A recente escalada no conflito entre Israel e Irã atingiu um ponto crítico com a aprovação pelo parlamento iraniano do fechamento do Estreito de Ormuz, principal rota marítima para o escoamento do petróleo mundial.
A medida representa uma resposta direta ao bombardeio americano contra três instalações nucleares iranianas, ocorrido no último sábado (21/06), e coloca em risco o fluxo de aproximadamente 20% a 30% da oferta global diária de petróleo e derivados.
O cessar-fogo anunciado pelo presidente Donald Trump trouxe alívio temporário aos mercados globais, com o petróleo WTI registrando queda de 4,2%.
Contudo, a recente trégua (24/06) já enfrenta sérias contestações, com Israel e Irã acusando-se mutuamente de violações: o governo israelense alega ataques que mataram quatro pessoas em Bersabá e ordenou uma “resposta firme”, enquanto Teerã nega e acusa Tel Aviv de assassinar um cientista nuclear antes mesmo da trégua ser anunciada.
Impacto no comércio marítimo
O Estreito de Ormuz, com apenas 55 quilômetros de largura entre Omã e o Irã, representa um dos pontos mais estratégicos para o comércio global de energia. Estima-se que sejam transportados aproximadamente 20 milhões de barris de petróleo bruto e derivados por dia através do estreito. Grandes armadores internacionais já sinalizaram preocupação com o agravamento da situação.
O ministério de navegação da Grécia emitiu recomendação para que empresas do país evitem a rota, seguindo padrão semelhante ao observado no Mar Vermelho, onde ataques dos rebeldes houthis provocaram redução no tráfego comercial nos últimos meses.
Efeitos para o Brasil
A importância do Estreito de Ormuz não se limita às questões energéticas. Sem acesso a essa passagem, as operações brasileiras, por exemplo, ficariam travadas, ampliando custos logísticos, prazos de entrega e riscos para toda a cadeia de suprimentos nacional, especialmente para o agronegócio e setores ligados à mineração e ao processamento de proteína animal.
De acordo com dados do Shipment Intel, da Logcomex, de janeiro a maio de 2025 foram importados 1.583 Teus, em rotas que passam pelo Catar, Barein, Emirados Árabes Unidos, Irã, Iraque e Kuwait.
Dentre os produtos importados, destaca-se “polímeros de etileno, em formas primárias”, seguido por “polímeros de propileno ou de outras olefinas, em formas primárias”. Em terceiro lugar, vem “coque de petróleo, betume de petróleo e outros resíduos dos óleos de petróleo ou de minerais betuminosos”.
Segundo dados do Export Intel, da Logcomex, nas exportações de janeiro a maio de 2025 foram registradas 6 milhões de toneladas de mercadorias exportadas para o Catar, Barein, Emirados Árabes Unidos, Irã, Iraque e Kuwait.
Os principais produtos exportados foram: milho (HS 1005), totalizando 1,7 milhão de toneladas (28,03% do total exportado), seguido por soja, mesmo triturada (HS 1201), com (27,87%), e açúcares de cana ou de beterraba e sacarose (HS 1701), com (22,3%).
As rotas mais utilizadas para o transporte foram, principalmente, Santos–Jebel Ali (16,08%), Paranaguá–Bandar Emam Khomeini (15,87%) e Santos–Um Qasr (7,93%).
Os principais destinos para as cargas brasileiras no Oriente Médio foram o Irã (48,35%), seguido por Emirados Árabes Unidos (32,99%) e Iraque (18,66%), refletindo a importância comercial e logística desses parceiros para o comércio exterior brasileiro.
Efeitos no mercado energético
Os recentes ataques americanos na região do Estreito de Ormuz provocaram uma reversão significativa na tendência de queda do petróleo. O barril do Brent, que havia recuado para US$ 64,45 em maio (menor valor em 24 meses), reagiu imediatamente após os conflitos.
