treasuries de longo prazo e reduzir a pressão sobre os juros — uma forma indireta de baratear o custo da rolagem dessa dívida.

Reação imediata dos mercados

A resposta chinesa foi rápida. No dia seguinte ao anúncio, o país impôs tarifas de 34% sobre produtos americanos, focando principalmente itens dos setores agrícola e tecnológico. A escalada das tensões levou a um recuo expressivo nas principais bolsas asiáticas e europeias:

Setores altamente expostos à cadeia global de suprimentos, como eletrônicos, automotivo e bens de consumo, registraram perdas bilionárias em valor de mercado.

Não durou muito e alguns países já seguem a cartilha planejada pelos Estados Unidos, como é o caso de Taiwan. O país asiático propôs tarifa zero com os norte-americanos, visando mais investimentos e apoio na região.

Impactos para o Brasil: efeitos diretos e indiretos

No caso brasileiro, o impacto direto é limitado, pelo menos neste primeiro momento. A tarifa de 10% imposta pelos EUA se mantém próxima das alíquotas vigentes em acordos anteriores. Todavia, os impactos de tarifas já são sentidas nas exportações brasileiras para os Estados Unidos, que caíram 13,3% em março, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços​.

Além disso, a desaceleração da demanda chinesa, provocada pelas sanções, reduziu significativamente as compras do país asiático. As exportações brasileiras para China, Hong Kong e Macau recuaram 25,5% no mesmo período​, afetando produtos como:

  • Soja (-31,6%)
  • Minério de ferro (-29%)
  • Petróleo bruto (-10,7%)​

Oportunidades em aberto

Por outro lado, há espaço para estratégias comerciais mais ambiciosas por parte do Brasil. Com os EUA dificultando o acesso de produtos asiáticos, surgem nichos que podem ser preenchidos por fornecedores brasileiros — como têxteis, alimentos industrializados, celulose e peças automotivas.

O movimento de diversificação comercial da China também abre oportunidades. O país já sinaliza maior interesse por acordos bilaterais com países da América Latina. O Brasil pode ser uma alternativa estratégica para setores como energia limpa, mineração e agroindústria.

Segundo a Logcomex, no primeiro bimestre de 2025, o Brasil ampliou em 47,2% as suas importações da China em relação ao mesmo período do ano anterior. O valor FOB de US$ 14 bilhões denota que o Brasil busca no país asiático uma válvula de escape para as principais dependências que surgiam dos Estados Unidos.

Dados da balança comercial de janeiro a março de 2025 reforçam essa tendência: a corrente de comércio com a Argentina cresceu 29,6%, e com os EUA, 6,6%​. A indústria de transformação brasileira também ampliou suas exportações em 5,6% no período​.

Desafios e atenção redobrada

O cenário, apesar de complexo, apresenta oportunidades. A OCDE estima que o crescimento global de 2025 será de 3,0%, sinalizando uma leve desaceleração frente a 2024​. Já a UNCTAD alerta para riscos geopolíticos que podem reduzir o crescimento do comércio mundial para apenas 2% ao ano​.

As oportunidades de exportação mostram-se mais claras quando observamos os 10 principais produtos mais enviados para os Estados Unidos em 2025. As pastas químicas de madeira (NCM 4703.29.00), 6º produto mais exportado do Brasil para os EUA, registrou uma queda de 27% do seu valor FOB no primeiro bimestre de 2025, segundo a Logcomex. O total exportado de US$ 162 milhões é muito abaixo do que o Brasil está exportando para a China: US$ 713 milhões. Segundo a Logcomex, este aumento de envio de pastas químicas de madeira para o país asiático representa um aumento de 32% no primeiro bimestre de 2025 em relação a 2024.

Neste contexto, o Brasil precisa evitar a complacência. Sem avanços em infraestrutura, política industrial e acordos comerciais, o país corre o risco de perder espaço frente a concorrentes mais ágeis — especialmente em setores onde a China já atua fortemente em regiões como África e América Latina.

A nova onda de medidas tarifárias representa uma inflexão no cenário global de comércio. Para o Brasil, os próximos meses exigirão uma abordagem estratégica, e com muita inteligência, capa de equilibrar riscos e oportunidades.

A capacidade de se posicionar como parceiro confiável, com cadeias produtivas eficientes e relações diplomáticas bem articuladas, pode transformar um momento de instabilidade internacional em uma janela concreta de crescimento para o comércio exterior brasileiro.


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