As perspectivas de mudanças na política comercial global com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos ainda não alteraram a trajetória dos fluxos comerciais entre Brasil e China.
Segundo dados da Logcomex para o primeiro quadrimestre de 2025 e o relatório Icomex da FGV, as importações brasileiras de produtos chineses cresceram 28,1%, enquanto as exportações para o país asiático registraram queda de 12,1%, continuando tendências estruturais no comércio bilateral, apesar das recentes mudanças na política comercial global.
As compras de produtos chineses alcançaram US$ 24,06 bilhões no período, contra US$ 18,78 bilhões no mesmo intervalo de 2024. No sentido inverso, as exportações brasileiras para a China somaram US$ 28,45 bilhões entre janeiro e abril de 2025, abaixo dos US$ 32,39 bilhões do primeiro quadrimestre de 2024. Esses números evidenciam um estreitamento do superávit comercial brasileiro com o principal parceiro comercial do país.
O volume físico (em kg) de importações chinesas apresentou aumento de 30,7% – passando de 6,88 mil toneladas para 9 mil toneladas.
Nas importações, o setor de produtos informáticos, eletrônicos e ópticos lidera com US$ 4,03 bilhões no primeiro quadrimestre de 2025, seguido por produtos químicos (US$ 3,53 bilhões) e máquinas e equipamentos (US$ 3,52 bilhões). Um dado surpreendente é o aumento de 1.280% nas importações de “outro equipamento de transporte”, que saltaram de US$ 220,7 milhões para US$ 3,04 bilhões.
A pauta exportadora brasileira segue concentrada em commodities, com a produção vegetal, animal e caça totalizando US$ 11,18 bilhões em 2025, queda de 11% em relação ao primeiro quadrimestre de 2024 (US$ 12,5 bilhões). A soja mantém-se como principal produto exportado para a China (US$ 10,80 bilhões, discreta queda de 3%), seguida pelo petróleo bruto (US$ 5,29 bilhões, queda de 27%) e minérios de ferro (US$ 5,18 bilhões, redução de 22%), evidenciando a continuidade da alta concentração em produtos primários.
Geograficamente, São Paulo responde por 34% das importações chinesas, seguido por Santa Catarina (21%) e Amazonas (10%), enquanto Minas Gerais (15%), Mato Grosso (13%) e Rio de Janeiro (12%) destacam-se nas exportações, refletindo a especialização regional na produção de commodities.
O Indicador de Comércio Exterior (Icomex) divulgado na última sexta-feira (16 de maio) pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) aponta que a trégua recente nas tarifas entre EUA e China afastou cenários mais “catastróficos”, sugerindo a possibilidade de um acordo mais duradouro, ainda que com custos mais elevados que no período pré-Trump.
Segundo o relatório Icomex, na análise dos agregados de exportações e importações no comércio com a China e com os Estados Unidos, não é possível afirmar que esses efeitos já se apresentem. Os contratos de comércio exterior não são de curtíssimo prazo e o cenário de incertezas gerado pela dança das tarifas não é propício a grandes decisões de mudanças nos fluxos de comércio.
Para empresas brasileiras que operam no comércio internacional, os dados indicam a continuidade da forte dependência do mercado chinês, mas com um sinal de alerta pela deterioração do saldo comercial. A concentração em commodities com preços em queda sugere a necessidade de diversificação da pauta exportadora, enquanto o crescimento das importações chinesas em setores de maior valor agregado revela oportunidades e desafios competitivos para a indústria nacional.