Dados atualizados mostram que o petróleo Brent está sendo negociado hoje a aproximadamente US$ 66 por barril, refletindo a volatilidade do mercado energético diante das tensões geopolíticas.
A ameaça de interrupção do fluxo marítimo nesse estreito estratégico, por onde passa cerca de 20% a 30% do comércio global de petróleo, mantém os preços sensíveis a qualquer escalada militar na região.
A Goldman Sachs estima que o barril poderia alcançar US$ 110 caso os fluxos sejam reduzidos em 50% por um mês.
Evolução da balança comercial de petróleo e derivados
Segundo dados do MDIC/SECEX, nos cinco primeiros meses de 2025, as exportações de óleo bruto totalizaram US$ 18,3 bilhões, enquanto nas importações o gasóleo liderou o ranking com US$ 3,53 bilhões.
Os principais produtos comercializados destacam não apenas a relevância do óleo bruto e do gasóleo, mas também uma ampla diversidade de derivados e insumos estratégicos para a economia nacional.
Exportações: destaque para o óleo bruto
O destaque absoluto nas exportações em 2025 foi o óleo bruto de petróleo (NCM 27090010), com US$ 18,3 bilhões, ligeira queda frente aos US$ 20,5 bilhões registrados em 2024.
Os demais derivados e insumos estratégicos para a economia nacional apresentam menor destaque, mas continuam presentes com destaque para:
- Gasóleo (óleo diesel): US$ 198,9 milhões (2025) vs US$ 261,5 milhões (2024).
- Coque de petróleo não calcinado: US$ 177,9 milhões (2025) vs US$ 101,5 milhões (2024).
Importações: gasóleo e derivados ganham destaque
O gasóleo (óleo diesel) dominou as importações com US$ 3,53 bilhões em 2025 (leve crescimento em relação aos US$ 3,34 bilhões de 2024).
O óleo bruto, mesmo com destaque nas exportações, registrou importações significativas, totalizando US$ 2,76 bilhões em 2025 (redução frente aos US$ 4,06 bilhões de 2024).
Os demais derivados e insumos especializados, como aditivos e preparações para lubrificantes e betumes de petróleo, apresentaram destaque no fluxo de importações ao longo do ano.
Insights estratégicos para o comércio e a indústria
A manutenção de uma matriz energética e de insumos tão pautada por produtos de petróleo e derivados evidencia a vulnerabilidade do país às instabilidades geopolíticas.
A possível interrupção do Estreito de Ormuz poderia afetar diretamente o abastecimento e o custo de insumos críticos, prejudicando setores estratégicos como transporte, indústria e agronegócio.
Além do impacto direto nas importações, um fechamento do Estreito poderia prejudicar as exportações brasileiras para a região — especialmente para Catar, Barein, Emirados Árabes Unidos, Irã, Iraque e Kuwait.
Nesse caso, mais de 400 empresas exportadoras seriam afetadas, comprometendo operações com produtos como milho, açúcares e soja.
O papel da inteligência comercial e alternativas de sourcing
Em momentos de forte incerteza geopolítica, soluções de inteligência comercial tornam-se essenciais para garantir a continuidade e eficiência do supply chain.
Soluções como o NCM Intel, da Logcomex, ganham destaque ao permitir a identificação rápida de fornecedores alternativos para gasóleo e demais derivados críticos, ampliando as opções para as operações de importação e mitigando riscos ligados a uma possível interrupção do tráfego no Estreito de Ormuz.
Complementarmente, nossa solução Shipment Intel possibilita o mapeamento de novas rotas que evitam o Estreito de Ormuz, garantindo a continuidade operacional da sua empresa.
Para monitoramento em tempo real dos embarques já em trânsito, o LogManager oferece acompanhamento detalhado, permitindo antecipação estratégica a eventuais interrupções logísticas.
Fontes: JOC, Goldman Sachs, JPMorgan, Statista, ComexStat.